Três anos após sua fundação, o partido Novo tem chances reais de conquistar o Palácio da Liberdade, sede do governo de Minas Gerais, em 28 de outubro. O estado é o segundo maior colégio eleitoral do país, com 15,7 milhões de eleitores, e terá a disputa pelo governo entre Romeu Zema (Novo) e Antonio Anastasia (PSDB).

Empresário de 53 anos, Zema venceu em dez de 13 regiões do estado. Ele ainda foi vitorioso nas 18 zonas eleitorais de Belo Horizonte e teve mais votos do que os adversários em 40% (343) dos 853 municípios mineiros.

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Em Araxá (MG), sua cidade natal, Zema conquistou 43.613 votos, 84% do eleitorado. No município distante 367 Km de Belo Horizonte, está instalada a sede do Grupo Zema, criado há 95 anos pelo imigrante italiano Domingos Zema e comandado pela família há quatro gerações. O candidato do Novo trabalhou nas empresas por 40 anos e se licenciou do conselho administrativo para disputar a eleição.

O Grupo Zema atua no comércio varejista de postos de combustíveis, eletrodomésticos, concessionárias e locadoras de veículos, autopeças e financeiras e faturou R$ 4,5 bilhões em 2017 com suas 430 unidades e 5.500 empregados em diversos municípios do Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro.

Arquivo pessoal

O proprietário do Spetus, Álvaro Moreira Júnior, o Juninho, que conhece o candidato desde a infância

Amigos de infância 

O empresário e chef de cozinha Álvaro Maneira Júnior, 59, o Juninho, proprietário do restaurante Spetus, localizado na área central de Araxá, é eleitor de Zema e o conhece desde criança.

"Votei nele porque ele é de Araxá, claro", afirma Juninho. "Mas também porque sei que ele é competente. Ele já mostrou capacidade. Geriu bem suas empresas e vai administrar bem o seu governo", diz o empresário.

Juninho explica que não se surpreendeu com a votação obtida por Zema no município. "A família é muita querida na cidade."

Ele conta que seu pai, Álvaro Maneiro (1928-1992), conhecido nacionalmente por Xaxá e regionalmente por Coquinho, era o ídolo de Romeu Zema na infância. Coquinho foi jogador de futebol profissional, com passagens por Vasco e São Paulo entre os anos 1940 e 1950, tornando-se uma referência na cidade. "O Romeu ia à minha casa, quando ele era pequeno, pra ver meu pai. Ele era seu ídolo na infância", conta o empresário.

No fim da vida, Coquinho atuava como corretor de imóveis e circulava pelas ruas de Araxá de bicicleta. O hábito também ficou conhecido pelos araxaenses.

"Minha mãe (Mirtes Maneira, 80) lembrou, na semana passada, de um caso do Romeu, quando ele era menino e pegou a bicicleta do meu pai para andar pela cidade. Agora ele aí, quase no governo de Minas. Rimos muito", conta o amigo.

"Ele leva fácil no segundo turno", acredita o empresário. "E é o melhor que pode acontecer pra Minas. O Anastasia é um ótimo senador. Vai ser muito bom pra Minas que ele continue no Senado e o Zema, no governo".

Arquivo pessoal

Eveline Drummond entrevista o candidato em seu programa na rádio Cidade

Interior sem representação em Minas

A advogada e radialista Eveline Drummond, 49, eleitora de Zema em Araxá, explica que candidatura do conterrâneo já vinha crescendo no interior de Minas Gerais, sobretudo no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, em municípios como Uberlândia, Uberaba, Ituiutaba, Patos de Minas, Patrocínio e, claro, Araxá, há muito tempo.

"O fato de o interior não ter representante no governo de Minas Gerais desde os anos 1970 também pesou na sua votação. Isso sempre incomodou muito a população e influenciou nas eleições", afirma Drummond.

Campanha Romeu Zema/Vivi Zagnoli

Lourdes Zema, 96, tia do candidato do Novo, que lhe emprestou a garagem de casa para instalar o comitê de campanha

"Olha aí como foi a campanha dele (Zema). O comitê de campanha dele em Araxá é na garagem da casa de sua tia Lourdes, de 96 anos."

A radialista explica que, além dessa questão, a influência do clã Zema, "entrosado na cidade", explica a alta votação conquistada por ele em Araxá.
"Conheço muito a família toda. Eles nunca mexeram com política. Ninguém da família nunca se candidatou. Foi muito bom o Romeu ter saído candidato nesse momento", diz a radialista.

Bolsa de estudos

O advogado e professor universitário Benedito Gonzaga Teixeira, 65, especialista em direito administrativo, faz questão sempre de lembrar que o pai do candidato do Novo, o empresário Ricardo Zema, custeou seus estudos."Coloca aí. Conheço eles (a família Zema) desde os 18 anos. O pai do Romeu (Zema), Ricardo Zema, pagou a minha faculdade de direito, na Uniube (Universidade de Uberaba)", diz o empresário.

"E na época não tinha esses incentivos que as empresas dão hoje para os empregados estudarem. Eu trabalhei na empresa deles, como auxiliar administrativo, de 1972 a 1983. Quando ele (Ricardo Zema) ficou sabendo que eu tinha passado no vestibular, ele me avisou que ia pagar as mensalidades e tirava o dinheiro do próprio bolso, todo mês, e me entregava", afirma Teixeira.

Arquivo pessoal Benedito Gonzaga Teixeira

O advogado e professor Benedito Gonzaga Teixeira, que teve os estudos custeados pelo empresário Ricardo Zema, pai do candidato do Novo, no dia de sua formatura, em Uberaba (MG), em 1979

"Graças ao apoio dele, consegui me formar. Pegava o ônibus todo dia para Uberaba, às 17h30, e só chegava a Araxá à 1h", diz.

"Sou amigo da família toda. Quem não é amigo deles aqui em Araxá? Eu me lembro do Romeu (Zema), quando ele fazia faculdade em São Paulo, tirando férias e trabalhando de frentista no posto de gasolina da família. Pra eles (a família) só existe isso. Trabalhar."

Mas ele conta que a família também gosta de festejar. "Foi uma pena, ele (Ricardo Zema, pai do candidato) ter parado de dar as festas do seu aniversário, em 25 de agosto, há uns dois, três anos. Era a melhor coisa do mundo, Ele reunia todos os ex-empregados da empresa. Ia todo mundo. Uma beleza".

"Quando Romeu (Zema) assumiu o controle, a empresa da família virou um foguete. A empresa cresceu muito com ele. No governo de Minas, ele vai ser muito bom também", diz Teixeira.

Campanha Anastasia/PSDB

Painel em tamanho real de Romeu Zema em uma das lojas do grupo fundado por sua família

Propaganda irregular

Romeu Zema colocou fotos em tamanho real com seu nome nas 430 lojas que o Grupo Zema possui em Minas Gerais. Os caminhões-baú da frota de veículos do grupo empresarial também passaram a veicular a imagem do candidato.

Na quinta-feira (10), o TRE-MG (Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais) determinou por meio de liminar que o candidato suspenda essa publicidade. Em caso de descumprimento, Zema terá de pagar multa diária de R$ 50 mil, prevista no artigo 347 do Código Eleitoral.

A assessoria do candidato do Novo informou neste sábado (13) que a determinação da Justiça foi cumprida integralmente. Foram retiradas "todas" as imagens de Zema das lojas e caminhões baú do grupo. A assessoria ainda informou que os advogados do candidato entraram com recurso no TRE-MG contra a liminar.