BolsoDoria ou BolsoFrança: quem teve a melhor estratégia em São Paulo?
Talita Marchao e Wanderley Preite Sobrinho
Do UOL, em São Paulo
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Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo
Associação a Bolsonaro foi estratégia de Doria e França, com táticas diferentes
Com os apelidos de BolsoDoria e BolsoFrança, os dois candidatos que disputaram o segundo turno para o governo do estado de São Paulo tentaram associar suas imagens à de Jair Bolsonaro (PSL), que então liderava as pesquisas de intenções de voto para presidente. Enquanto João Doria (PSDB) adotou um discurso similar ao do capitão reformado, Márcio França (PSB) contou com o apoio do senador eleito com maior votação em São Paulo, Major Olímpio, do mesmo PSL do presidente eleito.
No final das contas, quem tirou vantagem da associação com o militar foi Doria, eleito com 51,75% dos votos.
O sucesso da estratégia de Doria se reflete em números. Ele venceu em 392 dos 645 municípios do estado, as mesmas cidades em que Bolsonaro levou a disputa para presidente. França foi o escolhido em outras 253 cidades, mas 14 delas escolheram Fernando Haddad (PT) presidente enquanto 239 elegeram Bolsonaro.
O tucano capitalizou melhor a associação com Bolsonaro mesmo com o apoio explícito de Olímpio e de oito deputados do PSL a Márcio França.
Para o cientista político da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Eduardo Grin, a estratégia de Doria foi abraçar o antipetismo representado por Bolsonaro ao mesmo tempo em que colou em França a imagem de comunista. A tática deu certo em todo o interior, mas falhou na capital. "Esse tipo de apelo ao medo [ao comunismo] é mais útil a um eleitor menos informado, que vive nas cidades menores. Estes votaram no Doria muito por rejeição à esquerda. Mas esse apelo tem menos eco no eleitor mais esclarecido, morador das grandes cidades."
Na capital, onde França venceu o rival por uma diferença de 900 mil votos, o eleitor da periferia, já tradicionalmente simpático ao PT, compreendeu que França era a opção mais alinhada a seu voto tradicional, e escolheu em peso o candidato socialista.
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Mas nem todos os eleitores de esquerda aceitaram Márcio França. Para Jacqueline Quaresemin, da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), muitos progressistas lembram que o PSB votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. "Uma parcela do eleitorado deixou bem claro que não votaria no PSB e nem no candidato do PSDB, que deixou a prefeitura e se associou a uma proposta autoritária representada pelo PSL."
A professora acredita que Doria perdeu na capital também por ter se vinculado a Bolsonaro. "Isso é um quadro bem importante. Mostra que na capital você tem maior participação política, atividade de movimentos sociais, o que é significativo."
Santos, onde França vence por 17 votos
A cidade de Santos, no litoral sul de São Paulo, registrou um empate entre Doria e França: cada um teve 50% dos votos. França, ex-prefeito de São Vicente, ganhou do rival por uma diferença de 17 votos --foram 116.198 votos contra 116.181 de Doria. Na onda BolsoFrança, Santos elegeu Jair Bolsonaro com 71,35% dos votos, contra 28,65% em Haddad.
Além de Santos, o candidato do PSB venceu em quase todas as cidades da Baixada Santista (Guarujá, São Vicente, Cubatão, Itanhaém, Peruíbe e Mongaguá), perdendo somente na Praia Grande e em Bertioga. O socialista fez questão de destacar em sua campanha que, em 2000, foi reeleito prefeito com 93% dos votos em São Vicente, cidade vizinha de Santos,
Essa força de França no litoral ajudou a equilibrar a votação no final e ainda aumentou a representação de sua legenda em todo o estado. "O PSB é um partido que cresce comendo pelas bordas. É um partido de centro-esquerda que vem galgando alguns postos interessantes principalmente em eleições municipais", diz a professora. "Isso pode impactar nas próximas eleições daqui a dois anos."
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