PT definirá vice de Lula na última hora e busca PCdoB e PDT, diz Gleisi
Bernardo Barbosa
Do UOL, em São Paulo
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Ernani Ogata - 26.jul.2018/Código19/Estadão Conteúdo
Gleisi após visita a Lula na carceragem da PF em Curitiba no dia 26 de julho
O PT deve deixar a definição do vice-presidente na chapa encabeçada por Luiz Inácio Lula da Silva para a véspera do fim do prazo do registro de candidaturas, disse nesta quinta-feira (2) em Curitiba a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Segundo Gleisi, ainda é possível firmar uma aliança com o PCdoB, que lançou Manuela D'Ávila como candidata, e conversar até mesmo com o PDT, que tem Ciro Gomes como presidenciável.
"Estamos conversando, até porque o PCdoB deixou aberta sua ata, e nós também pretendemos deixar até o dia 14, porque dia 15 é o registro das candidaturas. Então nós vamos remeter a decisão da vice do presidente Lula para a Executiva definir. E [a definição] deve ser feita na véspera da inscrição da candidatura", afirmou Gleisi. "E queremos conversar com o PDT, também."
Apesar da previsão de Gleisi, a lei eleitoral diz que todos os candidatos devem ser escolhidos até o dia 5 de agosto, e a ata com a escolha deve ser publicada em até 24 horas -- ou seja, pode ser publicada até o dia 6.
Algumas horas depois da fala da senadora, a Folha de S.Paulo noticiou que, por causa do prazo previsto na lei e para não confrontar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a cúpula do PT avalia indicar um nome provisório como vice. Esse nome seria um porta-voz de Lula, e não seu substituto. Este vice provisório poderia inclusive ceder a vaga para Manuela D'Ávila.
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Em tese, a condenação em segunda instância no caso do tríplex, da Operação Lava Jato, deixa Lula inelegível pelos critérios da Lei da Ficha Limpa. Mesmo assim, o PT afirma que vai registrá-lo como candidato a presidente. A legalidade da candidatura depende de uma análise da Justiça Eleitoral.
Manuela foi confirmada como candidata pelo PCdoB na quarta-feira (1º). Dias antes, a presidente da legenda, deputada federal Luciana Santos (PCdoB-PE), ainda acenava ao PT e outros partidos de esquerda com a possibilidade de abrir mão da candidatura própria.
Na pesquisa eleitoral divulgada pelo Ibope em 28 de junho, Manuela mantinha 1% das intenções de voto em cenários com Lula e sem o petista.
Se o PCdoB pode ter deixado a porta aberta, com o PDT, pelo menos no momento, a situação é bem diferente.
Depois do anúncio do acordo entre PT e PSB ontem, Ciro Gomes disse em entrevista à GloboNews não entender o que fez para merecer o "tipo de tratamento", até mesmo com "desonestidade", que estaria recebendo do PT. Ciro chegou a falar que manter a candidatura de Lula seria levar o país para dançar uma "valsa à beira do abismo".
Um dos pontos do acordo do PT com o PSB foi a retirada da candidatura petista ao governo de Pernambuco, com Marília Arraes, em prol da reeleição de Paulo Câmara (PSB). A decisão causou insatisfação entre uma ala petista, que vai recorrer da decisão ao Diretório Nacional, a mais alta instância da legenda.
Gleisi disse que, do ponto de vista regional, perder uma candidatura como a de Marília é "ruim", mas defendeu a preponderância do "projeto nacional" do PT.
"Desde o início, os companheiros de Pernambuco, a companheira Marília, com quem converso sempre, os companheiros dos movimentos sociais sabiam dessa nossa movimentação. Em nenhum momento nós fizemos qualquer movimentação que não fosse clara e aberta", justificou.
Visita de Chico Buarque e Martinho da Vila
Lula recebeu nesta quinta a visita de Chico Buarque e Martinho da Vila. Os cantores saíram sem falar com a imprensa e com os militantes que os aguardavam na porta da sede da Polícia Federal, em Curitiba, onde o ex-presidente está preso.
Em vídeo divulgado pela assessoria de imprensa de Lula nas redes sociais, ambos disseram que o ex-presidente está decidido a manter sua candidatura. Chico Buarque também defendeu que Lula possa dar entrevistas, sem depender de porta-vozes. Até agora, a Justiça não autorizou nenhum dos diversos pedidos feitos por veículos de comunicação, entre eles o UOL.
Lula está preso há quase quatro meses em Curitiba, cumprindo pena pela condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no chamado caso do tríplex, da Operação Lava Jato. Sua defesa tenta reverter a condenação nos tribunais superiores, e afirma que não há provas dos crimes imputados ao ex-presidente.
Mesmo preso e potencialmente inelegível, Lula lidera as pesquisas de intenção em voto nos cenários em que seu nome é apresentado aos entrevistados. Sem Lula, o líder é o deputado federal Jair Bolsonaro, candidato do PSL.
Entenda a polêmica sobre a candidatura de Lula
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