Sei que problema não é comigo, diz Haddad sobre declaração de irmão de Ciro

Nathan Lopes e Luciana Amaral
Do UOL, em São Paulo e em Brasília

O candidato do PT a presidente, Fernando Haddad, avalia que questões locais influenciaram uma rixa entre os irmãos Ciro e Cid Gomes (PDT-CE) com o PT. "Ciro e Cid ficaram ressabiados com o PT por razões locais ali do Ceará", disse em entrevista, nesta terça-feira (16), à rádio Jovem Pan. "Eu sei que não é comigo o problema", comentou, citando ser "muito amigo" dos irmãos.

"Entendo essas arestas que têm que ser aparadas, mas meu respeito por eles continua o mesmo. Meu desejo de que eles participem da campanha continua o mesmo. Vamos seguir a vida", disse o petista. Em ato pró-Haddad em Fortaleza na segunda-feira (15), o irmão do candidato a presidente Ciro Gomes (PDT) disse que o PT vai "perder feio a eleição".

Na entrevista, Haddad não explicou quais seriam as "razões locais". No Ceará, PT e PDT formaram aliança vitoriosa de 16 partidos, elegendo governador e senadores. Além de Cid, que foi eleito senador, a aliança conseguiu a vitória em primeiro turno do governador Camilo Santana (PT), que foi reeleito.

Para Cid, os petistas teriam que pedir desculpas "e reconhecer que fizeram muita besteira". "Os erros que cometeram é para perder a eleição (...) porque fizeram muita besteira, porque aparelharam as repartições públicas, porque acharam que eram donos de um país, e o Brasil não aceita ter dono, é um país democrático."

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O senador eleito ainda culpou o PT pela performance de Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de voto no segundo turno. "Quem criou Bolsonaro foram essas figuras, que se acham donos da verdade, que acham que podem fazer tudo, que acham que os fins justificam os meios."

Após a repercussão de suas declarações, Cid usou sua conta nas redes sociais para se manifestar novamente. Cid diz que, "para o Brasil, o menos ruim é o Haddad". "Qual o maior empecilho para que isto aconteça? A maioria do povo brasileiro quer virar duas páginas do nosso passado recente! Já virou uma, a do PSDB", disse o senador eleito. "Neste segundo turno quer virar a outra: a página do PT!"

Em ato do PT, irmão de Ciro diz que partido vai perder 'feio' a eleição

Repercussão

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, respaldou, nesta terça, o desabafo feito por Cid Gomes e disse que as críticas "representam majoritariamente o sentimento da sigla".

À reportagem, um assessor de Ciro Gomes questionou enfaticamente "o que mais o PT quer dele". No momento, qualquer aparição pública do pedetista ao lado de Haddad ou novas demonstrações de apoio explícitas estão descartadas.

"O Ciro já vem declarando ser contra o Bolsonaro desde o primeiro turno, reforçou isso depois do resultado e anunciou o apoio crítico ao Haddad. O PT quer mais o quê? Que o Ciro lamba o chão onde o Haddad pisa?", afirmou o assessor, que pediu anonimato.

Para o grupo de Ciro, o PT é um dos responsáveis pelo surgimento da retórica de Bolsonaro e agora quer "colocar a culpa" nos outros. Se o PT não estivesse no segundo turno, avaliam, o partido não teria a mesma atitude que cobra dos demais.

O assessor do candidato derrotado verbaliza a insatisfação do partido e diz que, durante o primeiro turno, o foco da campanha petista foi bater muito no Ciro em vez de mirar Bolsonaro. "O PT quer que o Ciro suba num palanque e exija a autocrítica também? Acho que não, né?", disse.

Discutiremos relação com os Gomes após eleição, diz deputado do PT 

A fala de Cid gerou críticas do deputado federal reeleito José Guimarães (PT-CE), coordenador da campanha de Haddad no Ceará. Guimarães considerou um desrespeito as declarações do senador eleito.

"Lamento profundamente a forma desrespeitosa como fomos tratados pelo senador Cid Gomes, o senador em quem o PT votou, ao criticar o PT em um momento inadequado e que só contribuiu para gerar desconfiança e incertezas da nossa vitória", escreveu Guimarães em suas redes sociais. O deputado não estava presente no evento em que Cid criticou o partido.

Com as declarações do senador eleito, Guimarães, um dos principais expoentes do PT no Ceará, indicou que deverá rever alianças com os irmãos Gomes. "Sobre os nossos legados e parcerias entre o PT e os Ferreira Gomes, discutiremos após o segundo turno. Está na hora mesmo de fazermos um balanço desde 2006 e, se for o caminho da separação, que façamos com respeito mútuo."

Apesar do resultado adverso apresentado pelo último levantamento --segundo o Ibope, Bolsonaro atingiu 59% dos votos válidos contra 41% de Haddad--, Guimarães diz que "a eleição está em aberto". "Vamos para o confronto e apelamos para que todos os democratas se somem ao esforço de derrotar essa direita representada pela candidatura de Bolsonaro."

Ciro está em viagem pela Europa e deve retornar ao Brasil no fim desta semana. Os petistas ainda esperavam um apoio formal do ex-candidato, que, até o momento, apenas rejeitou a candidatura de Bolsonaro, sem ter manifestado apoio explícito à de Haddad.