Guerra do adesivo e Daciolo "antiestresse": bastidores do debate da Record

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

  • Paulo Lopes/Estadão Conteúdo

    Ciro, Marina e Boulos usaram adesivos com seus números de urna; Daciolo, não

    Ciro, Marina e Boulos usaram adesivos com seus números de urna; Daciolo, não

Dos oito candidatos à Presidência da República que participaram do debate promovido pela Record TV na noite deste domingo (30), seis fizeram uso de adesivo para lembrar ao eleitor qual é o seu número na urna. E até esse pequeno item agregado ao vestuário dos presidenciáveis gerou debates, análises e cuidados ao longo das quase duas horas e meia de embates.

O debate deste domingo foi o penúltimo antes do primeiro turno das eleições, e uma das últimas chances de os candidatos terem um grande tempo de exposição diante do público. Os adesivos - assim como os ataques contundentes aos líderes das pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) - eram estratégicos em busca de uma vaga no segundo turno.

Leia mais sobre o debate:

Os números estavam com destaque nas roupas de Guilherme Boulos (PSOL), Ciro Gomes (PDT) e Alvaro Dias (Podemos) desde o primeiro bloco. Haddad apresentava apenas uma estrela vermelha do PT na lapela de seu paletó. Vendo a utilização por parte dos adversários, Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) providenciaram os seus para o segundo bloco. Henrique Meirelles (MDB) só ganhou um adesivo no terceiro bloco.

Mas o improviso tem seus efeitos. Marqueteiro da campanha de Alckmin, Lula Guimarães analisou a posição do adesivo de Boulos, dando a entender que a elogiava. Nos bastidores, ao longo do terceiro bloco do debate, ele destacou que o item ficou no alto, à esquerda do candidato do PSOL, longe de interferências visuais dos microfones da bancada.

Os candidatos que usaram a estratégia tardiamente sofriam com o improviso. O adesivo de Alckmin refletia com a iluminação no estúdio, o que dificultou a transmissão da mensagem a quem estava acompanhando pela televisão. E o fato de ter sido colocado ao longo do debate fez com que as equipes do tucano, de Meirelles e de Marina não conseguissem ajustar a posição do adesivo com as dos microfones. O da candidata da Rede, que na verdade se tratava de um broche, quase sempre ficava parcialmente escondido pelo equipamento.

Alvaro Dias, porém, não se entendia com seu adesivo, que apareceu descolado em diversos momentos. Depois de passar a maior parte do debate ao lado esquerdo da roupa, ele inverteu a posição no último bloco, o das considerações finais, praticamente o único momento em que apareceu colocado corretamente.

Ciro sempre ficava de olho no seu. Antes de se despedir no debate, ele ajeitou sua roupa e ainda se certificou de que estava tudo certo com seu adesivo. Na internet, eleitores elogiaram a iniciativa, mas também houve brincadeiras com o tamanho do número colado ao paletó do pedetista.

Além de Haddad, Cabo Daciolo (Patriota) não fez uso do seu número na urna com algum item visual ao longo do debate. E há um motivo, segundo ele: "porque eu acredito no sobrenatural de Deus". "O Espírito Santo de Deus vai fazer todos sonharem comigo e pensarem no número 51", explicou ao UOL após o debate. Ele diz que Deus irá induzir as pessoas a votarem nele mesmo sem querer.

"Até vão ter alguns que vão sair de casa pensando em outro número, mas chegar na hora de apertar lá, vai apertar 51, vai confirmar e vai falar: 'ih, agora já foi'. Foi Deus que determinou. Nós somos o próximo presidente da República", disse Daciolo.

O efeito Daciolo

Mais uma vez, a presença de Daciolo, com seus gestos, críticas com linguajar popular e menções à Bíblia, foi um show à parte no debate.

Enquanto os outros candidatos interagem em suas perguntas e respostas, o candidato do Patriota fica inquieto, com as mãos nos bolsos, no aguardo do seu momento de aparecer. E quando chega a hora, até a tensão dos outros candidatos dá lugar a uma descontração ou surpresa.

Haddad, por exemplo, não tira os olhos de sua câmera, ficando fixo, mal se mexendo no estúdio mesmo quando não está participando de algum embate. O único momento em que o petista deixa a posição de congelamento é na participação de Daciolo.

No terceiro bloco, o candidato do Patriota fez críticas ao petista e a Meirelles. Haddad, então, despertou e se virou para Daciolo, com uma expressão de incredulidade com o que ouvia. O petista, inclusive, chegou a fazer um comentário, que o deixou com um sorriso no rosto, a seu vizinho de bancada, Alvaro Dias, que mal reagiu –aliás, foi comum a falta de reação do candidato do Podemos às interações propostas por Haddad. O petista ainda riu quando Daciolo falou sobre "óleo de peroba".

Mas a pergunta, sem contexto, de Daciolo a Ciro sobre fundo eleitoral fez Boulos gargalhar e até Meirelles sorrir. Quem também esboçou um sorriso foi Alckmin após o adversário criticar a TV Globo, que estaria impedindo a participação de Daciolo no próximo debate, e ao elogiar a Record TV pela mensagem que transmite em suas telenovelas. 

A plateia, então, não se continha a cada participação do candidato: de aplausos a gargalhadas. A cada "glória" mencionado por ele, vinha a repetição do auditório, dando a sensação não de se estar em um debate, mas em um culto. Assim que a participação de Daciolo acaba, a tensão volta a pairar no estúdio, e o candidato do Patriota retorna a sua posição de inquietude, com as mãos nos bolsos.

Boulos também tentou uma gracinha no final do debate, ao mostrar uma cola na mão, à la Bolsonaro --o candidato do PSL levou anotações na mão no debate da RedeTV, em agosto. A única reação foi de seus correligionários na plateia.

Se for confirmada a ausência de Daciolo na próxima quinta-feira (4), pode-se ter uma certeza: o clima de tensão deverá imperar do começo ao fim no debate da TV Globo.

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos