Eleição no Rio terá embate entre 'outsiders' e políticos de carreira
Pauline Almeida
Colaboração para o UOL, no Rio
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Folhapress
Quem assumir o governo do Rio de Janeiro terá pela frente um estado com problemas fiscais, recém-saído de uma intervenção federal na segurança pública e com grave quadro de desemprego. Apesar do desafio, ao menos 14 pré-candidatos (13 homens e uma mulher) se apresentam para disputar o comando do estado fluminense --o quadro deve, entretanto, se afunilar até 5 de agosto, fim do prazo para definição de chapas e coligações.
Após quatro mandatos seguidos de governadores do MDB, partido do ex-governador Sérgio Cabral que se viu envolvido em escândalos da Lava Jato no estado, quase todos os postulantes vêm com forte discurso de mudança. A campanha deve ser marcada pela disputa entre novatos e políticos tradicionais, conhecidos do eleitorado fluminense.
De um lado, nomes que fazem sua estreia em uma eleição e apostam no discurso da renovação, como o ex-juiz federal Wilson Witzel (PSC); o fundador da ONG Viva Rio, Rubem César (PPS); o educador Mario Manhães (PHS); o advogado Marcelo Trindade (Novo), o ex-procurador de Justiça Mendelssohn Kieling (PMB) e a filósofa Marcia Tiburi (PT).
Do outro, políticos que já tiveram mandato, no Executivo ou no Legislativo, defendem justamente a necessidade de vivência na vida pública para lidar com a crise, como o deputado federal Indio da Costa (PSD), o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PRP) e o deputado estadual Pedro Fernandes (PDT).
O principal alvo de todo esse grupo deve ser Eduardo Paes, ex-prefeito do Rio de Janeiro pelo MDB, que hoje está no DEM e ainda não assumiu publicamente a pré-candidatura, mas deve fechar aliança com seu antigo partido para as eleições.
Outro político popular ainda não manifestou publicamente sobre as eleições, mas tem seu nome cotado para a disputa, o senador Romário (Podemos). Na corrida ainda estão o deputado federal Marcelo Delaroli (PR) --que talvez desista da candidatura para sair como vice de Paes--, o vereador de Niterói Leonardo Giordano (PC do B) e o vereador do Rio Tarcísio Motta (PSOL), já confirmado em convenção nesta sexta-feira (20).
Na outra ponta do quadro eleitoral, a de quem vota, o cenário deve ser marcado pela desconfiança. Essa é a percepção da coordenadora do programa de pós-graduação em Ciência Política da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), Luciana Fernandes Veiga, pesquisadora de comportamento político e eleitoral.
Segundo ela, quem vota está muito marcado pelas denúncias da Lava Jato que envolveram nomes da cúpula que governou o Rio nos últimos anos.
"Será uma eleição de muita emoção, negativa para falar a verdade, ora marcada por desesperança, ora por ansiedade. Desesperança porque não se consegue ver luz no fim do túnel. Ansiedade porque existe um medo de errar de novo", disse.
Para ela, isso é comprovado pelo alto índice de abstenções que vem sendo registrado nas eleições extemporâneas deste ano. Em Teresópolis (região serrana), por exemplo, 34,5% dos eleitores não compareceram para votar em junho.
Renovação x experiência
Para conquistar um eleitor pessimista, a professora e cientista política Luciana Fernandes Veiga diz acreditar que dois fatores vão pesar sobre os candidatos: se são alvos de denúncias e quais as realizações em prol da comunidade. Para os novatos, a ficha limpa aparece como trunfo, enquanto os experientes saem na frente com o currículo de feitos na vida pública.
O discurso da experiência já se reflete, por exemplo, nas falas de Indio da Costa --"fui por cinco anos secretário de administração e conheço o funcionamento da máquina pública"-- e de Garotinho --"quando assumi depois do [ex-governador] Marcello Alencar, os salários dos servidores estavam atrasados. Coloquei em dia e só voltaram a atrasar agora na era Cabral e Pezão".
Já Marcia Tiburi critica o que chamou de "política do mais do mesmo". "É preciso mudar isso e devolver o estado ao povo", defende. Witzel destaca ter pedido exoneração do cargo de juiz federal para concorrer às eleições. "Decidi, junto com minha família, que não poderíamos continuar a assistir à destruição de nosso estado sem nada fazer." E Leonardo Giordano engrossa o coro: "o pior que pode acontecer para o Rio é a eleição dos velhos medalhões da política".
Na história política pós-redemocratização do Rio de Janeiro, a maioria esmagadora dos candidatos ao governo sempre trouxe bagagem de vida partidária. São poucos os nomes de "outsiders", como o ator Milton Gonçalves, que disputou o Palácio Guanabara em 1994.
O cientista político e professor da Universidade Veiga de Almeida Guilherme Carvalhido avalia que os "outsiders" tendem a aparecer na política nos momentos em que o eleitor está em "choque". "Quando você tem uma crise, isso é clássico, você normalmente encontra os outsiders. [...] E o Rio vive uma dupla crise, a crise do estado dentro da brasileira", destacou.
Luciana Veiga ainda acrescenta que o fenômeno faz parte do descrédito dos partidos políticos. "Esses partidos deixam de ser âncora e os eleitores ficam voláteis. A personalidade dos candidatos passa a valer mais, o sucesso que ele tem. Se a pessoa se mostra cativante, compreensível, o eleitor imagina que, uma vez na política, ela pode ser assim também", avalia.
Apesar da ânsia pela mudança do eleitor, o sistema político não parece favorecer esse processo, segundo Luciana. As regras do fundo partidário e do tempo de televisão favorecem as legendas já estabelecidas no cenário eleitoral, deixando pouco dinheiro e publicidade às demais.
Além disso, a professora aponta a capilaridade das legendas. "Um partido como o MDB, que é igual Coca-Cola, você consegue achar em qualquer boteco do interior, a gente não pode subestimar", disse.
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