Wilson Witzel e Eduardo Paes disputarão 2º turno no Rio de Janeiro

Gabriel Sabóia e Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio

  • Arte/UOL

    Os candidatos ao governo do Rio Eduardo Paes (à esq.) e Wilson Witzel (à dir.)

    Os candidatos ao governo do Rio Eduardo Paes (à esq.) e Wilson Witzel (à dir.)

Wilson Witzel (PSC) e Eduardo Paes (DEM) vão se enfrentar no segundo turno para o governo do Rio de Janeiro.

Com 100% das urnas apuradas, Witzel teve 41,28% dos votos (3.154.771 de votos) e Paes, 19,56% (1.494.831 de votos) --o candidato do PSC superou o democrata em mais de 1,659 milhão de votos.

Na sequência, vieram Tarcísio Motta (PSOL) com 10,72% dos votos, Romário (Podemos) com 8,70%, Pedro Fernandes (PDT) com 6,11%, Indio da Costa (PSD) com 5,95%, Marcia Tiburi com 5,85%, Marcelo Trindade (Novo) com 1,14%, André Monteiro (PRTB) com 0,46% e Dayse Oliveira (PSTU) com 0,23%.

Os votos brancos somaram 5,70% e os nulos, 13,64% do total (1.292.401 votos) --parte desse percentual corresponde a possíveis votos em Anthony Garotinho (PRP). O ex-governador fluminense teve a candidatura barrada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com base na Ficha Limpa e, como seu nome já constava nas urnas, os votos para ele foram considerados nulos. Como comparativo, no primeiro turno das eleições ao governo do Rio em 2014, os votos nulos corresponderam a 11,44% do total.

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Pouco conhecido do eleitorado antes do início da corrida pelo Palácio Guanabara, Witzel foi a grande surpresa da reta final da campanha --as últimas pesquisas registraram evolução de seu desempenho, mas foi na reta final que o candidato do PSC disparou. Na primeira pesquisa de intenções de votos divulgada pelo Datafolha em 23 de agosto, o candidato do PSC tinha 1% das intenções de votos.

Paes, que chegou ao segundo turno atrás de Witzel, liderou as pesquisas durante a maior parte da campanha, seguido por Romário e Garotinho. Todas as projeções de segundo turno feitas pelo Datafolha contra outros adversários apontavam o democrata venceria o pleito. Não há levantamentos simulando um segundo turno entre Witzel e Paes.

Em seu favor, Witzel tem uma rejeição menor do que Paes, de acordo com o último levantamento feito pelo Ibope, na véspera da eleição. Enquanto 33% dos entrevistados afirmaram que não votariam em Paes em hipótese alguma, 9% refutaram a possibilidade de votar no ex-juiz federal.

Apoios, dinheiro e tempo de TV

A campanha de Witzel contou com dois partidos coligados (PSC e PROS), o que deu a ele menos de 30 segundos de tempo no programa eleitoral gratuito no rádio e na TV. As redes sociais foram a principal ferramenta de divulgação das suas propostas e agendas.

A arrecadação do candidato do PSC, de acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), beirava os R$ 2 milhões. A maior parte dos repasses veio do PSC, que doou R$ 1,825 milhão. Witzel aparece como seu principal doador individual, tendo investido R$ 185 mil na própria candidatura.

Com 12 partidos em sua coligação (DEM, PP, MDB, PTB, Solidariedade, PSDB, PPS, PV, DC, PHS, Avante e PMN), Paes abocanhou o maior tempo do programa eleitoral gratuito no rádio e na TV no 1º turno (mais de três minutos).

Dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) também mostram que a campanha dele foi a que mais arrecadou: R$ 6.140.700 até a última sexta-feira (5)-- a maior repasses do DEM do fundo eleitoral. Os gastos de campanha atingiam R$ 6.383.560, superando o caixa de campanha. Mais de R$ 580 mil foram doados por empresários (cerca de 9% das receitas da campanha). Entre eles, estão Oskar Metsavaht, dono da Osklen, e Elie Horn, fundador do grupo Cyrela.

