A 16 dias do pleito, Pimentel dá "pedalada fiscal" de R$ 910 milhões em MG

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

  • Ricardo Stuckert/Divulgação

    Fernando Haddad (PT) faz campanha em Ouro Preto ao lado do governador Fernando Pimental, também do PT

    Fernando Haddad (PT) faz campanha em Ouro Preto ao lado do governador Fernando Pimental, também do PT

Faltando 16 dias para o primeiro turno das eleições de 2018, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), candidato à reeleição, engrossou os cofres públicos com um valor em torno de R$ 910 milhões, por meio da antecipação do pagamento de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), de novembro e dezembro, pela estatal Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais).

Nesta quinta-feira (20) venceu o prazo determinado por Pimentel em decreto para que a empresa energética antecipasse 75% do valor do ICMS recolhido em agosto de operações que serão realizadas em novembro e em dezembro. De acordo com o decreto do petista, publicado no sábado (15) pelo Diário Oficial do estado, a empresa será ressarcida da antecipação, com um desconto no pagamento restante de 25% do imposto.

O segmento energético de Minas Gerais recolheu R$ 607 milhões de ICMS em agosto. A Cemig é responsável pela quase totalidade desse valor. Com a antecipação, a empresa teria de recolher 75% de dois meses desse imposto, algo em torno de R$ 910 milhões.

A Cemig informou nesta sexta-feira (21) que o decreto não antecipa recursos de 2019 da companhia, e que não haveria impactos financeiros para a empresa e consumidores.

"O decreto não trará nenhum impacto financeiro para os consumidores, nem para a companhia", afirmou a nota da energética. "Ainda não houve qualquer antecipação de recursos ao governo de Minas Gerais em relação a 2019."

Desde 2016, o governo mineiro faz escalonamento dos salários dos servidores do Executivo e, mesmo as datas programadas, três vezes ao mês, não são cumpridas. Há também atraso no pagamento de fornecedores e aos Poderes Legislativo e Judiciário de Minas Gerais. As prefeituras também estão recebendo com atraso os repasses do governo estadual. A previsão para 2018 é de a máquina pública mineira acumule um déficit de R$ 8,08 bilhões, com uma receita de R$ 92,97 bilhões e despesa de R$ 101,05 bilhões. Ano passado, o déficit foi de R$ 9,76 bilhões.

De acordo com a Secretaria de Fazenda de Minas Gerais, "como a obrigação tributária será quitada pelo próprio contribuinte devedor, a antecipação da data de vencimento do imposto, para momento anterior ao fato gerador, não configura operação de crédito".

"O fato de o decreto estabelecer vencimento de parcela residual do ICMS no exercício de 2019 é legal e constitucional. Trata-se de um imposto que pressupõe a continuidade da atividade da empresa, de modo que eventual antecipação não afeta o montante a ser recolhido durante o ano vindouro", afirmou a Secretaria por meio de nota enviada à reportagem.

O comunicado ainda diz que a antecipação do prazo de recolhimento do ICMS devido nas operações de energia elétrica se fundamenta no parágrafo único do artigo 160 do Código Tributário Nacional e no artigo 34 da Lei 6.763/75.

Despesas com créditos antecipados é "pedalada", diz especialista

O advogado Sebastião Ventura, do Instituto Millenium, especialista em direito do Estado, afirmou que a iniciativa do governador é uma "pedalada fiscal clássica". Segundo Ventura, a legislação proíbe governos estaduais e prefeituras de operações de antecipação de receita, no último ano de mandato. A Constituição, por sua vez, veda a realização de despesas com créditos adicionais, a exemplo do recolhimento antecipado de impostos. "É uma clássica pedalada fiscal, quando cria-se um decreto ou uma rubrica, com uma aparente legalidade, para ter acesso ao crédito", diz o especialista. "Isso vai criando buracos e fazendo com que a máquina pública continue uma bagunça no Brasil", disse.

"Decretos como esse criam duas situações mais pra frente: o governante terá de optar entre ampliar o endividamento ou aumentar impostos".

Anastasia critica medida

O principal adversário de Pimentel, Antonio Anastasia (PSDB) fez duras críticas ao decreto e disse que Pimentel "busca antecipar receita que sequer se sabe se será gerada".

"É mais uma medida ilegal do governo (Pimentel), que fere a Lei de Responsabilidade Fiscal", afirmou o tucano.

"Não bastasse a irresponsabilidade pela qual governo Minas Gerais nos últimos anos, agora Pimentel manobra estatais para buscar antecipar receita que sequer se sabe se será gerada", disse.

O líder da oposição na Assembleia Legislativa, deputado estadual Gustavo Valadares (PSDB), candidato à reeleição, afirmou que Pimentel "tenta camuflar com o decreto o buraco em que sua gestão colocou o Estado".

"Pimentel vai antecipar recursos em plena campanha e deixar um rombo ainda maior nas contas do Estado, depois das eleições", afirmou Valadares.

Pesquisa Datafolha desta quinta (20) mostra que Antonio Anastasia lidera a disputa com 33% das intenções de voto, seguido por Fernando Pimentel, com 23%. Este tem maior índice de rejeição: 38% dos entrevistados em Minas não votariam nele, contra 26% em relação a Anastasia. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

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