Após enquadrada de Bolsonaro, vice muda tom e economista cancela agenda

Gustavo Maia

Do UOL, em São Paulo

  • Silvia Constanti/Agência O Globo

    Paulo Guedes cancelou pelo menos três eventos nos últimos dois dias

    Paulo Guedes cancelou pelo menos três eventos nos últimos dois dias

Ao fim de uma semana em que provocaram polêmicas e foram enquadrados pela campanha do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), o candidato a vice na chapa, general Hamilton Mourão (PRTB), abrandou o tom do seu discurso enquanto o economista Paulo Guedes, espécie de guru do candidato, cancelou pelo menos três eventos nos últimos dois dias.

Bolsonaro está internado há duas semanas, desde que levou uma facada durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG). A 16 dias do primeiro turno das eleições, o candidato e a cúpula do PSL se irritaram com a repercussão negativa de declarações de Mourão e Guedes.

Ambos foram orientados a reduzir aparições públicas e o contato com a imprensa.

Na segunda-feira (17), Mourão declarou que crianças criadas por "mãe e avó" em "áreas carentes" tendem a virar "elementos desajustados" e ingressar em "narcoquadrilhas" e chamou de "mulambada" países emergentes aliados do Brasil durante governos anteriores.

O militar da reserva do Exército logo se tornaria alvo de ataques de adversários na corrida pelo Palácio do Planalto.

Dois dias depois, o jornal "Folha de S.Paulo" informou que o economista anunciou a uma plateia restrita o interesse em recriar um imposto nos moldes da CPMF, que incide sobre movimentação financeira, além de instituir uma alíquota única do IR (Imposto de Renda) de 20% para pessoas físicas e jurídicas. O evento ocorreu na terça (18).

Os efeitos do freio de arrumação do comando da campanha começaram a ser percebidos já na terça (20), quando Mourão tentou evitar a imprensa na saída de uma palestra na Associação Comercial da capital paulista.

Nesta quinta (20), ele driblou jornalistas depois de participar de evento com empresários do setor de máquinas e equipamentos, também em São Paulo. Sua assessoria tentou inclusive vetar a presença da imprensa no local, o que acabou não ocorrendo.

Suamy Beydoun/Agif/Estadão Conteúdo
Mourão tem tentado evitar a imprensa

Coordenador do programa econômico da candidatura de Bolsonaro, Guedes cancelou de última hora a participação em dois eventos com empresários e investidores marcados para esta sexta-feira (21), em São Paulo, na Amcham-Brasil e na corretora XP investimentos.

Ele já havia desistido de participar de outro evento, com o banco Credit Suisse, nesta quinta (20).

A reação política à proposta aventada por Guedes, cotado como provável ministro da área econômica do eventual governo Bolsonaro, levou o presidenciável a negar que a intenção fosse verdadeira, por meio de sua conta no Twitter.

"Ignorem essas notícias mal-intencionadas dizendo que pretendermos recriar a CPMF. Não procede. Querem criar pânico pois estão em pânico com nossa chance de vitória", escreveu o candidato.

Na manhã desta sexta, o presidenciável voltou a se manifestar sobre o tema em suas redes sociais. "Votei pela revogação da CPMF na Câmara dos Deputados [em 2007] e nunca cogitei sua volta. Nossa equipe econômica sempre descartou qualquer aumento de impostos. Quem espalha isso é mentiroso e irresponsável. Livre mercado e menos impostos é o meu lema na economia!", publicou Bolsonaro.

A proposta abriu um flanco para críticas de adversários. No debate promovido pela TV Aparecida na noite desta quinta, por exemplo, os candidatos Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede) criticaram a ideia.

À Amcham, Guedes apenas comunicou que não poderia participar a uma hora do evento, marcado para as 9h30, segundo a assessoria da entidade.

A reportagem apurou que o economista alegou "problemas de agenda" para cancelar com a corretora. Ele falaria a investidores a partir das 14h, em evento que conta com o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e o ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Guedes não dispõe de agenda pública. A reportagem tentou entrar em contato com ele por telefone e por mensagens enviadas pelo WhatsApp, mas até as 9h45 ainda não havia recebido resposta.

Coincidentemente, ele deverá almoçar com Mourão neste sábado, no Rio de Janeiro, onde os dois moram. O encontro consta da agenda do militar como "a princípio restrito à imprensa".

Nesta quinta, o candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro apresentou uma versão abreviada da palestra que tem feito em diversas cidades brasileiras e, respondendo perguntas da plateia e de representantes da Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos), frisou que quem decidirá em caso de vitória nas eleições do mês que vem será Bolsonaro.

Bolsonaro e aliados têm se incomodado com a movimentação de Mourão e de seu partido por mais protagonismo na campanha.

O próprio Bolsonaro vetou, por exemplo, a ideia de que o general da reserva do Exército pleiteasse a participação em debates no seu lugar, como defendia o PRTB.

Durante a palestra desta quinta, Mourão foi perguntado sobre a proposta aventada por Bolsonaro de unificar ministérios em uma superpasta de economia, que incluiria o de indústria e comércio."Nós não sabemos de tudo, muito pelo contrário", declarou.

Mais cedo, em Catanduva, a 385 quilômetros da capital, fechando o terceiro dia de seu giro de campanha no interior paulista, Mourão falou a um grupo de cerca de 300 pessoas em um clube privado e também evitou a imprensa.

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