Juristas declaram apoio a Haddad e tratam chapa de Bolsonaro como barbárie
Nathan LopesDo UOL, em São Paulo
O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, se reuniu nesta quinta-feira (18) em um hotel de São Paulo com cerca de 200 membros do universo jurídico para receber apoio à sua candidatura contra a de Jair Bolsonaro (PSL). Para o grupo, formado por cerca de 1.500 juristas, o candidato do PSL que representa a "barbárie" e um risco à democracia.
Com nomes tarimbados, como Antônio Cláudio Mariz, ex-advogado do presidente Michel Temer (MDB), e Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, um dos defensores mais requisitados por políticos em Brasília, o evento foi marcado pelo discurso em defesa da Constituição e contra a "desconstrução completa da história".
O grupo escreveu um manifesto, antecipado pelo UOL na última terça-feira (16), que já conta com o apoio de 1.500 nomes. Eles são contrários a eleição de Jair Bolsonaro (PSL).
O grupo vê na promoção de discursos de ódio e intolerância feitas por Bolsonaro um risco à democracia no país.
"Eu vejo gente afirmando, e por pura ignorância, que o nazismo foi um movimento de esquerda. Outro dia, um sujeito disse que a Ku Klux Kan é de esquerda", comentou o advogado criminalista Fábio Tofic Simantob, defensor de investigados na Operação Lava Jato e presidente do IDDD (Instituto de Defesa de Direito de Defesa).
Para Simantob–que citou a "desconstrução da história"--, o objetivo principal do grupo não é apenas demonstrar apoio a Haddad, mas "frear a candidatura e esse projeto de poder e de ódio que está em curso".
Também participaram do encontro nomes como Paulo Sérgio Pinheiro, ex-ministro do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e diplomata brasileiro que atua na ONU (Organização das Nações Unidas), e o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello. Advogada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Valeska Teixeira Martins esteve presente no evento, mas não discursou.
Os discursos mais inflamados foram feitos por Kakay e Mariz. O ex-advogado de Temer disse que o país já está na "escuridão" e afirmou que a barbárie está camuflada de antipetismo. "Estou perplexo, estou cheirando a barbárie que está se instalado no país. Será que o brasileiro está se tornando um tolerante raivoso?", questionou.
Mariz declarou que não é eleitor do PT, mas que votará em Haddad. "Eu não sou petista, mas sou antibarbárie."
Para Kakay, Bolsonaro "é contra qualquer direito" e que, "quem vota nele, está assumindo esse lado dele". "Nosso partido hoje é a Constituição Federal", disse o advogado, reforçando que "agora, ser revolucionário é cumprir a Constituição".
Não são candidaturas normais, diz diplomata
O apoio da Ku Klux Kan a Bolsonaro foi ressaltado por Pinheiro, citando que essa é uma "organização contra os direitos humanos". Para o diplomata, por motivos como esse, a candidatura de Haddad não é mais apenas de um partido. "Ele hoje reflete a defesa da Constituição de 1988", comentou. "Não são duas candidaturas normais."
Para Belisário dos Santos Júnior, ex-secretário de Justiça no governo de Mário Covas (PSDB) em São Paulo, há uma "necessidade de resistir à intolerância", o que o fez declarar voto em Haddad.
Após cerca de uma hora de discursos, Haddad se pronunciou e lamentou ter de disputar o segundo turno com Bolsonaro. "Gostaria de estar disputando esse segundo turno com alguém que tivesse o mínimo de compromisso com os valores aqui apresentados". Ele lembrou que, do grupo de juristas que agora o apoia, nem sempre estiveram juntos em eleições. "Porque, em geral, em segundo turno, você tinha duas candidaturas razoáveis. Não é o caso hoje, infelizmente".
Para o candidato, "a direita buscou um [presidente da França, Emanuel] Macron e nos entregou um Jair". "É coisa para se pensar", em referência ao presidente francês que foi eleito como representante do novo e hoje enfrenta alto nível de rejeição.
Haddad diz que "esperava essa reação da classe jurídica" contra Bolsonaro. "Porque ao longo de toda a vida eu nunca vi um jurista se intimidar diante de nenhuma ameaça", disse, sendo aplaudido. "Estamos hoje com sinal trocado. Estamos vivendo um período de ameaça aos direitos sociais, trabalhistas. Nem os civis e políticos estão assegurados".
O presidenciável diz estar confiante em reverter o cenário nos próximos dez dias, apesar da última pesquisa do Ibope indicar Bolsonaro com 59% dos votos válidos contra 41% de Haddad. "Ele que diz que já está com a faixa vai experimentar a ira daqueles que de fato decidem uma eleição, que é o voto popular."