Mesmo desgastado, Crivella é cabo eleitoral cobiçado; filho é pré-candidato
Bernardo Barbosa
Do UOL, em São Paulo
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Gabriel de Paiva - 7.abr.2017/Agência O Globo
O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), em abril do ano passado
Mesmo com o desgaste provocado por dois pedidos de impeachment e prestes a enfrentar duas CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara Municipal, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), continua sendo um cabo eleitoral cobiçado na corrida pelo governo fluminense e lançará o filho, Marcelo Hodge Crivella, como candidato a deputado federal em outubro.
A importância do apoio de Crivella na disputa estadual não se explica apenas por sua atual posição como prefeito do Rio, mas também por seu desempenho em eleições passadas. Ele é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e tem força entre o eleitorado evangélico --no estado, quase metade da população segue alguma denominação evangélica, segundo o IBGE.
O próprio Crivella já tentou chegar ao Palácio Guanabara em duas ocasiões. Perdeu em ambas, mas teve votações expressivas. Em 2006, recebeu 1,5 milhão de votos e ficou em terceiro lugar. Em 2014, foi vencido no segundo turno por Luiz Fernando Pezão (MDB) e teve mais de 3 milhões de votos, patamar similar ao de quando conseguiu uma vaga no Senado em 2010. Hoje, o estado do Rio tem 12,4 milhões de eleitores, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A aliança mais provável de Crivella era com Indio da Costa, pré-candidato do PSD e ex-secretário de Obras na prefeitura. No entanto, recentes críticas de Indio à polêmica reunião com lideranças evangélicas que desencadeou dois pedidos de impeachment na Câmara Municipal do Rio do prefeito podem mudar o rumo da parceria. O ex-governador Anthony Garotinho (PRP), que apoiou o político do PRB na disputa municipal em 2016, já disse que "aceitaria" o apoio do prefeito.
Já a candidatura do filho do prefeito --que se apresenta como Marcelo Crivella Filho em sua página no Facebook-- representará, caso confirmada, uma nova aposta na entrada dele na política. Hoje com 33 anos, Marcelo Hodge Crivella foi coordenador da campanha do pai em 2016 e foi nomeado pelo próprio para a Secretaria da Casa Civil carioca. A escolha foi barrada pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), que viu nepotismo na nomeação.
Segundo o vice-presidente do PRB fluminense, Isaias Zavarise, o partido só deve decidir sobre alianças em sua convenção estadual, marcada para 4 de agosto. Ele confirmou a pré-candidatura do filho de Crivella e disse que a meta da legenda é eleger de quatro a seis deputados federais no Rio.
CPIs à vista
O capital político e eleitoral de Crivella não deve protegê-lo, no entanto, de novas turbulências no comando da prefeitura, tudo ainda decorrente da polêmica reunião que motivou os pedidos de impeachment.
No dia 4, o prefeito recebeu 250 pastores e líderes evangélicos no Palácio da Cidade, sede do governo. A oposição a Crivella o acusou de oferecer facilidades ao grupo. Em discurso no evento, o prefeito disse, por exemplo, que era "só conversar com a Márcia" (uma assessora dele) para marcar cirurgias de catarata "daqui a uma semana ou duas". Crivella discursou na presença de Rubens Teixeira, ex-secretário municipal e pré-candidato a deputado federal pelo PRB. A gravação das declarações foi divulgada pelo jornal "O Globo".
O prefeito nega ter cometido qualquer irregularidade e diz ser vítima de perseguição religiosa. A rejeição dos pedidos de impeachment foi recebida por Crivella com um agradecimento a Deus e seus aliados. O prefeito disse que os pedidos não tinham base jurídica e fez um apelo à oposição e à base do governo para que superem "tudo isso".
Na sexta (13), dia seguinte à votação que derrubou os pedidos de impeachment, vereadores cariocas anunciaram que tinham as assinaturas necessárias para abrir uma CPI sobre o sistema que organiza a fila de pacientes na rede pública de saúde, o chamado Sisreg. O foco da investigação é justamente o suposto favorecimento de pastores e fiéis evangélicos no acesso à saúde pública carioca.
No mesmo dia, parlamentares da oposição à Crivella também informaram que tinham assinaturas para abrir outra CPI, já apelidada de "CPI da Márcia", para investigar a atuação da funcionária no direcionamento de fiéis para atendimento na rede pública de saúde.
Além de enfrentar acusações no âmbito político, Crivella é alvo de uma ação civil pública por improbidade administrativa, ajuizada pelo Ministério Público fluminense. O encontro com os pastores está entre os motivos do processo, que reúne outros casos em que há suspeita de que a máquina pública tenha sido usada para atender a interesses religiosos, como a realização de eventos da Igreja Universal em escolas públicas.
Para o MP, os eventos nas escolas, por exemplo, são uma afronta ao estado laico.
Na quinta (12), quando a ação foi ajuizada, a assessoria de Crivella disse que a prefeitura ainda não tinha sido notificada e, por isso, não iria comentar o assunto. Mas, por meio do Facebook, o prefeito disse que a reunião com os pastores fez parte de um "esforço de divulgação" das cirurgias de catarata disponíveis e que "o serviço é para todos", mas que "parte da imprensa usou uma dessas ações para manipular informações e atacar os evangélicos".
Promotores também investigam a reunião com os evangélicos na sede do governo. O MP analisa se o político pode ser acusado de improbidade administrativa, uma vez constatado o descumprimento dos princípios norteadores da gestão pública (honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições). Nesse caso, se condenado futuramente, o político do PRB ficaria inelegível por oito anos. A provocação foi apresentada ao MP pelos mesmos requerentes do impeachment na Câmara.