Líderes ao Senado em SP não descartam ceder vaga a suplente sem experiência
Janaina Garcia
Do UOL, em São Paulo
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Arte/UOL
Os candidatos Eduardo Suplicy (PT), Mario Covas Neto (Podemos) e Major Olímpio (PSL)
Maior colégio eleitoral do país, com 33 milhões de eleitores aptos a votar, São Paulo tem 18 candidatos concorrendo às duas vagas no Senado Federal a que o estado tem direito.
Primeiros colocados na pesquisa Ibope para o Senado, os vereadores paulistanos Eduardo Suplicy (PT) e Mario Covas Neto (Podemos) e o deputado federal Major Olímpio (PSL) não descartaram deixar o posto, se forem eleitos, caso recebam convites para assumir vaga no Executivo.
Quando um senador deixa sua função, quem assume a cadeira é seu primeiro suplente. No caso dos três nomes que lideram a disputa no estado, seus primeiros suplentes nunca se submeteram a uma disputa eleitoral e podem, mesmo sem receber um único voto, ganhar uma vaga no Parlamento, além do salário de R$ 33,7 mil, apartamento funcional e outros benefícios.
Diante da questão, Suplicy e Covas Neto afirmam ter propostas para mudar o tipo de escolha dos respectivos suplentes, caso sejam eleitos.
O primeiro suplente de Suplicy; o sindicalista Eduardo Annunciato, o Chicão (PCdoB), dono de um patrimônio declarado de R$ 373,5 mil --um décimo dos bens do vereador. "Conheci meu suplente no dia da convenção do PT. Eu preferia que fosse uma mulher [no caso, a ex-vice-prefeita Nádia Campeão, também do PCdoB], por uma questão de representatividade, mas o partido escolheu o Chicão", afirmou o vereador e ex-senador por três mandatos.
Questionado se assumiria um posto que o levasse a deixar a cadeira no Senado para o suplente, Suplicy responde: "Não sei, por que não?". "Mas isso nunca me passou pela cabeça, tanto que nenhum dos meus suplentes anteriores assumiu. Estou ciente que aos 77 anos espero ter uma boa saúde para os próximos oito anos e tenho me cuidado", disse.
Ex-tucano e filho de um dos principais fundadores do PSDB, o ex-governador Mario Covas (1930-2001), Covas Neto disputa o Senado pela primeira vez e afirma que, se eleito, pode vira a aceitar um eventual convite a um posto no Executivo. "Não descartaria, seria falso da minha parte", afirma.
Seu primeiro suplente é o administrador de empresas Raul Abreu, que conta com R$ 11,6 milhões em bens --ou 42 vezes maior que o de Covas.
Já Major Olimpio tem como suplente o empresário Alexandro Giordano (PSL), que declarou R$1,5 milhão em bens, quase três vezes o patrimônio do candidato. "É um amigo de muitos anos, da zona norte de São Paulo. [É] um menino que vem me ajudando em muitas circunstâncias e que vendia cachorro-quente com a mãe, no passado, na rua 25 de Março", afirma Olimpio. "Ele está na executiva do partido comigo, por isso o escolhi. O [astronauta] Marcos Pontes é segundo suplente", completou.
Indagado se deixaria o cargo caso o nome de seu partido à Presidência, Jair Bolsonaro, se elegesse e o chamasse a participar do governo, Olímpio afirmou que sua ajuda será maior no Senado. "Dentro do projeto de governo de Bolsonaro, creio que ele vai precisar de uma trincheira no Senado. Eu sou um desses nomes. Mas nosso projeto maior é implementar a administração Bolsonaro", diz.
Por lei, cada senador tem direito a dois suplentes que não recebem voto, e contam apenas com uma pequena exposição na urna eletrônica. Em caso de renúncia ou morte do titular, o primeiro suplente assume a vaga. A substituição também ocorre em caso de licença do titular superior a 120 dias --até que ele retorne ao posto. Ou seja, sem um único voto, ele pode assumir 8 anos de mandato.
Se eleitos, candidatos querem mudar o sistema de escolha
Alterar as regras do jogo depois de eleitos é a proposta dos três principais nomes na corrida pelo Senado em São Paulo.
"Minha ideia é propor logo de cara que o suplente de senador seja escolhido pelo concorrente direto mais votado", afirma Covas Neto. "É muito difícil ao homem público que tenha a oportunidade de executar políticas públicas no Executivo [como ministro ou secretário, por exemplo] e se negar a isso", diz o candidato do Podemos.
Suplicy também se compromete a propor, se eleito, um projeto de emenda à Constituição estabelecendo que o suplente de senador seja definido também entre os mais votados, e que o mandato para a Casa seja de quatro, e não oito anos como é hoje.
Assim como Suplicy e Covas Neto, o candidato do PSL também defendeu que o suplente seja escolhido pelo voto. "Mas, se eu for eleito e morrer durante o mandato, pelo menos sei que assume a vaga um cidadão que tinha tudo para ser um bandido, pelas dificuldades que enfrentou, mas é um exemplo de vida, tem sensibilidade pública e, tenho certeza, não me envergonharia."
Suplente está comprometido com ideias, dizem candidatos
Covas Neto salientou que seu primeiro suplente o acompanha "nas pautas e nos compromissos assumidos", o que, na avaliação dele, representaria manutenção do compromisso com o eleitor.
Já Suplicy afirma o seu eventual substituto se comprometeu publicamente a assumir suas propostas, caso seja empossado um dia. "Uma delas, que é a que eu sempre defendi e voltarei à pauta, é meu programa de renda básica cidadã [bandeira de Suplicy desde legislaturas passadas, mas ainda não implementada", citou.
Para a cientista política Carolina de Paula, coordenadora dos estudos sobre eleições no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), o modelo "é um atentado ao sistema representativo e um desrespeito ao voto do eleitor". "Muitos desses suplentes não têm compromisso de agir perante o eleitorado. Eles não serão avaliados, porque não prometeram nada –nem têm a quem mostrar, ficam ali para cumprir mandato", afirma ela.
Na disputa pelas duas vagas ao Senado, Eduardo Suplicy (PT) lidera com folga, segundo o Datafolha. Tem 32% das intenções de voto. Em seguida aparecem Mario Covas Neto (Podemos), com 18%, e Major Olímpio (PSL), com 13%.
Mesmo quem está se candidatando a um cargo eletivo pela primeira vez não descarta a possibilidade de trocar o Senado por um cargo no Executivo.
"Em um primeiro momento [se eleito], o foco é continuar no mandato, porque o Legislativo tem que ser valorizado, e no Brasil, não é. Entretanto, se fosse uma urgência, uma demanda de extrema necessidade para a nação, eu atenderia", diz o professor Pedro Henrique de Cristo.
Candidato da Rede e fundador do Movimento @Brasil21, focado em inovação e tecnologia como instrumentos de renovação via políticas públicas, Cristo afirma que sua candidatura "é fruto de uma construção coletiva" e que seus suplentes têm perfis complementares ao dele.