Após "bênção" de Lula na prisão, Haddad é anunciado candidato a presidente

Nathan Lopes

Do UOL, em Curitiba*

O PT anunciou, nesta terça-feira (11), a substituição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na chapa do partido ao Planalto. A partir de agora, o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) assume a candidatura a presidente.

A decisão foi tomada pela Executiva do partido no início da tarde e divulgada para os militantes horas depois, em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde o ex-presidente está preso desde 7 de abril. O pedido de troca da candidatura foi registrado minutos depois no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) --que estabeleceu as 19h de hoje como limite para que a mudança fosse feita.

Leia também:

O anúncio foi feito pela presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), que afirmou que o momento é de dor e indignação por "arrancarem o nosso candidato". Ela disse que Haddad foi o candidato indicado por Lula e confirmou que Manuela D'Ávila (PCdoB) será a candidata a vice na chapa, refletindo acerto que já havia sido feito quando o PCdoB desistiu de candidatura própria a presidente para se coligar ao PT.

Rodolfo Buhrer/Reuters
Haddad levanta mão de Manuela após encontro com Lula para substituição na chapa

Com a decisão do TSE de vetar Lula no dia 31 de agosto, Haddad já foi testado em duas pesquisas eleitorais como o candidato do PT ao Planalto. No Ibope divulgado no dia 5 de setembro, ele apareceu com 6% das intenções de voto. Já no Datafolha apresentado na última segunda (10), o ex-prefeito teve 9% das intenções de voto, empatado tecnicamente pela margem de erro (2 pontos pecentuais) com Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), ambos com 13%, e com Geraldo Alckmin (PSDB), 10%.

Em seu primeiro discurso como candidato a presidente, Haddad relembrou o início de sua militância no PT. "Nos anos 80, lutamos pela redemocratização do país. Depois de vencida a luta contra a ditadura, eu imaginava que meus filhos e netos teriam outras frentes de batalha, mas que a democracia estaria consolidada. O que aconteceu com o Brasil?", questionou.

O agora presidenciável também falou em "dor" pela proibição da candidatura de Lula. "Eu sinto a dor de muitos brasileiros e brasileiras que vão receber hoje a notícia de que não vão poder votar em quem queriam ver subir a rampa do Planalto", disse. Ao longo de seu discurso, Haddad afirmou que, em seu governo, Lula "incomodou" uma "elite que só vinha de fracasso após fracasso" e que desde a reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014, tentava "instabilizar" o país.

"Só que tem um problema. Nós temos um líder, chamado Lula, que nos inspira a todos. Eles podem até nos derrubar em um dia. No dia seguinte a gente levanta, olha para o espelho e diz: é mais um dia de luta. Mais um dia de batalha por um Brasil diferente"

Fernando Haddad durante discurso em que assumiu a cabeça de chapa do PT

Enquanto Haddad ainda discursava, uma imagem que o assemelha à figura de Lula, com os dizeres "Lula é Haddad presidente", foi publicada em sua conta no Twitter.

Durante o anúncio, Gleisi, Haddad e Manuela estavam acompanhados de lideranças do PT como a ex-presidente Dilma Rousseff, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e o senador Lindbergh Farias (RJ).

Após o comunicado de Gleisi, foi lida uma carta em nome de Lula, em que ele reafirmou sua inocência nos processos em que é investigado e disse indicar Haddad para seu lugar na chapa presidencial.

"Os tribunais proibiram minha candidatura à Presidência. Na verdade, proibiram o povo brasileiro de votar livremente para mudar a triste realidade do Brasil", escreveu o ex-presidente. "Estou indicando ao PT e à coligação a substituição da minha candidatura pela do companheiro Fernando Haddad, que desempenhou com extrema lealdade a posição de vice".

Reuniões

A militância petista começou a se reunir nos arredores da sede da PF nesta terça a partir das 14h. Durante a espera pelo anúncio oficial de Haddad, um sistema de som tocava jingles de campanha --um deles, em ritmo de forró, já adaptado para a virada de chave do PT: "A injustiça não vai parar o sonho. A nossa estrela brilha em qualquer lugar. Lula mostrou o caminho da verdade. É Haddad para fazer aquele Brasil voltar. Vem com Haddad, vem com Lula, vote 13, vem com o povo. É o Brasil feliz de novo".

Pela manhã, Executiva Nacional do partido se reuniu em um hotel no centro de Curitiba. Do lado de fora, manifestantes gritavam "Lula livre" e cantavam músicas que tem o petista como tema. Militantes também se manifestaram na região da PF, onde está instalado um acampamento que acompanha Lula desde a prisão.

Ao longo da segunda, Haddad e advogados do ex-presidente nas esferas eleitoral e criminal estiveram na PF com Lula para definir o rito da troca de candidatura.

Já no final da tarde, durante os discursos de Gleisi e Haddad, o clima era de consternação, mas o ex-prefeito foi cumprimentado com um "boa noite, presidente" ao iniciar sua fala e foi ovacionado ao dizer que o PT ia brigar pela vitória na eleição. Ao final do discurso, Haddad e os presentes fizeram um "L" com as mãos e entoaram o cântico "olê olê olê olá, Lula Lula".

Plano B nunca foi admitido

O PT nunca assumiu oficialmente a possibilidade de escolher um Plano B caso a candidatura de Lula fosse proibida pela Justiça eleitoral. O nome de Haddad, porém, sempre foi ventilado pela imprensa, ao lado de outros como o ex-governador Jaques Wagner e o ex-chanceler Celso Amorim. Internamente, o paulistano enfrentava a resistência de correntes mais radicais do partido, que não o viam com o perfil para substituir Lula.

Coordenador do programa de governo da chapa, Haddad entrou para a lista de advogados do ex-presidente para encontrar-se com ele com mais frequência.

A indicação de Haddad como vice na chapa presidencial, em agosto, sinalizou que o ex-ministro assumiria a posição principal da coligação caso o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) impedisse o registro de Lula. Nos primeiros programas eleitorais, Haddad era apresentado como vice, mas as campanhas do partido já indicavam que "Haddad é Lula", para iniciar uma tentativa de transferência de votos.

O PT chegou a tentar recursos no STF (Supremo Tribunal Federal) para garantir Lula na eleição ou, ao menos, esticar o prazo para troca da candidatura até 17 de setembro, limite estabelecido pelo calendário eleitoral. Todos foram negados, o último deles no mesmo momento em que Haddad era anunciado como substituto de Lula.

* Colaborou Ana Carla Bermúdez, em São Paulo

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos