Em último debate, França e Doria sobem tom e voltam a se atacar

Luís Adorno*

Do UOL, em São Paulo

A quatro dias do segundo turno, os candidatos ao governo de São Paulo, João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB), subiram o tom no último debate da campanha, na noite desta quinta-feira (25), na TV Globo, e voltaram a se atacar, com ofensas, indiretas e acusações. Nos dois primeiros blocos, o debate foi propositivo. A partir do terceiro, os ataques tiveram início e não pararam até o término do encontro.

Para se atacarem, os dois repetiram as táticas exibidas nos dois primeiros debates, promovidos na Band e na Record, na semana passada. O tucano tentou colar a imagem do rival à esquerda, usando o apoio anunciado do MST nesta semana ao atual governo, além de acusar um vereador do partido de França de propagar fake news. Já o pessebista relembrou que o oponente deixou a Prefeitura de São Paulo após um ano e três meses, voltou a citar empréstimos pedidos por Doria quando era empresário e criticou "ações de marketing" do rival.

Nos dois primeiros blocos, França fez provocações ao adversário, mencionando a rejeição na capital indicada nas pesquisas Ibope e Datafolha, mas não teve resposta de Doria, que dizia "não querer polemizar". Porém, o tom comedido do tucano teve fim no terceiro bloco. A troca de acusações começou quando o pessebista disse que recebeu, entre outros, os apoios do senador Major Olimpio (PSL) e de Alberto Goldman, ex-governador e integrante do PSDB, e citou a rejeição do tucano na capital paulista. "Por que as pessoas não querem? Elas te rejeitam. É uma característica sua fazer as coisas meio marquetadas", disse.

"Eu recebi apoio de muita gente, recebi do Alberto Goldman ontem, presidente do seu partido, recebi de tantas pessoas. Agora, quando você não usa, aí você quer descartar desse jeito, isso não é bom", complementou França.

Doria contra-atacou. Disse que o MST (Movimento Sem-Terra) apoia França e que as pessoas querem um político novo "de verdade", citando que França é político há 30 anos. O tucano ainda acusou o vereador Camilo Cristófaro (PSB), aliado de França, de produzir fake news contra a sua campanha, mas sem especificar quais. "Não tenho vereadores criminosos produzindo fake news, Camilo Cristófaro (PSB). Seu aliado". Os candidatos passaram um para o outro o apoio do vereador.

"Eu não faço fake news, nem promovo fake news, nem tenho vereador da minha base conduzindo fake news criminosos como você tem, um tal de Camilo Cristófaro, que, aliás, tem uma folha corrida que vai daqui até aquela câmera, quase quatro metros de folha corrida criminal e é do seu partido, não é do meu partido", afirmou Doria.

Procurado pelo UOL, o vereador afirmou à reportagem que Doria é "o rei da suruba" e que registrará Boletim de Ocorrência contra o ex-prefeito, pelo que falou no debate da TV Globo.

Doria disse, ainda, ser contra o MST. "Radicalmente contra o MST, e você recebeu o apoio oficial do MST, eu sou contra, e serão tratados como bandidos. E o seu partido, O PSB também, consta lá, na página da internet, que a reforma agrária terá características socialistas", disse Doria.

Provocado, o ex-prefeito de São Vicente citou a série de apoios que recebeu neste segundo turno. "Para você ter uma ideia, o Paulo Skaf (terceiro lugar no primeiro turno), o presidente da Fiesp, me apoia. O senador que você conhece, o Major Olímpio, me apoia. Se ele achasse que fosse uma coisa de invasão, enfim, jamais apoiaria. Eu nem sei quem é o MST, não sei, não sei, eu não frequento esses ambientes", respondeu França.

No quarto e último bloco, Doria voltou a tentar colar a França a pecha de ligado à esquerda. "Eu quero distância dessa gente, essas pessoas que apoiam você, fiquem com você. Eu prefiro o Brasil verde e amarelo do que o Brasil vermelho que você prefere", afirmou.

O clima gerado entre os candidatos durante o segundo turno refletiu nos militantes de cada um deles. Pouco antes do debate, apoiadores de Doria e de França entraram em confronto nos arredores da emissora, segundo o jornal "O Estado de S.Paulo". A PM (Polícia Militar) teve de intervir e afastar os militantes.

Começo morno e de muitas propostas

Se os últimos dois blocos tiveram os dois candidatos trocando acusações, os dois primeiros foram marcados por um tom mais propositivo. Logo na primeira pergunta, Doria afirmou que esperava um debate "altivo", "em torno de propostas", porque é isso que a população "deseja ouvir". França, no entanto, cutucou o tucano, relembrando que Doria deixou a prefeitura de São Paulo e que ele "não cumpriu seus compromissos aqui com a população, o que afastou as pessoas da cidade, que têm que ficar chateadas, é claro".

No segundo bloco, a temperatura passou de fria para morna. Doria criticou hospitais estaduais que não estariam funcionando "em plenitude" na gestão França e dizendo que resolverá o problema a partir de 2019, mas ao mesmo tempo dizia que "não queria polemizar". O governador que tenta a reeleição retrucou: "eu queria falar para você deixar a população escolher o governador. Não antecipa, porque muita gente já antecipou, depois se estrepou", disse.

Na sequência, França ainda relembrou o fato de o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) ter insinuado que Doria é um traidor. "Eu não tive nenhum problema com Geraldo Alckmin, não, eu tenho sido muito leal com ele. Diferente do que a gente assistiu, ele não brigou comigo, não, não reclamou da minha atuação", disse. Na resposta, Doria ignorou a alfinetada.

Mesmo não respondendo, o ex-prefeito de São Paulo citou mais vezes o seu padrinho político, tratando de enaltecer os programas durante os oito anos de gestão no governo e desvinculá-los de França, além de tentar amenizar o atrito com Alckmin, intensificada depois do primeiro turno, quando disse que votaria no tucano para presidente "em solidariedade". Durante todo o debate, Doria citou 10 vezes o presidente nacional do seu partido, diferentemente do que havia feito nos outros debates. Em contraposição, elogiou apenas três vezes o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

A partir do terceiro bloco, o confronto entre os dois passou a ser uma constante com ambos repetindo as estratégias vistas em dois debates anteriores e também no horário eleitoral. Nesta sexta-feira, ambos voltam a realizar atos de campanha. Doria participará de entrevistas em São Paulo e irá, em seguida, para Presidente Prudente. Já França visitará obras em São Paulo, antes de partir para eventos em Sorocaba e Campinas.

Doria tem 52%, e França, 48%, diz Datafolha

Faltando apenas três dias para a eleição para o governo paulista, a diferença entre João Doria e Márcio França caiu de seis para quatro pontos percentuais, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (25). Doria tem 52% das intenções de votos válidos, e França, 48%.

A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. O levantamento foi feito na quarta (24) e quinta (25), com 2.394 entrevistas presenciais em 73 municípios. Contabilizando o total de votos, Doria e França estão tecnicamente empatados.

Em uma campanha de fortes ataques, os dois candidatos chegaram à reta final com o mesmo índice de rejeição: 42%. O índice de pessoas que não votariam de jeito nenhum em Doria chega a 55% na capital, e é de 36% no interior. Em relação a França, a maior rejeição é no interior (45%) do que na capital (36%).

A pesquisa foi contratada pelo jornal Folha de S.Paulo e pela TV Globo e está registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o número SP-02453/2018.

* Colaborou Janaina Garcia, em São Paulo

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