Em ato com Haddad e Manuela, mulheres falam em "ameaça" Bolsonaro

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

  • Miguel SCHINCARIOL / AFP

    25.set.2018 - Haddad (PT) discursa durante ato de campanha no centro de São Paulo

    25.set.2018 - Haddad (PT) discursa durante ato de campanha no centro de São Paulo

Portando bandeiras e camisetas nos tons roxo e rosa, mulheres de todas as idades se reuniram na praça da República, no centro de São Paulo, na tarde desta terça-feira (25) para declarar apoio à chapa de Fernando Haddad (PT) e Manuela D'Ávila (PCdoB) para a presidência da República. Batizado de "Primavera das Mulheres", o ato foi convocado pelos partidos que compõem a chapa, além de movimentos sociais, e direcionou críticas ao deputado federal Jair Bolsonaro (PSL).

As mulheres seguiram em caminhada com Manuela até o Theatro Municipal, também no centro da cidade, onde foi realizado um ato com a presença de Haddad.

Segundo pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (20), a maior parte do eleitorado que não sabe em quem irá votar para a Presidência é composta por mulheres. Enquanto 38% afirmam ainda não saber em quem votar, 13% dizem pretender votar nulo ou branco --o que corresponde a quase 40 milhões de eleitoras.

A assistente social Maria do Amparo Oliveira, 46, participava do ato usando uma tiara com os dizeres "Ele Não", em referência ao movimento contra Bolsonaro que se disseminou nas redes sociais.

"Nossa democracia está em risco", afirmou Maria do Amparo, dizendo que irá votar na chapa PT-PCdoB porque "o projeto Lula-Haddad é progressista e fala em defesa dos direitos sociais".

"Eu fico muito preocupada e vim para a rua me manifestar, para dizer que sou contra o Bolsonaro, contra a ditadura", complementou.

Durante a concentração para a caminhada, diversas vezes o grito de "ele não" foi puxado por locutoras ao microfone. "Vamos vingar a Dilma, que foi retirada injustamente, e colocar a Manuela no Jaburu [residência oficial do vice-presidente, em Brasília]", disse uma locutora em outro momento.

Ana Carla Bermúdez/UOL
Eunice Peireira dos Santos, 62, esteve no ato e defendeu a participação de mulheres na política
A aposentada Eunice Pereira dos Santos, 62, contou que decidiu participar do ato por acreditar ser muito importante que as mulheres participem da política "na atual conjuntura que estamos vivendo".

"Tudo uma incerteza, né? Com um político, do outro lado, que fala uma coisa e depois fala outra, que não tem seriedade, que julga as mulheres, que condena as mulheres mães solteiras", afirmou, fazendo referência a uma fala do candidato a vice de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão (PSL).

Eunice citou políticas adotadas na gestão Lula para explicar o motivo do seu voto em Haddad e Manuela. "Quinze anos atrás, quando o Lula entrou, a gente teve uma abertura muito grande para financiar imóvel", diz a aposentada, que afirmou ainda que sua filha entrou na universidade por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada).

Ana Carla Bermúdez/UOL
Gabriella Ramires, 24, disse considerar Haddad o "mais preparado" para assumir a Presidência
"A minha luta é contra o Bolsonaro. Eu vejo o PT como o partido de esquerda mais forte do país nesse momento", afirmou Gabriella Ramires, 24. Ela disse que, apesar de ter "algumas críticas" à gestão de Haddad na prefeitura de São Paulo, ainda o considera o "mais preparado" para assumir a Presidência.

"Ele fala na representatividade da população LGBT, do povo indígena, das próprias mulheres", diz. "O Bolsonaro, por exemplo, tem um discurso de que as minorias têm que se curvar às maiorias. Mas foram as minorias que construíram esse país".

Segundo a secretária nacional de mulheres do PT, Anne Karolyne, 31, a caminhada representa uma "luta simbólica contra o fascismo" e "pela autonomia das mulheres".

Manuela chegou por volta das 18h30 e foi recebida pelas mulheres com gritos de "Manu no Jaburu" e "Eu tô com ele, eu tô com ela. Eu tô com Lula, Haddad e Manuela". A candidata a vice foi rodeada por militantes que pediam para tirar "selfies" com ela. Uma das mulheres presentes entregou a Manuela uma tiara com o número 13 enfeitada com flores e glitter. A candidata riu e logo a colocou na cabeça.

Manuela caminhou ao lado de Ana Estela Haddad, mulher de Fernando Haddad, e de Ana Bock, candidata a vice-governadora de São Paulo na chapa de Luiz Marinho (PT).

"Ele não"

Ao discursar no carro de som, Manuela afirmou que a campanha de sua chapa não se destaca apenas por ter mulheres candidatas, mas também por ter "um projeto de país que liberta a todo o povo brasileiro". Ela defendeu a valorização do trabalho da mulher, com remuneração igual à dos homens, e também falou na revogação de medidas implementadas no governo Michel Temer (MDB), como a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) do teto de gastos.

Haddad, que foi o último da noite a discursar, pareceu desconfortável em alguns momentos. O candidato foi o único entre os que estavam no carro de som a não engatar em um grito de "ele não", puxado pelos militantes, e demorou a entrar em um coro de "Lula livre". 

Em seu discurso, Haddad lembrou mais uma vez de sua gestão à frente do MEC (Ministério da Educação) e disse ter implementado medidas que aumentaram o número de mulheres em cursos de graduação, pós-graduação e especialização.

O candidato afirmou, ainda, que é papel do estado adotar medidas para que o mercado de trabalho trate homens e mulheres de forma igual. "Isso é papel do estado, sim, não é uma questão de deixar o mercado livre. Precisamos criar estímulos", disse, em uma crítica indireta a falas de Bolsonaro, que argumenta que o tratamento igualitário a mulheres e homens já está previsto na CLT.

Em entrevista a jornalistas após o ato, Haddad disse que vai se "inspirar" em experiências internacionais para que seja aplicado uma espécie de "selo de qualidade" às empresas que aderirem a políticas de valorização da mulher.

"É um selo de qualidade, mas com metas bastante específicas, com o poder público estimulando essas empresas a aderirem a esse pacto", disse.

Perguntado se, caso seja eleito, pretende adotar cotas para mulheres nos ministérios, Haddad afirmou que "a meta é a paridade". "No governo, a perspectiva é de paridade em conselhos, em cargos comissionados, e atingir o alto escalão, também", disse. O candidato, no entanto, não deixou claro se irá destinar metade dos ministérios para mulheres e nem quais serão as metas específicas a serem alcançadas.

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