Em aceno a ruralistas e ambientalistas, Marina visita fazenda modelo em GO

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

  • Walterson Rosa/Folhapress

A candidata da Rede à Presidência, Marina Silva, visitará nesta sexta-feira (24) a fazenda Santa Brígida, em Ipameri (a cerca de 190 km de Goiânia). A visita é um aceno da candidata a dois grupos eleitorais importantes, e que costumam ocupar campos opostos: produtores rurais e ambientalistas.

Antes degradada, a propriedade goiana virou modelo no uso de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta no Brasil. O método tem como objetivos aumentar a produtividade de áreas cultivadas de grãos, carne e de leite, reduzir degradações na natureza, diminuir emissões de carbono e evitar a expansão de lavouras ou pastagens em novos terrenos.

Para tanto, alterna-se a plantação de culturas com criação de gado e técnicas de reflorestamento de forma contínua, sem período ocioso para os fazendeiros. A integração ainda tende a melhorar a qualidade do solo e diminuir a incidência de pragas. A técnica tem sido bem-sucedida no Cerrado há mais de uma década.

Breno Lobato/Divulgação
Plantações na fazenda Santa Brígida

Marina Silva é historicamente conhecida por ter o desenvolvimento sustentável como uma de suas principais bandeiras, inclusive tendo sido ministra do Meio Ambiente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e filiada ao Partido Verde.

Ao mesmo tempo em que tem de discursar aos ambientalistas, Marina não quer nem pode desvalorizar os ruralistas – o agronegócio foi responsável por cerca de 23% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2017. Parlamentares ligados ao agronegócio também formam uma das maiores bancadas do Congresso, sendo composta por 261 deputados federais e senadores. Portanto, a candidata usará a fazenda Santa Brígida como exemplo de como os dois lados podem conviver, apurou a reportagem.

"A visita à fazenda para conhecer o trabalho feito lá traduz muito a parte de agropecuária constante nas diretrizes de governo", afirmou uma pessoa ligada à campanha de Marina Silva.

No local, Marina vai conversar com a dona da fazenda, Marize Porto Costa, caminhar pela propriedade e visitar partes do plantio. Além de pregar a produção sustentável por meio da biodiversidade, em discurso, Marina usará o empreendimento para demonstrar ser possível uma união da iniciativa público-privada benéfica para o setor.

A fazenda conta com o apoio da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) – vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – instituições públicas e empresas privadas. Por exemplo, as multinacionais John Deere e Syngenta.

Fabiano Bastos/Divulgação
Gado na fazenda Santa Brígida, que será visitada por Marina Silva

No programa de governo entregue ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em que dedica mais de sete das 46 páginas ao tema, a candidata ressalta a necessidade de investimentos em infraestrutura para o armazenamento e escoamento da produção agrícola, novos modais de transporte, energia limpa e "desmatamento zero" até 2030.

"A competitividade internacional da agropecuária brasileira pode ser aumentada se o país avançar nas questões socioambientais. A racionalização do uso de insumos, a promoção de técnicas de melhoria e conservação do solo, o controle biológico, com a concomitante redução do uso de agrotóxicos, e a diversificação da produção são algumas das medidas que podem ser adotadas", afirma no texto.

Ao se voltar ao agronegócio, mesmo que pautado em seu discurso de sustentabilidade, Marina ainda tenta abocanhar votos dos ruralistas. O setor é tradicionalmente ligado aos partidos que compõem o centrão, aliados do candidato Geraldo Alckmin (PSDB) nessas eleições.

Apesar da movimentação, Marina Silva não deixou de lado a defesa da agricultura familiar. Nesta quarta (22), junto ao candidato a vice na sua chapa, Eduardo Jorge, ela visitou uma cooperativa de alimentos orgânicos em Parelheiros, zona sul da cidade de São Paulo.

"É fundamental que o poder público os ajude para que possam continuar produzindo, inclusive com os programas de aquisição de alimento [por parte de prefeituras] e da alimentação de boa qualidade para as escolas. Isso ajuda os agricultores familiares a ter uma renda e vender adequadamente seus produtos", disse.

Pesquisa Datafolha desta quarta mostra que, em cenário sem Lula, Marina lidera entre os eleitores mais pobres – que ganham até dois salários mínimos – com 19% das intenções de votos, seguida por Jair Bolsonaro (PSL), com 14%. Ciro Gomes fica em terceiro com 10% e Alckmin em quarto com 9%.

Por outro lado, entre os eleitores mais ricos – que ganham mais de 10 salários mínimos –, Jair Bolsonaro (PSL) lidera com 33% das intenções de votos seguido por Ciro Gomes com 13% e Geraldo Alckmin com 11%. Marina aparece somente em sexto lugar, empatada com João Amoêdo (Novo), com 6% da preferência dos entrevistados.

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