Ataques, segurança e corrupção: o que reserva o 1º debate na disputa do RJ?

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

  • Arte/UOL

    Anthony Garotinho (à esq.), Eduardo Paes (centro) e Romário (à dir.) estão na disputa pelo governo do RJ

    Anthony Garotinho (à esq.), Eduardo Paes (centro) e Romário (à dir.) estão na disputa pelo governo do RJ

Dois temas devem nortear o debate que será promovido pela "Band", nesta quinta-feira (16), o primeiro com os candidatos ao governo do Rio de Janeiro: a segurança pública e a penúria financeira no estado. O encontro será retransmitido pelo UOL a partir das 22h.

O tema corrupção também será eixo relevante na formulação de eventuais ataques e, sobretudo, para traçar táticas de defesa em relação a candidatos que carregam alguma fragilidade no assunto. É o caso do ex-prefeito do Rio Eduardo Paes, que trocou o MDB pelo DEM após sucessivos escândalos envolvendo o antigo partido --pelo qual esteve à frente da gestão da capital fluminense entre 2009 e 2016.

A segurança é pauta obrigatória dada a presença das Forças Armadas por meio do decreto de intervenção federal --que terminará no fim do ano-- e os sucessivos episódios de violência urbana.

A situação econômica representa uma demanda crucial para o futuro da população fluminense, de acordo com os discursos dos próprios candidatos nas convenções partidárias, entrevistas à imprensa e publicações nas mídias sociais.

A questão é ainda mais relevante para os servidores, que chegaram a ficar três meses sem pagamento de salário no ano passado.

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Durante o debate, um dos pontos de discussão deverá ser a continuidade do acordo de recuperação fiscal firmado entre o atual governo, de Luiz Fernando Pezão (MDB), e o presidente da República, Michel Temer (MDB). Ambos deixam o cargo em dezembro.

O comando do estado é disputado por 11 postulantes, dos quais oito têm presença garantida no debate --eles atendem a requisito mínimo previsto na legislação eleitoral (partidos que têm ao menos cinco parlamentares no Congresso).

Participarão os candidatos Anthony Garotinho (PRP), Eduardo Paes (DEM), Indio da Costa (PSD), Marcia Tiburi (PT), Pedro Fernandes (PDT), Romário (Podemos), Tarcísio Motta (PSOL) e Wilson Witzel (PSC). O evento ocorrerá na sede da Band, na zona sul carioca, a partir das 22h, com retransmissão do UOL

O UOL elencou algumas estratégias que devem ser utilizadas pelos candidatos durante o debate. Confira abaixo.

Reprodução

Anthony Garotinho (PRP)

A campanha de Anthony Garotinho promete abrir fogo contra Eduardo Paes, apontado como virtual favorito no pleito, e o seu ex-partido, o MDB. Segundo aliados, um dos slogans da candidatura do pleiteante do PRP será a frase "Bem que o Garotinho avisou", que faz referência a denúncias feitas por ele em seu blog contra o ex-governador Sérgio Cabral (MDB).

Foi Garotinho, por exemplo, que publicou as fotos do escândalo que ficou conhecido como a "farra dos guardanapos", o badalado jantar em Paris, em 2009, que reuniu Cabral, secretários de estado e empresários. O episódio tornou-se um símbolo da corrupção no Rio, e os principais personagens --incluindo o próprio Cabral-- acabaram presos na Operação Lava Jato.

Ao jornal "O Dia", nesta quarta-feira (15), Garotinho declarou que, durante o debate, vai tirar do bolso um guardanapo e oferecê-lo a Paes para relembrar o episódio. Reportagem da Folha, publicada em outubro do ano passado, revelou que o ex-prefeito sentou-se à mesa de Cabral no jantar em Paris, mas deixou o local antes dos demais.

"Quero que ele conte aos telespectadores sobre a bebida e a comida que foram servidas durante o famoso rega-bofe da farra dos guardanapos", declarou Garotinho ao jornal "O Dia".

O candidato do PRP também deve ser confrontado com o fato de ter sido preso três vezes em menos de um ano --a última ocorreu no fim do ano passado-- e a condenação na Justiça Eleitoral por liderar, segundo a denúncia, um esquema de compra de votos em seu reduto eleitoral, a cidade de Campos dos Goytacazes, no norte fluminense. Como ainda não há um julgamento definitivo da ação, ele não é considerado inelegível.

