Lula cita Marielle e pede "política com alegria" em carta a Márcia Tiburi

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

  • Magalhães Jr / Photopress

    1º.ago.2018 - Márcia Tiburi (c) é oficializada em convenção como candidata do PT ao governo do Rio

    1º.ago.2018 - Márcia Tiburi (c) é oficializada em convenção como candidata do PT ao governo do Rio

Uma carta endereçada a Márcia Tiburi que teria sido escrita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na prisão, em Curitiba, foi lida na noite desta quarta-feira (1º) durante convenção do PT do Rio de Janeiro que oficializou a filósofa como candidata do partido ao governo do estado. O documento foi lido pela filha de Lula, Lurian.

O evento, realizado no auditório da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no centro da capital fluminense, reuniu militantes, dirigentes partidários e representantes de movimentos sociais. Além de Tiburi, participaram o candidato à reeleição no Senado, Lindbergh Farias, a deputada federal Benedita da Silva, entre outros nomes da sigla.

"Chega de guerra. Chega de desprezo pela saúde, pela educação, pela segurança. Chega de ódio. Mais de 50 anos de luta me ensinaram que política não se faz com o fígado. Se faz com o coração. Se faz com alegria. E você, Marcia, parece que já chegou na política sabendo disso", afirmou o ex-presidente, no texto.

Lula lembrou que o caos social e a crise de violência levaram o estado à decretação de uma intervenção federal, que, segundo ele, não deu certo. Ele também citou a falta de respostas em relação ao assassinato da vereadora do PSOL Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. Ambos foram mortos a tiros na noite do dia 14 de março deste ano.

"Aumentaram os índices de criminalidade, espalharam o medo, morrem crianças ao caminho da escola. Mais de 130 dias se passaram, e não foram capazes de dizer quem mandou matar Marielle Franco, assassinando também o motorista Anderson Gomes. O Rio e o Brasil não merecem isso."

O líder petista comemorou a candidatura de Márcia, que é filósofa e escritora e nunca havia se candidatado a cargos eletivos. Ela é considerada uma outsider na disputa eleitoral do RJ, embora tenha histórico partidário -- foi filiada ao PSOL antes de migrar para o PT.

"E em meio a tanto ódio, uma mulher, filósofa e escritora consagrada, decide entrar para a política partidária, comentou Lula. "É preciso recuperar nossa alegria política. Nós provamos que é possível governar com alegria e para todos, melhorando a vida das pessoas, sorrindo quando elas sorriem".

O presidente do diretório fluminense do PT, Washington Quaquá, declarou entender que a candidatura de Márcia é "a grande novidade da eleição no Rio". De acordo com ele, a presença dela na corrida pelo Palácio Guanabara não é uma simples questão de marcar território político ou para angariar votos a fim de ultrapassar a cláusula de barreira.

"A candidatura da Márcia é para defender o Lula, as conquistas do povo brasileiro, as mulheres que não têm creches nas comunidades", disse Quaquá.

Trazemos o Lula em nossos corações, diz candidata

Assim como ocorrerá em outros estados, a plataforma de campanha petista no Rio está diretamente ligada à defesa do ex-presidente Lula. As primeiras palavras de Márcia após a confirmação da candidatura foram "Lula livre", o lema que vem sendo repetido por apoiadores desde a prisão do líder petista, em abril.

"É importante que lembremos de cada pessoa sem esquecer jamais que hoje nós somos aqueles que trazem o Lula em nossos corações. Nós trazemos o Lula em nossos corações, tendo em vista que ele está preso na grande mentira brasileira. A mentira do neoliberalismo", declarou a candidata, em discurso. "Defendendo o Lula, a gente está defendendo o direito de cada cidadão no Brasil de se candidatar e ser eleito", completou.

Márcia observou que o PT nunca viveu um momento "tão ruim", em referência ao antipetismo e o acirramento do debate político, mas disse que se sente honrada com o convite e extremamente feliz por ter se filiado à legenda. "Todo esse ressentimento e ódio em relação ao PT tem a ver com a imensa esperança que as pessoas tiveram no PT. E nós podemos renovar essa esperança com os nossos gestos e a nossa maneira de lutar", disse.

A candidata explicou que ainda não foi definido o nome do vice na chapa em razão das negociações com outras forças políticas. "A gente ainda vai decidir. Existem outros partidos que agora apoiam também a minha candidatura. A gente tem que ver, mas ainda não foi decidido mesmo".

Apesar de nunca ter exercido cargos políticos, a candidata disse não se ver como uma outsider na eleição. "Eu não me vejo dessa maneira, porque considero que tudo que fiz até hoje foi político. Foi político no sentido amplo desse termo. Não foi política burocrática, profissional ou partidária".

Sobre os desafios de sua campanha, Márcia Tiburi afirmou que pretende fazer o eleitor refletir. "A gente não quer lançar nenhuma ideia pronta para o povo. A gente quer estimular a reflexão, o pensamento, a análise. Estimular que as pessoas possam compreender a sociedade que elas vivem. É uma campanha mais em nome da verdade, na qual a questão publicitária, que fez a história da velha política, não nos interessa", declarou.

A filósofa, que também é escritora e professora universitária, apresentou seu nome depois do insucesso do plano original do PT, que era lançar o ex-ministro da Defesa Celso Amorim.

Sua candidatura se encaixa no contexto de fragmentação dos partidos de esquerda. Ele rivalizará com o Tarcísio Motta, vereador carioca e candidato do PSOL, e possivelmente com Leonardo Giordano, vereador em Niterói (RJ) e pré-candidato do PCdoB (cuja convenção deve ocorrer neste domingo).

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