Efeito de recadastramento é pequeno
Daniel Bramatti
São Paulo
O cancelamento de quase 3,4 milhões de títulos eleitorais às vésperas das eleições, principalmente em cidades onde a petista Dilma Rousseff venceu a última disputa presidencial, provocou no PT temores de que o partido seja prejudicado na votação de hoje. Análise feita pelo "Estadão Dados", porém, indica que, se existir, o efeito da medida será muito pequeno e dificilmente afetará o resultado.
Apesar de o número de títulos cancelados corresponder a cerca de 2% dos eleitores, em nenhuma das simulações feitas pelo "Estadão Dados" o eventual prejuízo ao PT superaria 0,4% dos votos válidos. Nunca houve eleição presidencial decidida por margem tão pequena de votos.
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A Justiça Eleitoral cancelou títulos em 1.248 municípios onde o recadastramento biométrico foi obrigatório entre 2016 e 2018. O recadastramento consiste na convocação dos eleitores para a coleta e digitalização de suas impressões digitais. Os que não se apresentaram até o prazo final, ou regularizaram a situação logo depois, perderam o direito de votar.
Dos 1.248 municípios afetados, em 69% deles Dilma venceu Aécio Neves (PSDB) no segundo turno de 2014. Seriam, em tese, redutos do PT. Do total de títulos cancelados, 60% estão em cidades onde o partido venceu. Ou seja, os dados indicam que o PT pode mesmo ter sido prejudicado pelo recadastramento obrigatório em seus redutos. Mas é preciso analisar se esse prejuízo é grande o bastante para afetar uma eleição presidencial, na qual há 147 milhões de pessoas aptas a votar.
Sabe-se que os recadastramentos eleitorais eliminam os títulos de pessoas que já morreram ou se mudaram de cidade e, por isso, deixaram de votar. O efeito disso ficou evidente em 2016: nas cidades em que a biometria foi obrigatória, a taxa de abstenção média foi de 12%, contra 19% da média nacional.
Mas sabe-se também que muitos eleitores não se recadastraram por perder o prazo ou por não saber da obrigatoriedade da medida. Em Salvador, por exemplo, houve filas gigantescas e tumulto nos últimos dias do recadastramento.
Para avaliar o possível impacto eleitoral do cancelamento dos títulos, o "Estadão Dados" fez uma simulação usando o resultado da disputa presidencial de 2014. O número de "votos cancelados" foi distribuído segundo a proporção dos votos em Dilma e Aécio. Também foi descontada a parcela dos cancelamentos que, em tese, resultaria em votos nulos ou brancos.
Para simular o pior cenário possível para o PT, o cálculo desconsiderou a possibilidade de parte dos títulos cancelados ser de eleitores falecidos ou que se abstiveram em 2014.
Nesse cenário, com 3,4 milhões de eleitores a menos na disputa de 2014, Dilma teria perdido 1,8 milhão de votos, e Aécio, 1,3 milhão. Os restantes seriam brancos e nulos. Recontados os votos, a petista teria 51,4%, em vez dos 51,6% que efetivamente recebeu, e Aécio ficaria com 0,2% a mais. Ou seja, mesmo na improvável pior situação para o PT, o partido continuaria sendo o vencedor. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
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