Renovação? Paraná vê oligarquias tradicionais voltarem a se enfrentar

Vinicius Boreki

Colaboração para o UOL, de Curitiba

  • Reprodução/Facebook e PDT

    Ratinho Jr (e), Osmar Dias (c) e Cida Borghetti disputarão o governo

    Ratinho Jr (e), Osmar Dias (c) e Cida Borghetti disputarão o governo

A eleição de outubro no Paraná mais uma vez deverá ver a consolidação no poder de oligarquias locais. Embora as convenções nacionais e regionais ainda estejam em andamento, e os acordos por coligações estejam sendo costurados, já é fato que nomes conhecidos do eleitorado local voltarão a se enfrentar nas disputas pelo governo do estado e por vagas do Senado.

Segundo pesquisa Ibope divulgada em junho, Ratinho Jr (PSD), Osmar Dias (PDT) e Cida Borghetti (PP) aparecem nas primeiras posições de intenções de voto.

Vice eleita em 2014, Cida Borghetti é a atual governadora, desde que Beto Richa (PSDB) se licenciou do cargo para concorrer ao Senado, em abril. Ex-deputada estadual e federal, Cida é esposa do deputado federal Ricardo Barros (PP), que foi ministro da Saúde do governo Temer (PMDB). A filha do casal, Maria Victória, já concorreu à prefeitura de Curitiba e atua como deputada estadual.

Ex-senador, Osmar Dias (PDT) vem de outra família tradicional no estado. É irmão de Álvaro Dias, pré-candidato à presidência pelo Podemos e ex-governador do Paraná. Já disputou o governo do estado em 2006, quando perdeu para o atual senador Roberto Requião (PMDB) por cerca de 10 mil votos, e foi derrotado pelo ex-governador Beto Richa em 2010. Desde então, esteve mais afastado dos holofotes da política, atuando como vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, de 2011 a julho de 2016.

Já a fama do nome de Ratinho Jr. não vem da política, mas sim da televisão. Ele é filho do apresentador do SBT Carlos Massa, o Ratinho. Chegou ao segundo turno da eleição para a prefeitura de Curitiba em 2012 e foi o deputado estadual mais votado na eleição de 2014. Depois, atuou como secretário do Desenvolvimento Urbano (Sedu) do governo Beto Richa até setembro de 2017.

Correndo por fora, e apesar das restrições do eleitorado paranaense ao partido, o PT deve lançar Dr. Rosinha, presidente da legenda no estado, como candidato ao governo. O médico pediatra já foi vereador de Curitiba, deputado estadual duas vezes e teve quatro mandatos consecutivos como deputado federal. 

Família Richa tenta vagas no Congresso

A história se repete na disputa para senador, em que as convenções serão ainda mais determinantes. A fila é puxada pelo ex-prefeito de Curitiba e ex-governador Beto Richa (PSDB), que segue um padrão recente de ex-chefes do Executivo paranaense que migram para o Senado.

Montagem/UOL
Rivais pelo governo em 2014, Richa e Requião devem se enfrentar pelo Senado

Embora tenha cogitado não concorrer a cargos eletivos neste ano, Richa é um dos postulantes a uma das cadeiras – e ainda abre espaço para mais dois Richas em toda a eleição, o filho e o irmão, que devem disputar, respectivamente, vagas a deputado estadual e federal.

Da mesma maneira, Roberto Requião (MDB), que já foi três vezes governador, também oficializou sua tentativa de reeleição como senador. Deve disputar vaga, entre outros concorrentes, com Flávio Arns (Rede) - sobrinho de Zilda e Dom Paulo Evaristo Arns, que já foi deputado federal, senador e vice-governador do estado - e com o delegado federal Fernando Francischini (PSL) - deputado federal por dois mandatos consecutivos e ex-secretário de Segurança Pública do governo Richa..

Oligarquias no poder

O Paraná segue um traço forte da política brasileira, com oligarquias familiares mantendo-se no poder ao longo dos anos. "A política paranaense é dominada por grupos familiares", diz o professor de Sociologia Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Costa Oliveira, autor do livro "Na Teia do Nepotismo – Sociologia Política das Relações de Parentesco e Poder Político no Paraná e no Brasil".

De acordo com o professor, o fato de já estarem no poder oferece uma estrutura ainda maior para essa perpetuação. "Este fenômeno ocorre em função da grande atuação das famílias dentro do estado, por apresentarem mais recursos, mais redes políticas e a presença de nomes tradicionais", acrescenta.

Oliveira vai além em uma crítica ao sistema político brasileiro. "Quem está em mandato tem sempre dinheiro, recursos, transformando-se em mais um símbolo da crise social e da desigualdade social que existe no Brasil. São atores [os grupos políticos] que mantêm essa desigualdade, caracterizada pela tendência de os grupos permanecerem na posição em que já nasceram", avalia.

Após mapear os principais cargos do estado, Oliveira afirma em sua obra que 62 famílias transitam no poder paranaense -- em diversas áreas da esfera pública -- por meio dos mesmos sobrenomes ou por casamentos. Essa ocupação dos cargos públicos remonta ao século 18 e, desde então, vai se repetindo.

Segundo o cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-PR) e do Grupo Uninter, Luiz Domingos Costa, a procura dessas famílias pela participação política se deve ao prestígio, às relações de apadrinhamento e a oportunidade de se reposicionarem na sociedade.

"O envolvimento com política é um grande laboratório de parte da elite brasileira e de algumas famílias. Em outras nações, o partido tem um papel muito estratégico, mas, no Brasil, acabam sendo instrumentos destas famílias", diz.

Outro ponto que dificulta a renovação é a falta de uma reforma política. "Mesmo que surjam novos partidos de uma demanda organizada da sociedade, é muito difícil para furar essa bolha da política. Atualmente, temos políticos ou grupos que são capazes de influenciar mais de um partido ao mesmo tempo, em troca de tempo de televisão ou dinheiro. Isso é prejudicial e deixa o sistema mais propenso à corrupção", afirma.

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