Witzel diz que pedirá a Bolsonaro permanência das Forças Armadas no Rio

Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio

O governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), afirmou na noite deste domingo (28) que vai procurar o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para pedir a presença das Forças Armadas na segurança pública do estado e a renegociação do acordo de recuperação fiscal do estado com a União.

O ex-juiz federal quer a permanência dos militares por meio de uma nova operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) --que dá poder de polícia aos militares, com a segurança sob comando do governador-- ou por meio de convênio. Atualmente, o estado se encontra sob intervenção federal comandada pelas Forças Armadas --ou seja, o comando da segurança no estado cabe ao general interventor e comandante Militar do Leste, Walter Souza Braga Netto.

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“A integração na área de segurança pública tem que ser muito forte”, disse o governador eleito. Witzel afirmou que quer a colaboração de Bolsonaro para ampliar o conselho de segurança pública do estado para incluir nele órgãos da União, como a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Abin (agência de inteligência) e as Forças Armadas. "O Exército, as Forças Armadas terão assento garantido no conselho”, disse.

Algumas das principais propostas de campanha de Witzel foram instruir agentes de segurança a “abater” criminosos flagrados portando fuzis (mesmo que eles não estejam atirando) e acabar com a Secretaria da Segurança para administrar o setor diretamente.

Witzel afirmou que conversará com o interventor Braga Netto para “aproveitar o legado da intervenção”.

O governador eleito também disse que, na hipótese de o Congresso discutir reformas constitucionais, pedirá apoio a Bolsonaro para que os estados façam “modelagem” das concessões e deu como exemplo os setores de portos, aeroportos e as usinas nucleares de Angra dos Reis, no litoral sul fluminense.

Ele afirmou ainda que deseja pedir a Bolsonaro para renegociar o acordo de recuperação fiscal que suspendeu temporariamente o pagamento da dívida pública do Rio. “O regime foi uma proposta ruim do meu ponto de vista”, disse. Ele afirmou saber que essa decisão não depende do governador e disse que “será possível trabalhar”, mesmo que o atual acordo continue em vigor.

Pedido de união e diagnóstico do estado

O governador eleito, que confirmou ter recebido um telefonema do oponente Eduardo Paes (DEM) o parabenizando pela vitória, pediu união em favor do estado do Rio.

“Eduardo Paes teve votação que precisa ser respeitada, política é debate de ideias, mas governar é para todos”, disse. Com 100% das urnas apuradas, Witzel registrou 59,87% dos votos contra 40,13% de Paes --vantagem de mais de 1,5 milhão de votos.

Witzel disse que sua primeira ação será fazer um diagnóstico mais profundo dos problemas do estado para definir durante o processo de transição as metas para os próximos quatro anos. Ele disse que os focos principais serão segurança e saúde.

"Os casos de elucidação dos homicídios têm que ter um novo patamar. Os homicídios não podem continuar nos níveis em que estão”, disse.

Em pronunciamento, Witzel agradeceu a população e frisou que sua vitória representa o desejo de mudança da população fluminense. “A esperança renasce no povo do Rio de Janeiro”, afirmou.

Witzel disse também que reafirmava “o compromisso de que agora temos a certeza da responsabilidade de reorganizar o estado, as contas públicas e devolver a tranquilidade em todos os sentidos”.

O governador eleito também agradeceu a mulher, Helena, que disse representar “a força da mulher brasileira”.

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Homenagem a Flávio Bolsonaro

Witzel acompanhou a apuração dos votos com sua equipe em um hotel na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Logo após a totalização da contagem dos votos, ele falou à imprensa demonstrando uma animação contida.

Ele estava acompanhado de assessores, da mulher Helena, uma das filhas e uma sobrinha --que por alguns segundos roubaram a cena do pai pulando e exibindo um cartaz feito a mão em uma folha de papel com o número 20 da candidatura do ex-juiz. O governador eleito então desceu ao salão de festas do hotel, que estava apenas parcialmente cheio por apoiadores para discursar.

Com a voz rouca, fez um agradecimento especial ao senador eleito do Rio Flávio Bolsonaro (PSL), que participou com ele de uma carreata no primeiro turno. Jair Bolsonaro se manteve neutro durante toda a campanha.

“Quero fazer um agradecimento ao jovem senador que em um gesto simbólico, contrariando até mesmo o 01, em uma caminhada em Nova Iguaçu, ele me deu a mão e falou: 'salva o Rio de Janeiro'”, disse.

Witzel adotou um tom de ressentimento ao falar das pesquisas de intenção de voto e dos ataques que sofreu de concorrentes --ele foi acusado por Paes de ser ligado ao advogado Luiz Carlos Azenha, que defendeu o traficante Antonio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, e também foi chamado de frouxo por ter deixado o Espírito Santo, onde atuava como juiz federal, após ter sido ameaçado pelo crime organizado.

As pesquisas de opinião só retrataram crescimento mais significativo de Witzel na semana da votação do primeiro turno. “Fake news e fake pesquisas não podem mais continuar”, disse ele a apoiadores.

“Política é um embate de ideias, mas o que tentaram fazer com meu passado, moral, dignidade, isso ninguém apaga”, disse.

Witzel afirmou que colegas juízes se arriscaram a sofrer punições do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para dar apoio a ele nas redes sociais e criticou o rigor do conselho no assunto. Também disse que a esposa o apoiou para superar essa dificuldade. “Diante todas essa angústias era ela, Helena, que me acalentava e dizia: ‘nada nesse mundo vai impedir que você realize seu sonho’”, disse.

Witzel tembém agradeceu os apoios no segundo turno dos candidatos derrotados ao governo fluminense Indio da Costa (PSD) e André Monteiro (PRTB). Cometeu também um engano ao confundir o PSL com o PSC.

“No segundo turno, para calar aqueles que acham que não temos capacidade de mobilização política, recebemos apoio do PSD, do Podemos, do PRB [do prefeito Marcelo Crivella], do PRP, e um apoio gigante por um acordo na bancada PSC, não, do PSL, o PSC já é meu”, disse.

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