Paes deixou o MDB, afetado por escândalos denunciados pela Lava Jato, e embarcou no DEM, de seu padrinho político Cesar Maia, também ex-prefeito do Rio. A coligação com o MDB, seu antigo partido, foi atacada pelos adversários durante todo o primeiro turno. À revista "Veja", Paes negou desconforto com a aliança. "Eles não mandaram no meu governo quando eu era prefeito pelo partido. Por que haverão de mandar agora?"

Propostas: foco na segurança pública e economia

Com projetos de governo diferentes, Witzel e Paes têm como uma das prioridades investimentos em segurança pública.

Witzel propõe a reformulação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). Ele diz que a Secretaria da Segurança Pública é uma estrutura burocrática que dificulta o diálogo entre as polícias Civil e Militar --por isso, se eleito, quer extingui-la e dar status de secretaria às polícias. O candidato do PSC defendeu durante a campanha que a polícia "abata" criminosos que portem fuzis. 

Paes defende a permanência dos militares no estado, mas sob o comando do governador e não mais de um interventor federal na segurança pública --cargo exercido atualmente pelo general Walter Braga Netto.

No campo econômico, o candidato do PSC promete criar uma força-tarefa para desburocratizar e rever leis que considera "redundantes ou encarceradoras" da atividade empresarial e pedir a revogação delas à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), além trabalhar para agilizar a legalização de empresas.

Paes defende a revisão de termos do acordo de recuperação fiscal com a União para equacionar as contas públicas já no primeiro ano de um eventual governo. Ele também aposta em PPPs (Parcerias Público-Privadas) para alavancar a capacidade de investimentos no estado. A revisão dos contratos de isenção fiscal concedidos na gestão do atual governador Luiz Fernando Pezão (MDB), no entanto, não está entre as suas prioridades.

Para a saúde, o democrata promete mais investimentos na infraestrutura já existente. A aplicação de 12% do orçamento em saúde (como manda a Constituição) e a ampliação no número de leitos nos municípios do interior aparecem como prioridades no programa de Paes.

Witzel, por sua vez, promete a construção de 250 clínicas da família em todo o estado em parceria com municípios e a contratação de profissionais da rede privada por contratos temporários com o governo. O ex-juiz também se compromete com a aplicação de 12% do orçamento na área de saúde.

Reprodução/TV UOL
4.jun.2018 - Wilson Witzel (PSC) em sabatina do SBT, Folha e UOL

O ex-juiz federal que se lançou na política

Aos 50 anos, Wilson Witzel, paulista de Jundiaí, concorre pela primeira vez a um cargo eletivo após ter sido juiz federal por mais de duas décadas. Ele pediu transferência da Vara de Execuções Penais do Espírito Santo para o Rio de Janeiro em 2004 após sofrer ameaças de morte que, segundo ele, vieram de uma organização criminosa instalada dentro de um presídio de segurança máxima.

Responsável por processos criminais no Rio, recebeu mais uma ameaça. "Eles [os criminosos] conseguiram intimidar um juiz federal, isso me entristece muito. Tive de trocar de área para preservar minha vida. Desde que comecei a ser ameaçado, nunca mais deixei de usar colete à prova de balas", contou ele durante o lançamento da sua campanha. Para se candidatar, Witzel se desligou da magistratura.

Durante a campanha para o governo, Witzel manifestou apoio a Jair Bolsonaro (PSL) --nos debates na TV, o candidato do PSC se disse alinhado com os pensamentos do presidenciável.

As polêmicas também acompanharam o candidato, que protagonizou embates com Garotinho Romário.

Witzel se envolveu em polêmica após ver Garotinho acusar o desembargador que o condenou em segunda instância por improbidade administrativa --segundo o ex-governador, o magistrado teria favorecido Witzel. Como evidência, o então candidato do PRP mostrou uma publicação no Facebook em que o desembargador declarava publicamente apoio ao ex-juiz.

Em debate na TV Globo, Witzel foi chamado de "frouxo" por Romário. Romário insinuou na ocasião que ele deixou o Espírito Santo, onde era juiz criminal, por medo. Em outro momento, Romário se referiu a ele como "o atirador", ironizando o fato de Witzel ter sido fuzileiro naval, na juventude.

