Com câmera e vigilante, fãs do PR gastam R$ 8.000 por outdoor pró-Bolsonaro

Carlos Ohara

Colaboração para o UOL, em Campo Mourão (PR)

  • Carlos Ohara/UOL

Uma foto desfocada, resultado da baixa resolução da imagem, do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) estampada em um outdoor de 6 metros de altura por 12 metros de largura - com marcas de pichação removida parcialmente, onde ainda possível ler as palavras "machista" e "fascista" – reúne um forte esquema de segurança em torno de si.

O painel está cercado por um sistema que inclui monitoramento de câmeras com sensores infravermelho, ronda de vigilantes motorizados e troca de informações em tempo real sobre a integridade do painel, iluminado durante a noite por potentes refletores. Toda a movimentação no local é registrada e arquivada durante 24 horas em discos rígidos e podem ser acessadas a qualquer momento. 

A operação de proteção foi deflagrada no último final de semana em Campo Mourão, cidade localizada a 460 km de Curitiba, com cerca de 100 mil habitantes e um dos principais polos de produção agrícola do Paraná.

O plano de segurança do painel teve início após dois outdoors semelhantes terem sido pichados. Uma das peças publicitárias chegou a ser chamuscada por um foco de incêndio intencional. Os casos foram registrados e estão sendo investigados por policiais da 16ª Subdivisão Policial (SDP) da cidade. 

Os custos do sistema de segurança estão sendo financiados por produtores rurais, empresários e simpatizantes locais pré-candidato a Presidente da República. Dois outros outdoors, de três metros de altura por nove metros de largura cada um, também estão espalhados pela cidade e, nos próximos dias, mais um será instalado na área central do município. 

Apesar de defender as teses do deputado carioca, o grupo, que mantém contato via WhatsApp, evita expor suas opiniões publicamente. Eles temem que o posicionamento político possa atrapalhar negociações com clientes.

Dono de uma distribuidora de extintores de incêndio, o comerciante Ednaldo Manoel Maniezo, 40, é apontado pelos demais como porta-voz do grupo, que conta com cerca de 250 pessoas.

Claudio Ohara/UOL
Câmera de vigilância instalada em outdoor
Maniezo diz que até o momento foram gastos cerca de R$ 8.000 com a instalação dos outdoors, arrecadados por meio de vaquinhas virtuais. Pessoalmente, ele diz já ter desembolsado R$ 400. "Só queremos divulgar o deputado. Com as câmeras, estamos protegendo o nosso patrimônio", afirma o comerciante.

Os valores divulgados não levam em consideração compra de equipamentos e serviços de monitoramento. O serviço de ronda teria sido doado pelo dono de uma empresa que atua no setor. Gravadores digitais, câmeras, refletores e outros equipamentos pertencem a um produtor rural.

O UOL fez uma cotação para instalação de outdoors com os mesmos formatos. Mensalmente, no caso das peças de 3 metros por 9 metros, o valor da locação e fornecimento de papel custaria em média de R$ 750. O painel maior, confeccionado em lona, teria um aluguel estimado em R$ 3.500 pelo ponto e outros R$ 1.500 para a pintura. 

Em Campo Mourão, além da foto do deputado, o outdoor traz o nome da cidade e as frases "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos" e "Pela honra, moral e ética".

Os apoiadores de Bolsonaro pretendem manter o material exposto "até quando for possível". Eles não revelam, entretanto, se houve alguma consulta ao deputado antes da adoção da peça publicitária.

O que motiva o grupo, segundo Maniezo, é o apoio às teses defendidas por Bolsonaro. "Dar mais autoridade para polícia e dar 'carta branca' para eles. Ficam com mãos amarradas e não pode dar um tiro no vagabundo", diz o porta-voz. E acrescenta: "Conceito de família: homem, mulher, filhos. Sou contrário a ficar ensinando esse negócio de gênero aí: está tudo perdido".

Maniezo acredita que se Bolsonaro chegar à Presidência esses temas serão tratados de outra forma. "Ele não vai ficar trocando cargo por apoio e vai resolver", opina.

Legalidade

De acordo com a assessoria jurídica do TRE-PR (Tribunal Regional Eleitoral), não há registro no órgão de qualquer representação em relação a outdoors de pré-candidatos à Presidência neste ano no estado. Mas o entendimento da assessoria jurídica é de que a competência sobre a legalidade de exposição destes painéis deve ser encaminhada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em Brasília, por se tratar de campanha presidencial.

Representações do Ministério Público Eleitoral questionam a instalação dos painéis em vários estados brasileiros. Em um dos casos, na Bahia, a exposição das peças publicitárias foi considerada legal pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em decisão monocrática do ministro Luiz Fux, assinada em janeiro deste ano. O ministro do TSE entendeu que a lei eleitoral de 2015 só considera propaganda antecipada o pedido explícito de voto.

Reportagem do jornal "Folha de S.Paulo" contabilizou, em janeiro, pelo menos uma centena cidades que já receberam outdoors com a imagem do deputado e frases que exaltam sua carreira, bancados por grupos de direita.

A propaganda eleitoral só será liberada a partir de 16 de agosto.

Para evitar eventuais sanções da Justiça Eleitoral, o PSL tem tratado manifestações em favor de Bolsonaro como atos espontâneos da sociedade civil que não estão sob o controle do partido. O pré-candidato costuma agradecer às manifestações de apoio por meio de suas redes sociais.

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