Operação Lava Jato

Atritos chegam a advogados eleitorais de Lula; veja quem é quem na defesa

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

  • Liamara Polli - 24.mar.2018/Agif/Estadão Conteúdo

    Lula em março, durante a caravana pela região Sul

    Lula em março, durante a caravana pela região Sul

Para quem quer ser presidente pela terceira vez, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já estava em situação bastante complicada: condenado na Operação Lava Jato, preso e, em tese, inelegível. Agora, a três semanas do início da campanha eleitoral, o ex-presidente lida também com problemas justamente entre aqueles que escolheu para reverter este quadro na Justiça.

Além do já conhecido embate entre Cristiano Zanin Martins e o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Sepúlveda Pertence, advogados que tentam tirar Lula da cadeia, há relatos também de divergências entre Luiz Fernando Casagrande Pereira, consultor de direito eleitoral da candidatura de Lula, e o ex-ministro Eugênio Aragão, advogado do PT.

Zanin, Pertence e Pereira não quiseram comentar o assunto. José Roberto Batochio, que trabalha com Zanin e Pertence, também optou por não falar. Aragão, por sua vez, disse ser normal que haja "problemas de comunicação" ocasionais em uma equipe grande, mas afirmou que o trabalho está sendo feito em conjunto.

"Fogo amigo": o começo de tudo

Amanda Perobelli - 5.abr.2018/Estadão Conteúdo
O advogado Cristiano Zanin Martins
Os atritos vieram a público no fim de junho, quando Pertence entrou com um pedido de prisão domiciliar para Lula e, em seguida, Zanin negou que a defesa do ex-presidente quisesse fazê-lo. Segundo o UOL apurou, Lula seria contra a ideia, pois enfraqueceria o discurso de que é inocente no chamado caso do tríplex.

Dias depois, a Folha de S. Paulo noticiou que Lula recebeu uma carta de Pertence na qual o ex-ministro do STF demonstrou sua insatisfação com o andar da defesa. A crise passou até por um grupo de WhatsApp com dezenas de advogados, em que Eduardo, um dos filhos de Pertence, fez críticas a Zanin. Sem citar nomes, Zanin criticou o "fogo amigo" e saiu do grupo.

Pedro Ladeira - 6.fev.2018/Folhapress
O ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence

Na semana passada, Pertence fez uma visita de quase três horas ao ex-presidente. O advogado deixou a sede da Polícia Federal em Curitiba dizendo que Lula pediu alguns dias para "buscar uma solução".

O ex-presidente não teria aceitado a ideia de dividir funções entre os advogados, com Pertence dedicado apenas aos tribunais superiores.

Zanin atua na defesa de Lula desde o começo da Lava Jato. Ele é genro e sócio de Roberto Teixeira, compadre do ex-presidente há décadas. Sepúlveda Pertence também é amigo de Lula há muitos anos. Passou a integrar a defesa no começo do ano, depois que Lula foi condenado em segunda instância no caso do tríplex, para reforçar a equipe nos recursos ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e ao STF.

Recentemente, o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT) também foi nomeado como advogado de Lula. A medida foi uma forma de facilitar o acesso de Haddad, responsável por coordenar o programa de governo do PT, ao ex-presidente. Como advogado, Haddad pode visitar Lula quando quiser.

Lula não quer interferir, diz deputado

Segundo o deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) -- que também foi designado como advogado de Lula --, o ex-presidente não quer interferir no trabalho da defesa e orientou Zanin e Pertence a chegarem a um consenso sobre como vão trabalhar.

Damous reconheceu que a imagem de uma defesa desorganizada não é boa, mas considerou "comum" que haja diferenças entre os advogados e disse que elas já foram "prontamente dirimidas".

"Acho que, daqui para frente, as coisas vão se encaixar. Isso já está administrado", disse. "O cliente é um brilhante mediador."

Crise entre defensores eleitorais e mediação de Gleisi

Patrícia Cruz - 15.dez.2017/Estadão Conteúdo
O advogado Luiz Casagrande Pereira
No caso de Casagrande e Aragão, o primeiro estaria insatisfeito com as críticas públicas do ex-ministro ao Judiciário. Para Casagrande, a postura mais militante do que técnica não ajudaria a defesa, relatou uma fonte que não quis ser identificada.

A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), foi chamada para interceder. Ela se encontrou com Casagrande nesta quinta (26), mas não houve consenso.

De acordo com uma outra fonte que também quis ter a identidade preservada, em breve deve haver uma definição mais precisa pelo PT do papel de cada advogado, para que não haja prejuízo à defesa de Lula.

Luis Macedo - 14.mar.2016 / Câmara dos Deputados
O ex-ministro Eugênio Aragão

Especializado em direito eleitoral, Casagrande já havia elaborado estudos sobre cenários para a candidatura de Lula a pedido do PT. Ele não é filiado ao partido e já prestou serviços ao presidente Michel Temer (MDB) e ao ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB).

Já Aragão foi ministro da Justiça no fim do governo Dilma, vice-procurador-geral eleitoral entre 2013 e 2015 e subprocurador-geral da República. Em 2017, abriu seu próprio escritório de advocacia.

A equipe de direito eleitoral à disposição de Lula também passou a contar com o advogado Fernando Neisser, que vai atuar como consultor do ex-presidente para o registro de candidatura.

Apaziguada ou não, a defesa de Lula deve encarar momentos cruciais já nos próximos dias. Na quarta-feira (1º), o STJ e o STF encerram seu recesso, e há a expectativa do julgamento dos pedidos de suspensão da prisão de Lula nos primeiros dias de trabalho. A depender do resultado, os advogados terão que entrar com novos recursos.

Na frente eleitoral, a data-chave é 15 de agosto, quando Lula deverá ser registrado como candidato presidencial do PT. A legalidade da candidatura dependerá de uma análise da Justiça Eleitoral que pode ser feita até o dia 17 de setembro.

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