Professor de Processo Penal na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Wilson Witzel nunca ocupou um cargo público, fato que, na opinião dele, conta a seu favor. "Não tenho rabo preso com ninguém, nunca troquei apoios com ninguém", afirmou.

Seu candidato a vice é Claudio Castro, também do PSC.

Ide Gomes/Estadão Conteúdo
16.ago.2018 - Eduardo Paes durante debate da TV Bandeirantes

O 'garoto zona sul' que virou sambista

Eduardo Paes começou a carreira política em 1996, quando ocupou o cargo de subprefeito da zona oeste da capital fluminense, sob a batuta do então prefeito Cesar Maia (DEM). Desde então, acumula cinco trocas de partidos e mandatos como vereador, deputado federal e prefeito do Rio -- cargo pelo qual foi eleito e reeleito.

Enquanto prefeito, suas gestões ficaram marcadas pelas grandes obras que precederam a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, como a revitalização do Porto Maravilha --que incluiu a demolição do elevado da Perimetral-- e a construção do Parque Olímpico da Barra da Tijuca, mas também por insucessos e polêmicas.

O desmoronamento da ciclovia Tim Maia, que matou duas pessoas em 2016, e a não-conclusão do BRT TransBrasil, são citados até hoje por seus adversários como fracassos das suas gestões. Apesar da boa aprovação ao seu mandato, Paes não conseguiu eleger como sucessor seu então secretário de Governo, Pedro Paulo Carvalho (DEM), que naquele mesmo ano foi acusado de agredir a ex-mulher.

Na reta final da campanha ao governo, Paes foi citado, no âmbito da Operação Lava Jato, em depoimento do seu ex-secretário municipal de Obras Alexandre Pinto. Ele afirmou, durante interrogatório ao juiz Marcelo Bretas, na 7ª Vara Federal Criminal, que recebeu de Paes a determinação de que a Odebrecht deveria vencer licitações para a construção do corredor Transoeste. Paes definiu os fatos como "mentirosos e sem provas, baseados no disse me disse".

Na intenção de desvincular a imagem de alguns dos seus principais apoiadores dos últimos anos, como o ex-governador Sérgio Cabral (MDB) e o ex-presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) Jorge Picciani --que se encontram presos pela Lava Jato, denunciados por integrar esquemas de corrupção--, Paes migrou para o DEM neste ano, retomando a parceria com Maia, de quem chegou a ser adversário.

Nos dois últimos anos, após deixar a prefeitura, esteve distante da vida pública, período no qual exerceu cargos no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e na fabricante chinesa de veículos elétricos BYD. Nascido no Jardim Botânico, na zona sul carioca, e criado em São Conrado, Paes concorre pela segunda vez ao governo do estado --a primeira foi em 2006, pelo PSDB, quando terminou na 5ª posição, com pouco mais de 5% dos votos.

Aos 48 anos, pai de dois filhos, Paes focou as suas atividades de campanha na Baixada Fluminense e no interior do estado, na tentativa de se afastar do esteriótipo de 'político da zona sul'. A mesma tática já havia sido utilizada em 2008, quando se tornou frequentador das zonas norte e oeste da cidade e estreitou os laços com a Portela, sua escola de samba do coração.

Desta vez, Maricá é o foco. Na tentativa de sensibilizar os moradores do município ao qual se referiu como "uma merda", em um telefonema de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) --atualmente preso--, Paes chegou a flertar com o deputado federal Marcelo Delaroli (PR) para seu vice. Mas o político que tem em Maricá a sua base eleitoral acabou firmando acordo com Romário.

Mesmo assim, Paes se mantém confiante nessa parcela do eleitorado. "Se eu fosse de Maricá, votaria em mim. Quem vai querer fazer tanto pela cidade, depois da besteira que disse?", perguntou em várias passagens pela cidade.

Eduardo Paes tem como vice o deputado estadual Comte Bittencourt (PPS), que já presidiu a Comissão de Educação da Alerj.

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