Bolsonaro oficializa general como vice: "Somos soldados do nosso Brasil"

Marcelo Freire

Do UOL, em São Paulo

"Deixo de ser capitão e o general deixa de ser general. Nós passamos a ser a partir de agora soldados do nosso Brasil. Numa só bandeira verde amarela, vai nos mover para mudar o nosso país".

Com essa frase, o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) oficializou na tarde deste domingo (5), em São Paulo, o nome do general de reserva do Exército Antonio Hamilton Martins Mourão (PRTB) como seu vice na corrida eleitoral. O anúncio foi feito durante a convenção nacional do PRTB, que abriu mão de ter candidatura própria para apoiar e compor a chapa do deputado federal.

Foi a segunda convenção de Bolsonaro no dia - a primeira havia sido a do diretório paulista do seu próprio partido, o PSL, em um clube da zona norte de São Paulo.

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Ao contrário da primeira convenção, onde o discurso do deputado foi prejudicado por problemas de áudio - houve dúvida, inclusive do público, sobre se Bolsonaro havia ou não anunciado seu vice -, a reunião do PRTB não deixou dúvidas sobre a presença de Mourão na chapa. Os dois se sentaram à mesa montada no palanque. Entre eles ficou o presidente do PRTB, Levy Fidelix, que era pré-candidato ao Planalto e resolveu concorrer à Câmara dos Deputados.

"Agradeço a Deus por essa oportunidade. Prezado Levy, obrigado pela confiança", disse Bolsonaro, em referência ao presidente do PRTB. "Temos uma enorme responsabilidade em mudar o nosso Brasil. Não podemos mais ficar esperando qual facção ficará no poder, se o PT ou o PSDB. O Brasil é muito maior que qualquer briga política."

"Temos certeza de que com um presidente que tenha o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos, podemos trazer sim a paz ao nosso país. Saio daqui fortalecido, com a certeza de que essa nova família fará parte do sucesso do Brasil", afirmou o deputado federal.

Em seu primeiro discurso como candidato a vice, Mourão ressaltou a emoção que estava sentindo no momento.

"Podem ter certeza que em 46 anos de vida militar, tive momentos da mais forte emoção, mas o que passo hoje ultrapassa tudo isso. Estamos juntos por um valor maior: o bem comum do povo brasileiro. A defesa da integridade do nosso território brasileiro. Ascendam pelos próprios méritos, não por esmolas", discursou o militar da reserva.

"Estou extremamente honrado e considero um privilégio. Vamos enfrentar tudo isso que nos perturba, a partir de um governo austero sem corrupção e com relacionamento republicando sem balcão de negócios com os outros poderes", completou.

A escolha por Mourão encerra uma novela que envolveu vários nomes sobre quem seria o vice de Bolsonaro. Foram cotados outro general, Augusto Heleno (PRP), a advogada Janaina Paschoal (PSL), o herdeiro da família real Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL), o senador Magno Malta (PR) e até o astronauta Marcos Pontes (PSL).

O fim da convenção foi marcado por empurra-empurra envolvendo apoiadores que tentavam se aproximar e felicitar Bolsonaro, integrantes e candidatos do PSL e do PRTB, imprensa e seguranças que protegiam o presidenciável. 

Intervenção militar na política

Mourão foi membro do Alto Comando do Exército até passar para a reserva em fevereiro de 2018. Seu nome surgiu com força nos noticiários entre 2015 e 2017 quando, ainda no serviço ativo, criticou publicamente o governo de Dilma Rousseff (PT). Em setembro do ano passado, em uma crítica à corrupção na política, ele citou a possibilidade de uma intervenção militar durante um evento da comunidade maçônica em Brasília. Neste domingo, Mourão explicou o comentário.

"Foi uma questão de interpretação. Não fui feliz na forma que eu respondi. As Forças Armadas são responsáveis por garantir os poderes constitucionais, e a lei e a ordem quando fala nisso, fala em garantir a democracia e a paz social. Se o caos se instalar no país, se a lei for desrespeitada, então compete às Forças Armadas impedir que isso ocorra. Mas felizmente tudo está caminhando da forma como tem que ser. Apesar de todos os problemas, o Brasil é maior que isso é nós vamos superar", afirmou.

Vice de Bolsonaro comenta fala sobre intervenção militar

Mourão disse ter sido avisado por Bolsonaro na manhã deste domingo sobre a confirmação de seu nome como vice. Questionado sobre o motivo de o deputado federal tê-lo escolhido, o general respondeu: "talvez a nossa amizade". Ele disse conhecer Bolsonaro há 40 anos.

Neste ano, antes de ser oficializado como vice de Bolsonaro, ele assumiu a presidência do Clube Militar e um papel de destaque na política ao organizar, por meio do clube, um curso a distância para membros das Forças Armadas que pretendem se candidatar às eleições. É esperada a candidatura de mais de 100 militares em 2018, a postos no Executivo e no Legislativo.

O Exército já afirmou que as decisões de militares da reserva de participar das eleições são individuais e não são orientadas pelo Comando da instituição --que não tem nenhuma participação nas candidaturas. A legislação brasileira não faz qualquer restrição a candidaturas de militares da reserva.

Após a instituição entrar no centro do debate político com a ascensão de candidaturas militares, o Alto Comando iniciou também um esforço para destacar a neutralidade político-partidária do Exército. O comandante Eduardo Villas Boas lançou uma campanha institucional com vídeos no YouTube para retratar a força como uma instituição de estado, sem vínculos com a política partidária.

Ele também baixou uma série de normas para regular as visitas de candidatos militares a quartéis, para que ninguém seja privilegiado. Entre elas estão impedir que os candidatos façam panfletagem e campanha política dentro das instituições militares e gravar e fotografar as visitas para que evitar eventuais mal entendidos.

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