Empresários doam R$ 581 mil à campanha de Paes no Rio

Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

  • José Lucena/Futura Press/Folhapress

    19.set.2018 - Eduardo Paes durante debate promovido por SBT, UOL e Folha de S.Paulo

    19.set.2018 - Eduardo Paes durante debate promovido por SBT, UOL e Folha de S.Paulo

Líder das pesquisas de intenção de votos ao governo do Rio, o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (DEM) recebeu doações no total de R$ 581 mil de um grupo de empresário para sua campanha. As doações foram registradas no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Em comparação, três empresários doaram para o candidato Indio da Costa (PSD) em um total de R$ 300 mil, dois deles em comum com Paes. Não há empresários de companhias grandes que deram dinheiro para o candidato Romário (Podemos), que só arrecadou R$ 45 mil de pessoas físicas.

A legislação eleitoral proíbe a doação de pessoa jurídica para as campanhas. Essa regra foi criada após a Operação Lava Jato mostrar que empresas doavam em larga escala, legal e ilegalmente, para candidaturas até a eleição 2014. Parte dessas companhias, como a Odebrecht e a JBS, tinha benefícios e mantinham relação indevida com governantes que tinham contribuído para eleger.

A doação de pessoa física continua permitida desde que com a limitação de 10% dos rendimentos brutos registrados no imposto de renda dos indivíduos do ano anterior.

No total, foram 15 empresários que fizeram doações à campanha de Paes. Eles atuam em setores diversos como o atacadista, incorporadora imobiliária, revendedora de automóveis, indústria de papel, marca de roupa e clínica de diagnóstico --esses segmentos são beneficiados por incentivos fiscais seja na atividade ou na compra de materiais, segundo informou o governo do estado.

No total, o TCE (Tribunal de Contas do Estado) apontou que o estado do Rio deu R$ 185 bilhões em incentivos fiscais de 2007 a 2015, sendo esse um dos motivos para os problemas financeiros do governo. Em palestra na Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), durante a campanha, Paes afirmou que vai manter os incentivos fiscais, mas prometeu verificar se esses estão sendo mal utilizados.

O empresário que doou maior valor para Paes foi Oskar Metsavaht, dono da loja de roupas Osklen. No total, deu R$ 100 mil. Sua empresa, com razão social Talhos e Retalhos Atelier Confecção de Roupas LTDA., goza de isenção fiscal, segundo confirmou o governo do estado. Procurado por meio de assessoria de imprensa, o dono da loja informou que a doação foi feita pela pessoa física porque o empresário apoia Eduardo Paes. A assessoria ainda informou que a "Talhos e Retalhos se enquadrou na Lei de Moda apenas há quatro anos e ela está vigente até 2032, portanto estará vigente independentemente de qual governador seja eleito", ressaltando que vale para todas as empresas do setor.

No ramo de construção e imobiliário, Eli Horn, sócio da Cyrela, e Roberto Kreimer, da Kreimer Engenharia, fizeram doações entre R$ 40 mil e R$ 75 mil. Horn também doou valores para a campanha de Indio da Costa.

Entre outros grupos empresariais, sócios do Monteiro Aranha (com empresas nos setores de papel, imobiliário e gás) e Klabin  SA (celulose e papel) também fizeram doações para a campanha do ex-prefeito carioca. Três membros da família Klabin deram R$ 90 mil no total, e Joaquim Monteiro de Carvalho, R$ 40 mil.

As doações dos empresários representam 9,5% das receitas da campanha de Paes. No total, ele já arrecadou R$ 6,1 milhões, a maior receita entre todos os candidatos. Todo o restante dos recursos provém de fundos do seu partido, o DEM.

Durante sua gestão na prefeitura do Rio, Paes manteve boa relação com a iniciativa privada e expandiu a implantação de PPPs (Parcerias-Público Privada). Foi assim para projetos como o Parque Olímpico e o Porto Maravilha, realizados com a Odebrecht. Além disso, há o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) construído e operado em convênio com a concessionária VLT Carioca, que inclui uma série de empresas, entre elas, a CCR e a própria Odebrecht.

Doações voluntárias e espontâneas, diz campanha de Paes

Questionada sobre as doações de grandes empresários na campanha para o estado, a assessoria de Paes informou: "Todas as doações foram feitas na pessoa física, de forma voluntária e espontânea, e todas dentro dos limites estabelecidos pela legislação eleitoral".

Nas investigações da Lava Jato, o ex-marqueteiro de Paes Renato Pereira afirmou que houve caixa dois na sua campanha para reeleição à prefeitura do Rio, em 2012. Em delação, o ex-executivo da Odebrecht Benedito Junior confirmou essa versão.

Oficialmente, a campanha de Paes de 2012 teve receita de R$ 21,2 milhões, uma parte composta de doações de empresas (no entanto, não há registro de doações da Odebrecht). Não há denúncia feita contra o político, e o caso se encontra em estágio de investigação.

Paes negou essas acusações em depoimento à Justiça Federal em junho: afirmou que todos os valores recebidos por sua campanha foram declarados.

O ex-secretário municipal de Obras Alexandre Pinto, réu na Lava Jato, também afirmou em depoimento na quinta-feira (4) à 7ª Vara Criminal Federal no Rio que Paes favoreceu a construtora em licitações.

Em seu Twitter, o candidato do DEM lamentou o que descreveu como uma "divulgação às vésperas da eleição com o claro objetivo de influenciar o processo eleitoral". Paes definiu os fatos como "mentirosos e sem provas, baseados no 'disse me disse'".

Por meio de nota, a Odebrecht informou que "continua colaborando com a Justiça e reafirma o seu compromisso de atuar com ética, integridade e transparência".

O que dizem as empresas

A reportagem do UOL procurou os doadores por meio de suas empresas.

A assessoria de imprensa da Osklen informou que Oskar  Metsavaht não se pronunciaria sobre as doações.

A Cyrela disse, por meio de sua assessoria, que não comentaria as doações à campanha de Paes.

A assessoria de imprensa da Klabin  SA informou: "Essas doações não têm relação com a Klabin  SA, não há vínculos com a empresa".

A assessoria da Monteiro Aranha confirmou a doação do sócio Joaquim Alvaro Monteiro de Carvalho, mas informou que ele não faz parte da administração da empresa. E disse que "a doação para a campanha de Eduardo Paes é de caráter estritamente pessoal". Ainda destacou que o grupo não tem isenções fiscais do governo do estado. 

A reportagem tentou contato com a Kreimer Engenharia sem sucesso.

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