Mais inocentes morrerão se Bolsonaro ganhar, diz mãe de jovem morto na Maré
Ana Carla Bermúdez
Do UOL, em São Paulo
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Ricardo Moraes/Reuters
23.out.2018 - Haddad cumprimenta Bruna, mãe de Marcos Vinícius, em ato na Maré
Mãe do adolescente Marcos Vinícius da Silva, 14, que morreu após ser atingido por um tiro na favela da Maré quando estava a caminho da escola em junho deste ano, a empregada doméstica Bruna da Silva afirmou nesta terça-feira (23) que mais inocentes vão morrer se Jair Bolsonaro (PSL) for eleito presidente.
"Naquele dia 20, só o meu filho morreu de inocente. Se o Bolsonaro ganhar, pode preparar os sacos pretos, porque vai ter muito inocente para entrar dentro deles", disse Bruna, que participou de um ato de apoio ao candidato Fernando Haddad (PT) na favela da Maré, no Rio de Janeiro.
Marcos Vinícius ia para a escola no dia 20 de junho quando foi atingido por um tiro na barriga. Ele foi socorrido e chegou ao hospital usando uniforme, mas morreu horas depois.
Antes de morrer, o menino teria dito à mãe que o disparo que o atingiu partira de um blindado da polícia. Naquele dia, o complexo de favelas da Maré foi alvo de uma operação policial realizada pela Polícia Civil, com apoio do Exército e da Força Nacional.
"Eu não quero que o 17 ganhe porque ele é a favor de arma de fogo", disse Bruna. "Meu filho Marcos Vinícius foi morto aos 14 anos de idade com a camisa da escola. Ele estava no caminho certo, no lugar certo e na hora certa. A culpa não foi nossa", afirmou.
"A Maré resiste, a Bruna resiste, Marielle resiste", disse a mãe de Marcos Vinícius, que declarou voto em Haddad e disse que "ele é o único que se infiltra entre os pobres, porque ele é gente como a gente". Ao fim do seu discurso, Bruna abraçou Haddad e sua candidata a vice, Manuela D'Ávila (PCdoB).
Momentos depois, Haddad e Manuela levantaram placas de rua em homenagem a Marielle Franco, assassinada a tiros em março deste ano. A vereadora costumava se apresentar como "cria da Maré".
"Acho que o mais importante a dizer é que nós, eu e Haddad, somos a chapa da vida", disse Manuela.
Já Haddad aproveitou seu discurso para criticar as propostas de Bolsonaro para a área da segurança pública.
"A gente tem um programa de segurança muito mais interessante do que o dele", disse. "Vamos tratar do crime organizado onde ele está. É isso que a gente precisa dizer para as pessoas: que só vai funcionar se o governo federal assumir algumas responsabilidades adicionais, e não ficar com esse papo furado de diminuir a maioridade penal", afirmou o candidato.
Haddad ainda ironizou a proposta dizendo que "daqui a pouco [a maioridade] é 14 anos", e que nessa idade os jovens "têm que estar estudando em ensino integral". "Nada de ensino a distância", afirmou, em mais uma crítica a Bolsonaro, que já se mostrou favorável ao ensino a distância até para o ensino fundamental.
Haddad ainda prometeu verbas para financiar projetos das periferias caso seja eleito e disse que quer ver o Palácio do Planalto "aberto para catador, para agente comunitário, para professor".
"Vamos batalhar dia e noite até sábado à meia-noite. Tenho certeza que quando a gente abrir o resultado no domingo o Brasil vai voltar a ser feliz de novo", disse.
Jair Bolsonaro tem liderado as principais pesquisas de intenções de voto para o segundo turno da eleição presidencial.
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