Mais fracos, MDB e DEM perdem vaga de fiadores do poder, ocupada desde FHC

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

  • Pedro Ladeira/Folhapress

    Os atuais presidentes do Senado, o emedebista Eunício Oliveira (à esq.), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM)

    Os atuais presidentes do Senado, o emedebista Eunício Oliveira (à esq.), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM)

Principais apoiadores dos últimos presidentes da República, MDB e DEM entram no segundo turno presidencial isolados e com sua força ameaçada a partir do ano que vem.

Os dois partidos foram fiadores das propostas apresentadas pelos presidentes Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016).

Hoje, DEM e MDB também estão fortemente presentes no governo de Michel Temer e presidem tanto o Senado, com Eunício Oliveira (MDB), quanto a Câmara, com Rodrigo Maia (DEM).

"Desde a redemocratização, sem dúvida eles foram os principais partidos que garantiram a governabilidade dos presidentes eleitos", afirma a cientista política Luciana Santana, também professora da Ufal (Universidade Federal de Alagoas).

Mas os dois partidos chegam enfraquecidos em 2019. Primeiramente, pela redução das duas bancadas na Câmara em comparação a eleições anteriores. Em segundo lugar, por não estarem apoiando um candidato que tenha passado para o segundo turno --disputado entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). O DEM liberou para seus filiados manifestarem apoio de acordo com suas convicções. ACM Neto, atual presidente do partido, declarou voto no capitão reformado.

Após a eleição do domingo passado (7), o MDB viu cair quase pela metade sua bancada de deputados federais: elegeu 34, o menor número desde a redemocratização (veja evolução das bancadas ao final do texto).

Já o DEM voltou a crescer e elegeu 29 (oito a mais do que em 2014), mas nem de longe recuperou a força que já teve nos anos 1990 --em 1998, havia conseguido colocar na Câmara Federal 98 nomes.

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No atual cenário, segundo cientistas políticos ouvidos pelo UOL, é provável que os dois partidos tenham uma certa influência parlamentar, mas sem a mesma carga de importância nem de negociação.

O MDB, por exemplo, tem vários caciques fora do Senado, como o presidente nacional Romero Jucá (RR) e mesmo o presidente da Casa, Eunício Oliveira (CE), que depois do primeiro turno anunciou a saída da vida pública.

Lula Marques/Folhapress
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e seu então vice, Marco Maciel (DEM), em 2000

"Nesta eleição, o MDB encolheu substancialmente. Não está nem entre os que fizeram as maiores bancadas", avalia Luciana Santana, se referindo ao PT, que elegeu 56 deputados e o PSL, com 52.

"Sem ocupar a segunda posição em número de deputados, como nas mais recentes eleições, o MDB vai se tornar menos atrativo para ao próximo governo. Claro que ele será chamado a participar, mas não vai ter a mesma importância que tinha historicamente."

No dia da votação do primeiro turno, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) foi questionado pelo UOL sobre qual deveria ser o posicionamento do partido no futuro. Mas ele só mostrou incômodo com o direcionamento. "Esse MDB não é o meu MDB. Eu sou de um MDB contrário ao MDB do Michel Temer e a tudo o que ele representa", disse.

Já o DEM, mais fortalecido, pode recuperar um pouco do terreno perdido, principalmente por conta da atuação de Rodrigo Maia, atual ocupante da presidência da Câmara e aliado crucial do governo Temer.

Maia chegou a ser lançar pré-candidato à Presidência, mas desistiu pela candidatura de deputado federal e se concentra em tentar a reeleição no cargo.

"No caso do DEM, como é um partido menor, pode mais confortavelmente se estabelecer em qualquer um desses espectros, seja de oposição ou de situação", diz Luciana Santana, acrescentando que vê na eventual vitória de Bolsonaro uma chance maior de ingresso do partido em um bloco de governo.

Queda e saídas do PFL

No início dos anos 2000, com a ascensão do PT e sua popularidade, caciques especialmente no Nordeste deixaram o então PFL para se filiar ao PMDB a fim de ganhar peso eleitoral. Foi assim, por exemplo, com dois pefelistas de peso: Inocêncio Oliveira, que trocou de sigla em 2005, e Roseana Sarney, que fez o mesmo em 2006.

Hoje o partido tem dois nomes fortes no Nordeste: José Agripino Maia (RN) --que vai ficar sem mandato em 2019-- e o prefeito de Salvador, ACM Neto, ex e atual presidente nacional da sigla, respectivamente.

"A perda da força do DEM não vem de agora, vem desde o fim do governo FHC. No Nordeste, ele passou a ser um atrelado do PSDB, e com o PT e suas políticas sociais enfraqueceram o Democratas, que perdeu nomes fortes. Era muito difícil ser opositor de Lula", afirma o cientista político Adriano Oliveira, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

Agência Brasil
Temer (MDB), na época vice de Dilma Rousseff (PT)

Apoio com vices

Durante todo o governo FHC, o DEM manteve grande número de deputados e senadores e foi o mais fiel aliado do governo tucano. Nos dois mandatos, o vice de FHC foi pefelista: o pernambucano Marco Maciel. 

No fim da era FHC, com maior bancada da Câmara, o então PFL queria emplacar Roseana Sarney para a disputa presidencial contra o petista Lula e o tucano José Serra.

Por influência dela, o PFL rompeu com FHC em março de 2002 para dar mais força a sua candidatura. À época ela era apontada como favorita na disputa.

Porém, em abril de 2002, a Polícia Federal aprendeu na empresa Lunus Participações --da qual Jorge Murad, marido dela, era sócio-- R$ 1,34 milhão em espécie. O valor não declarado acabou minguando seu nome na disputa.

Naquele ano, o PFL preferiu não lançar candidato e, no segundo turno, apoiou José Serra. O PMDB indicou a vice de Serra, Rita Camata. A coligação foi derrotada.

No primeiro governo Lula, o PMDB se alinhou no final do primeiro ano de mandato, quando indicou nomes e teve até o líder do governo no Senado: Romero Jucá (RR).

Colado ao PSDB, o PFL se tornou oposição e, em 2007, mudou de nome para Democratas.

Depois de dois mandatos sem indicar vice, o PMDB colocou Michel Temer na linha de sucessão, onde se manteve até março de 2016, quando rompeu durante a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Número de deputados eleitos por ano:

DEM

2018 - 29

2014 - 21

2010 - 43

2006* - 65

2002* - 84

1998* - 98

* Então PFL

MDB

2018 - 34

2014* - 64

2010* - 78

2006* - 89

2002* - 73

1998* - 87

* Então PMDB

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