Ataques a Doria e aliados presidenciáveis marcam 1º debate ao governo de SP

Ana Carla Bermúdez e Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

A associação dos principais candidatos ao governo de São Paulo a figuras como o ex-governador Geraldo Alckmin, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual, Michel Temer (MDB), bem como as críticas aos quase 24 anos de gestão do PSDB no estado e à de um ano e três meses de João Doria à frente da prefeitura de São Paulo deram a tônica, na noite desta quinta-feira (16), ao primeiro debate entre os postulantes à sucessão estadual. O evento foi organizado pela TV Bandeirantes.

Apesar do tom elevado durante boa parte do encontro, já na chegada à emissora os candidatos haviam prometido um embate mais focado em propostas. Porém, trocas de farpas sobre corrupção nos partidos, referências a inquéritos contra políticos e ataques pessoais passaram a protagonizar o debate a partir da segunda metade do segundo bloco. Ao todo, o encontro contou com quatro blocos.

Além de Doria, participaram do debate desta noite Márcio França (PSB), Rodrigo Tavares (PRTB), Paulo Skaf (MDB), Marcelo Cândido (PDT), Luiz Marinho (PT) e Lisete Arelaro (PSOL).

Leia mais sobre o debate:

Um dos bate-bocas mais fortes foi protagonizado pelo governador e candidato à reeleição Márcio França (PSB) e o ex-prefeito da capital. Ao responder uma pergunta de um jornalista da emissora sobre uma lei sancionada por França limitando a caça de javalis no estado, o candidato do PSB negou a proibição, atribuindo à Assembleia Legislativa, mas defendeu a medida.

Escolhido para comentar a resposta do governador, Doria afirmou ter ficado “feliz” em ver o atual governador “mudar de posição”. Na réplica, o candidato à reeleição negou e rebateu. “Eu não mudei de ideia não, viu, João? Quem muda de ideia aqui é você. Quarenta e três vezes você prometeu para mim e para todos os paulistanos que cumpriria o mandato e seria o melhor prefeito de São Paulo", disse França.

“Não traio meus amigos, não mudo minhas posições e, acima de tudo, não traio o povo”, complementou o atual governador. Doria solicitou pedido de resposta, que foi negado.

Candidatos respondem sobre saúde e segurança no 1º bloco

Ataques a Doria e à gestão tucana

Doria, que assumiu a prefeitura de São Paulo em 2017, anunciou sua saída do cargo no início deste ano para disputar o governo do estado. A renúncia foi abordada também entre outros candidatos. Marcelo Cândido (PDT), por exemplo, citou o tucano indiretamente a Lisete Arelaro (PSOL) ao mencionar que um dos adversários teve como “prêmio de consolação ser governador”.

A candidata do PSOL reforçou a crítica: “Aqui mesmo temos um candidato que abandonou seu compromisso pela metade. E ele fez algo interessante: assinou um compromisso e não cumpriu. Ele estaria reprovado se estivesse matriculado no sistema público de ensino”, afirmou Lisete, que é professora. “Ele está em fase de recuperação. Vamos ver como ele se comporta”, completou.

Também o petista Luiz Marinho se referiu ironicamente ao ex-prefeito de São Paulo: afirmou a ele que, "como já é tradição do PSDB", Doria "também largou o povo da cidade de São Paulo, assim como fez o [José] Serra [em 2006, ao se candidatar e ser eleito governador]". "Mesmo as pesquisas mostrando grande rejeição na capital, o senhor se coloca como candidato a governador do Estado. Como você explica a sua péssima avaliação em tão pouco tempo à frente da Prefeitura de São Paulo, isso se deve ao apoio que você deu ao Temer e suas políticas de desmonte do povo trabalhador?", indagou.

Até meses atrás aliado próximo de Temer, Doria respondeu que o emedebista "é o presidente do PMDB. Do PSDB é Geraldo Alckmin". "E, se eu estivesse tão mal assim, eu não estava liderando as pesquisas e o senhor lá embaixo, na rabeira, com 4%", respondeu o tucano, recebendo muitos aplausos e gritos de seus apoiadores que intervieram durante vários momentos do debate.

