França pagou "preço caro" por apoio do PSB ao PT, diz coordenador político

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

O atual governador de São Paulo, Márcio França (PSB), perdeu a eleição nesse domingo para João Doria (PSDB) por apenas 741.610 votos de diferença (51,75% contra 48,25% dos votos válidos). Para o coordenador político da campanha de França, Jonas Donizette (PSB), dois fatores foram decisivos para a derrota da candidatura pessebista.

Segundo ele, a adesão da executiva nacional do PSB no segundo turno à candidatura de Fernando Haddad (PT) e o crescimento do petista nessa última semana nas pesquisas de intenção de voto definiram a eleição.

"Não vejo (errro) na campanha, a não ser o apoio nacional do partido ao PT. Por mais que França tenha se declarado neutro na disputa presidencial, o que, na minha opinião, ele fez corretamente, foi cobrado demais por isso e pagou um preço muito caro no estado, já que o cenário nacional contaminou o debate", avaliou.

Doria aproveitou a ligação histórica do PSB com o PT para associar França à esquerda, chamou-o de "socialista" e "afilhado do PT". Também a adesão de partidos de esquerda como o PCdoB na coligação de 14 partidos costurada pelo governador foi munição para o tucano –ainda que França tenha enfatizado, ao longo das últimas semanas, ter sido ele, próprio, um dos coordenadores da campanha vitoriosa de Doria à Prefeitura de São Paulo, em 2016.

Membro da executiva nacional, Donizette afirmou ter sido voto vencido, assim como França, da reunião que definiu o apoio a Haddad. "Márcio foi adversário do PT em sua cidade [São Vicente]; eu, na minha. Não temos nenhuma identidade com o PT. Mas isso ajudou a esvaziar um pouco o debate, e creio que a subida de Haddad nos últimos dias pode ter gerado um receio extra e reforçado o apego a um nome que apoiava Bolsonaro", disse, referindo-se a Doria.

A executiva nacional do PSDB, presidida pelo ex-governador e quarto colocado no primeiro turno Geraldo Alckmin, optou pela neutralidade na disputa, mas liberou seus filiados a se posicionarem. Doria, que já vinha desde o fim do primeiro turno incorporando posições na área de segurança mais próximas das de Bolsonaro, abraçou de vez a candidatura do militar já no domingo de votação. Nas semanas seguintes, até hoje, aderiria massivamente à marca "BolsoDoria".

França, por sua vez, não declarou apoio a ninguém, mas teve nomes próximos na campanha anunciando voto ao capitão reformado –entre eles, a vice, a coronel da Polícia Militar Eliane Nikoluk (PR), o terceiro colocado ao governo, Paulo Skaf (MDB), e o senador eleito pelo PSL Major Olimpio.

"Foi uma estratégia que funcionou [a de Doria, ao associá-lo à esquerda]. Mas, se a eleição fosse só a de São Paulo, sem esse ingrediente nacional, Doria teria muita dificuldade", completou o coordenador de campanha do candidato à reeleição.

E o futuro de França?

França derrotou Doria na capital e em outras 252 cidades. Na avaliação de Donizette, ele conquistou mais eleitores nas cidades de pequeno porte e sai fortalecido da eleição. "Ele sai com um capital político muito forte e está disposto a seguir disputando eleições, pois mostrou densidade eleitoral. Vejo que há uma grande possibilidade de ele disputar a eleição para a Prefeitura da capital, daqui dois anos, mas isso ele que decidirá", concluiu.

Nesse domingo (28), ao fazer o pronunciamento sobre o resultado das urnas, França se disse "vitorioso" pelo resultado e sinalizou que não deve deixar a política tão cedo. "Eleição é assim: acaba uma, começa outra. Tenho 17 eleições apoiando ou participando, mas, de todas, saio com mais vontade de fazer política. A partir de agora é uma nova fase, temos que respeitar os resultados", comentou França, na ocasião.

O governador deve se reunir com a equipe de transição a partir da próxima semana, já que, nos próximos dias, ele descansa para se recuperar de uma pneumonia diagnosticada na reta final da campanha. Nesse domingo, antes de falar à imprensa, era submetido a medicação para tratar uma febre.

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