USP investiga alunos que posaram para foto com mensagens de ódio a petistas

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

  • Divulgação

    Supostos alunos da FEA favoráveis a Jair Bolsonaro (PSL) em foto que circulou entre a comunidade acadêmica logo após a eleição

    Supostos alunos da FEA favoráveis a Jair Bolsonaro (PSL) em foto que circulou entre a comunidade acadêmica logo após a eleição

A direção da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) instaurou uma comissão para investigar quem são os alunos da instituição que aparecem em uma foto portando arma –não se sabe ainda se real ou de brinquedo –e com placas com mensagens hostis a petistas.

A foto, revelada pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu, que representa os alunos da faculdade, teria sido feita em uma sala de aula da instituição. Não se sabe quando ela foi tirada, mas a imagem começou a circular e grupos de WhatsApp na segunda-feira (29)

A foto mostra uma lousa atrás de quatro rapazes –três deles, de óculos escuros --, onde é possível ler as mensagens "Nova era" e "B17", abreviação comum aos eleitores do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).

Ao UOL, a direção da FEA, por meio de sua assessoria de imprensa, adiantou que os homens da foto são alunos –não foi confirmado se todos eles, no entanto, tampouco suas identificações.

Os dois de óculos escuros ostentam trajes alusivos ao presidente norte-americano Donald Trump e ao ditador norte-coreano Kim Jong-Un –este último, nas mãos, também com o que seria uma pistola. Um terceiro rapaz veste indumentária militar. O quarto aparece atrás de uma bandeira.

Na mesa em que posam para a foto, há duas placas e as mensagens: "Está com medo, petista safada?" e "A nova era está chegando".

Em nota, o diretor da FEA, Fábio Frezatti, repudiou "as ações de incitação à violência" que, segundo ele, "estão ocorrendo dentro do ambiente da USP e, particularmente, da FEA".

"A Universidade existe como um campo de debate de inúmeros temas, inclusive o político, e a nossa tradição é pacífica. E queremos que assim continue, para todos, num ambiente em que a pluralidade seja uma prática real, politica, religiosa, de gênero ou outra perspectiva", diz a nota.

Frezatti poderá ainda que o período eleitoral "foi tenso" e as expectativas "oscilaram com muita radicalização", mas que, encerrado o processo eleitoral, é preciso que os ânimos se acalmem.

"Em algumas situações algo que pode ser pensado como 'brincadeira' pode ser o estopim para aumento da agressividade e mesmo ameaças. Isso é inaceitável pois queremos um ambiente em que a comunidade possa pensar, discutir, aprender e crescer. Truculência não faz parte desse cardápio seja qual for a sua forma de exteriorização", escreveu.

O direto enfatizou ainda que ações que "intimidem, ofendam e causem reações e danos" serão "rigorosamente coibidas e punidas".

Segundo a assessoria, os trabalhos da comissão devem ser iniciados entre hoje e amanhã.

Imagem é "bastante preocupante", avalia centro acadêmico

Também em nota, o centro acadêmico informou que a imagem passou a circular ontem (29) em grupos de WhatsApp de alunos e a classificou como "bastante preocupante".

"Apesar do cunho eleitoral, não se trata de uma simples manifestação política: é um retrato misógino e violento, de caráter fascista, que ameaça os direitos democráticos da coletividade dos estudantes", escreveu a gestão responsável pelo CA.

"A foto faz parte de uma onda de extremismo e práticas violentas por todo país. Só em nossa universidade, observamos também suásticas sendo pintadas na porta de residências estudantis e apologia à violência dentro dos campi", menciona o texto, em alusão a episódios verificados no campus dias antes do segundo turno.

"Demonstrações de ódio como a presente na imagem são inadmissíveis em quaisquer contextos, principalmente dentro de uma sala de aula universitária", complementa a nota do CA.

Clima é de medo entre as mulheres, diz aluna

Sob anonimato, uma aluna do curso de economia afirmou que a foto deixou sobretudo as mulheres dos cursos com medo. "Está todo mundo com medo do que pode acontecer, mas especialmente as alunas ficaram inseguras. Nem deu tempo ainda de a nossa rotina ser afetada, mas muitos de nós bombardeamos os chefes de colegiado, por e-mail, cobrando respostas --e todos eles responderam", disse.

De acordo com ela, os alunos já identificaram para a faculdade quem são os estudantes da foto. "São todos alunos de administração --só o que aparece atrás da bandeira que, parece, ainda não identificado", relatou.

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