O partido de Doria, também foi alvo dos candidatos, pelos mais de 20 anos de governos tucanos em São Paulo. Candidato do PRTB, Rodrigo Tavares ironizou não apenas o PSDB, como o próprio Alckmin --que foi reeleito, em primeiro turno, em outubro de 2014. "Alckmin fez um bom trabalho --um bom trabalho como anestesista. Ele anestesiou o estado de São Paulo", disse, em referência à formação profissional do agora presidenciável.

As críticas à gestão tucana tomaram por base especialmente questões de segurança pública e saúde.

"A segurança pública de São Paulo é uma total insegurança", afirmou Skaf, ao responder sobre o tema definido por leitores do jornal "Metro". Segundo o presidente licenciado da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a Polícia Civil paulista "está completamente abandonada", crítica feita também por outros candidatos.

Doria e Tavares atacam Lula em embates com Marinho

Bate-boca sobre Lula

As menções críticas a Lula foram feitas especialmente por Doria, em embate com Marinho. "Candidato do PT, eu gostaria que o senhor me dissesse onde anda Lula. Preso em Curitiba, respondendo um processo, e ficará preso por 12 anos, o primeiro dos processos. Onde anda Zé Dirceu? Com tornozeleira eletrônica [nota da redação: Dirceu não está com tornozeleira]. Onde andam os tesoureiros do seu partido? Ou estão presos, ou estão com tornozeleira e estão respondendo processos. De ética o seu partido e o senhor não podem nos ensinar nada, até porque os senhores fizeram o maior assalto ao dinheiro público da história", criticou.

A figura de Lula foi trazida ao debate também pelo candidato do PRTB, ao se dirigir a Marinho. "Respeito a sua pessoa, mas o seu partido é sinônimo lamentavelmente na política nacional de corrupção", classificou Tavares. O petista defendeu o ex-presidente e afirmou que o adversário "esquece de observar que o PT é a grande esperança do nosso povo brasileiro". "E quem fez as medidas mais drásticas de combate à corrupção nesse país foram os governos do presidente Lula e presidenta Dilma", completou Marinho.

Tavares comparou o ex-presidente petista, preso, ao presidenciável apoiado por seu partido, Jair Bolsonaro (PSL). "Pelo quilate das pessoas, pelo conhecimento que o público tem dessas pessoas, eu tenho a dizer aqui para o senhor que não há coligação mais justa, mais honesta", gabou-se.

Marinho devolveu a crítica e sugeriu que a candidatura de Bolsonaro, "na verdade, mais parece liderança de facção do que candidatura à presidência da República para dirigir o país."

Questionado sobre Temer, Skaf desconversa

Skaf "foge" de Temer

As associações a Temer tentaram ser centradas em Skaf, mas o candidato do MDB se esquivou em todas elas e não defendeu o correligionário, que tem rejeição recorde.

"Seu presidente Michel Temer, que você tanto defende, que é do seu partido e para quem você fez todo o trabalho para botar ele no poder, votou pelo congelamento de 20 anos das contas públicas", apontou Marinho a Skaf após o emedebista criticar a saúde no estado. A PEC do Teto aprovada pelo governo Temer atrela à inflação gastos com áreas justamente como a saúde.

Também França associou Skaf ao partido, depois de lembrar que o adversário trocou o PSB –pelo qual disputou a eleição de 2010 --pelo MDB de Temer e do ex-governador do Rio Sérgio Cabral.

"Pela relação que você tem, você diria que o presidente Temer é um homem honrado? Diga para nós, o presidente Temer é uma pessoa que merece a sua confiança? Merece a nossa confiança? ", quis saber França. “Essa história de padrinho já não deu certo no Brasil”, refutou Skaf, sem citar em nenhum momento o presidente. “Eu nunca tive padrinhos, eu fiz a minha carreira (...) Outras histórias não fazem parte da minha história. E eu que serei o governador".

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