PAULO CARNEIRO/AGÊNCIA O DIA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Eduardo Paes (DEM)

Devido ao fato de ter sido eleito prefeito com o apoio decisivo de Cabral, em 2008, e da dobradinha com o ex-governador na hegemônica gestão emedebista na última década, Paes deve ser alvo de críticas de todos os demais candidatos.

Hoje no Democratas, Paes tem ensaiado movimentos de defesa desde que confirmou a intenção de disputar o cargo. Segundo ele, a troca do MDB pelo DEM foi "para dar uma resposta à sociedade". "Meu CPF é outro", disse ele em entrevistas quando questionado sobre denúncias contra Cabral e políticos do MDB.

O candidato teve ainda um encontro recente com o procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem, para sugerir a criação da "Secretaria de Integridade Pública e Transparência" caso seja eleito em outubro. Na ocasião, declarou que gostaria de contar com o apoio da força-tarefa da Lava Jato para criar um sistema de fiscalização e controle no Executivo.

Além de responder sobre corrupção e o fato de ter sido mencionado duas vezes em delações na Lava Jato (como nada foi provado, não houve denúncia contra o candidato), os concorrentes tentarão colocar na conta do ex-prefeito a penúria econômica vivida pelo RJ nos últimos anos de governo do MDB.

Nesse sentido, Paes tem tentado se dissociar da gestão de seu ex-correligionário Luiz Fernando Pezão, inclusive com críticas ao atual governador. "Há uma diferença visível e clara entre a minha maneira de administrar e a maneira de o Pezão administrar. Ele deve ter as circunstâncias e explicações e compete a ele explicar porque não fez", disse ele no começo de agosto.

Definiu como prioridade a reorganização das contas públicas e tem dito que o estado vive "duas intervenções federais", uma "formal", na segurança, e outra por meio do acordo de recuperação fiscal. "O nosso esforço vai ser para dar as condições de equilíbrio orçamentário, voltar a prestar serviços óbvios e básicos", comentou.

JOSE LUCENA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Romário (Podemos)

Campeão do mundo com a Seleção Brasileira na Copa de 1994, Romário tem indicado que sua campanha apostará na ideia do "outsider", isto é, a do personagem fora do ciclo político tradicional --apesar de estar no Congresso desde 2011, primeiro como deputado federal (eleito em 2010) e depois, senador da República (eleito em 2014).

No discurso durante convenção do Podemos, Romário chegou a declarar que não era "especialista em economia, educação e saúde" e que, se eleito, nomeará "grandes profissionais" das respectivas áreas. A argumentação é semelhante a de Jair Bolsonaro, candidato à Presidência da República pelo PSL, que, em relação ao tema, tem dito que delegaria toda a responsabilidade ao economista Paulo Guedes.

Para o debate da Band, a ideia do outsider poderá ser utilizada positivamente, de forma a diferenciá-lo dos concorrentes, mas também pode gerar questionamentos quanto à sua capacidade de articulação política, segundo avaliação de aliados. Romário conta com o apoio da Rede e do PR.

"Virão matérias de jornais, revistas e blogs e todas elas com o mesmo argumento: de que eu não sou um gestor. Afinal é o único que eles têm. E essa experiência que eles dizem ter, eu não quero ter! A minha experiência é de honestidade e determinação", publicou Romário em suas redes sociais, na quarta (15).

No discurso da convenção e em outras declarações públicas, o pleiteante do Podemos também mencionou o fato de ter sido criado em uma comunidade do Rio e representar o "moleque que veio da favela do Jacarezinho e chegou ao Senado". Para a equipe do senador, a estratégia ajuda a aproximá-lo da população mais pobre e pode agregar um valor de humildade à campanha, sobretudo se ponderado o fato de que ele fará um embate com Paes --adversário que tem uma esmagadora coligação (12 partidos) e quase metade do tempo de TV.

No debate, Romário deve ser questionado a respeito de investigações acerca de uma possível ocultação de patrimônio. Segundo um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), revelado em reportagem de "O Globo", haveria indícios de lavagem em movimentações financeiras feitas por ele por meio de uma conta bancária em nome da irmã, Zoraidi de Souza Faria. O candidato tem reagido com críticas à imprensa. Na convenção, declarou: "O dinheiro é meu. Eu consegui com o meu suor e não devo nada para eles."

"Eu dou para quem eu quiser. Eu dou para a minha irmã, para a minha mãe, para quem eu quiser. Não vai ser por causa de notícias de jornais que vocês vão tirar o meu foco", declarou o candidato, em discurso, elevando o tom de voz."

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