Debate morno exclui associações de França à esquerda, e de Doria, à riqueza

Janaina Garcia e Mirthyani Bezerra*

Do UOL, em São Paulo

  • Nelson Antoine/UOL

    Doria e França se cumprimentam antes do debate UOL/Folha/SBT

    Doria e França se cumprimentam antes do debate UOL/Folha/SBT

Principais motes de ataques nos dois primeiros debates do segundo turno, as associações de Márcio França (PSB) a figuras da esquerda, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por parte de João Doria (PSDB), e do tucano à imagem de uma pessoa arrogante, prepotente e com desapego aos mais pobres, por parte do pessebista, passaram longe do debate desta terça-feira (23) promovido pelo UOL, pelo SBT e pela Folha de S. Paulo.

Propondo já desde o começo um embate "mais altivo e propositivo", Doria mudou radicalmente o tom sobre o oponente, na comparação com os debates da semana passada, ao não destacar, uma única vez, o fato de o PSB de França apoiar, no plano nacional, o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad.

Mesmo as menções do tucano ao "socialista", que compõe a sigla do partido, foram ignoradas pelo ex-prefeito, a exemplo de outras expressões de natureza ideológica usadas para desqualificar França, como "esquerdista" e "vermelho", que rechearam o discurso do tucano nos debates anteriores.

As citações a Lula, por exemplo, que feitas 68 vezes nos debates da Band e da Record, respectivamente nas últimas quinta (18) e sexta (19), resumiram-se a uma vez no encontro desta terça. O PT, por outro lado, foi destacado nove vezes.

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Mencionado semana passada como "apoio" ao adversário, a citação do MST nesta terça-feira, por parte de Doria, foi em tom crítico aos sem-terra, mas neutro sobre o adversário. Ao perguntar ao governador sobre propostas voltadas ao agronegócio, Doria se limitou a afirmar o "repúdio ao MST".

Uma das citações a Haddad foi feita pelo próprio Doria, mas em tom mais cordial que nos debates passados, ao ser indagado sobre a divulgação de um vídeo íntimo em que o tucano supostamente apareceria em uma orgia –ele negou ser a pessoa no material e se disse vítima de fake news.

"Faço isso também repudiando qualquer fake news em relação ao Márcio França, ao Jair Bolsonaro e ao próprio Fernando Haddad", disse, ao repudiar a suposta prática criminosa.

França elimina arrogância de Doria e avião de R$ 44 milhões

A conduta de França também foi menos incisiva sobre o adversário. Nos dois primeiros debates, ao se esquivar das afirmações de Doria de que teria vínculos com o PT ou com Lula, o candidato à reeleição lembrara que Doria possuía um avião comprado com empréstimo de R$ 44 milhões junto ao BNDES, na gestão do petista. "Esse dinheiro é do fundo de garantia. (...) Se o dinheiro [que vai para o BNDES] é dos trabalhadores, podia servir para comprar casa, mas avião?", acusou França, no debate da Record, para citar, em seguida, casas de Doria em cidades como Trancoso (BA), Boraceia (litoral de São Paulo) e Nova York.

No debate desta terça, as falas do pessebista indicando ostentação do adversário desapareceram. "Bom, Doria, nós estamos aqui completando uma eleição, e, durante esse período todo, nós tivemos diversas divergências pela maneira de entender a vida e de construir a nossa vida de maneira diferente", afirmou, de forma mais suave. "Eu quero dizer que eu respeito a sua [maneira], eu não tenho nada, absolutamente nada, ao contrário, mas o problema é que nós temos visão diferente de mundo. A minha sensibilidade é que o povo de São Paulo ainda precisa muito do governo, as pessoas pobres dependem do governo, eu quero muito poder ajudar as pessoas de São Paulo", destacou.

Argumentos recorrentes de França, nem mesmo motes como a traição de Doria a partidários como o ex-governador Geraldo Alckmin ou o abandono da Prefeitura de São Paulo com um ano e três meses de gestão foram citados no debate desta terça. "Não traio as pessoas do meu partido, eu não apunhalo as pessoas do meu partido, eu não faço rasteira nas pessoas do meu partido, eu não desprezo as pessoas do meu partido, diferente de você", destacara, por exemplo, no debate da Band.

Nos bastidores, os convidados de cada candidato mostraram alívio com o debate bem menos bélico, em que as propostas prevaleceram e os ataques pessoais foram deixados de lado. O último debate entre Doria e França será nesta quinta-feira (25), na Rede Globo.

* Colaborou Guilherme Mazieiro, em São Paulo

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