Quem é Onyx Lorenzoni, futuro ministro da Casa Civil no governo Bolsonaro
Gustavo Maia e Luciana Amaral
Do UOL, no Rio e em Brasília
-
Fábio Motta/Estadão Conteúdo
Onyx Lorenzoni se aproximou de Bolsonaro em 2003, na oposição ao desarmamento
Um veterinário na "Arca de Noé". É assim que o deputado federal, homem forte do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), e futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), pode ser definido no grupo que ocupará o Palácio do Planalto a partir de 1º de janeiro de 2019.
Em maio deste ano, ainda durante a pré-campanha, o presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebianno, definiu a estrutura que cercava Bolsonaro como "enxuta". "Profissionais construíram o Titanic, e amadores construíram a Arca de Noé. Nós somos mais para a Arca de Noé", resumiu.
Veterinário por formação, Onyx já recorreu ao seu conhecimento médico para convencer o "cavalão", como Bolsonaro é conhecido pelos mais próximos, a tomar remédios durante uma crise de sinusite na campanha.
Leia também:
- Bolsonaro diz que convidará Moro para ministro da Justiça ou STF
- No JN, Bolsonaro diz que imprensa que "mentir" não terá apoio
- Stycer: Bolsonaro elogia Record, descarta TV Brasil e ataca a Folha
Ambos se conheceram em 2003, na época das discussões sobre o Estatuto do Desarmamento, que se tornaria lei no final daquele ano. Eles faziam parte do primeiro grupo de cerca de dez deputados que enfrentou a ala desarmamentista na Câmara. Bolsonaro ficou responsável por coordenar o grupo no Sudeste. Onyx, no Sul. Eles não obtiveram o sucesso que queriam, mas mal sabiam que ali era o início de uma amizade que, no futuro, renderia a Presidência da República.
Mais tarde, em 2007, Onyx virou líder da bancada do PFL na Casa e teve o apoio de Bolsonaro em articulações políticas, por conta das várias bandeiras em comum. "Sempre estivemos no mesmo lado", diz o "gaúchão", como é apelidado pelo capitão reformado do Exército.
Mobilização de Bolsonaro nas redes sociais
No período pós-eleição de 2014, Onyx disse à reportagem do UOL ter observado a intensa pressão popular contra a maneira como a política era conduzida, e a ascensão das redes sociais como forma de comunicação direta com os eleitores.
"Em paralelo, ia acompanhando os movimentos do Bolsonaro. Ficava muito impressionado com a capacidade de mobilização dele", afirmou. "Aí, tu vais para as redes e vê que, no episódio do impeachment, nasce uma nova cidadania. É o cara que não tem engajamento partidário. Tem, às vezes, alguma marcação ideológica, mas não é fundamental. E tem, lá, uma pauta que ele quer."
Onyx acrescentou ter sido "o primeiro deputado" a subir em caminhões de protestos na avenida Paulista, em São Paulo, e ter apoiado o MBL (Movimento Brasil Livre) em seus primeiros passos. Ele disse ainda ter acertado previsões feitas à época, como a de que o mensalão e a crise dos Correios eram de "trombadinha" e que "grave seria o dia em que a gente abrisse a Petrobras".
Presidente da Câmara e correligionário de Onyx, o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), reconheceu, na semana passada, que o parlamentar foi o único dentro do partido a antever a onda que elegeu Bolsonaro. "O mérito é dele", comentou Maia, que votou no presidente eleito e articula para se reeleger no comando da Casa.
Intensificada por troca de ideias no plenário da Câmara e bate-papos lado a lado em comissões, a aproximação anterior culminou em um convite de Bolsonaro no primeiro semestre de 2017 para que Onyx o ajudasse no projeto rumo à Presidência. Embalado pelo "somatório de coisas" na cena política do país, topou.
O desafio então era "desenvolver a base, gerar governabilidade". Entre as medidas, ajudou a articular viagens de Bolsonaro à Ásia e aos Estados Unidos.
O deputado credita o sucesso de Bolsonaro à "credibilidade e verdade" transmitidas, uma demanda de valores "éticos e de família", que teriam sido atacados durante os governos PT, segundo ele, além do suporte e inteligência dos grupos que cercaram o presidente eleito. As transmissões nas redes sociais, porém, foram "intuitivas", acrescenta.
Nova rotina de entrevistas e requisitado por aliados
Durante os dias em que ficou no Rio de Janeiro no segundo turno, Onyx foi presença frequente na casa de Bolsonaro e também nos 350 metros da calçada que separam o hotel em que se hospedou do condomínio onde o presidente eleito mora.
À medida que passou a dar mais entrevistas, começou a ser mais requisitado por apoiadores que peregrinaram até a residência do então presidenciável. Posava com solicitude para inúmeras selfies e parava para ouvir com atenção a pedidos de "bolsonaristas". Chegou a levar uma senhora que estava havia dias na frente do condomínio para ver o ídolo.
Onyx disse ter começado a escrever um livro – o quinto – no segundo semestre de 2016, que mostrará todo o trabalho realizado junto a Bolsonaro. A intenção é lançá-lo no ano que vem.
Convidado para ocupar a Casa Civil, o futuro ministro prega "comungar as ideias" e trabalhar "caminhando junto". Ele garante, porém, que não haverá espaço para "toma lá, dá cá" com políticos e que a equipe do governo será técnica. Nesta segunda (29), declarou que, "no governo Bolsonaro, quem roubar vai para a cadeia, e ele vai jogar a chave fora".
Medidas contra corrupção e caixa 2 da JBS
Na Câmara, em 2016, Onyx foi relator do projeto denominado "10 medidas contra a corrupção". Após pressão de parlamentares, retirou pontos de seu parecer, e o texto ficou aquém do esperado por parte do Ministério Público Federal.
Meses depois, admitiu ter recebido R$ 100 mil por meio de caixa 2 do frigorífico JBS, de propriedade de Joesley Batista. O dinheiro ilegal foi revelado em delação, que ajudou a embasar denúncia da PGR contra Michel Temer.
Receba notícias do UOL. É grátis!
Veja também
- Bolsonaro presidente: Os quatro nomes apontados como prováveis ministros
- Ex-astronauta e militar: conheça o futuro ministro da Ciência e Tecnologia
-
- "Estamos vacinados contra o autoritarismo", diz general Heleno
- Lorenzoni descarta reforma da Previdência de Temer: 'Não queremos remendo'
- Governo Bolsonaro deve começar 2019 com menor arrecadação financeira
- Governo de transição terá 22 gabinetes e reforço da PF no CCBB de Brasília