Da Hungria às Filipinas, onde o populismo de direita chegou ao poder

Érika Kokay

  • Bullit Marquez/AP

    Nomes como Rodrigo Duterte (foto) e Viktor Orbán ganharam destaque internacional

    Nomes como Rodrigo Duterte (foto) e Viktor Orbán ganharam destaque internacional

Com a vitória de Bolsonaro, o Brasil entrou para o rol dos países que, nos últimos anos, elegeram governantes populistas ou de extrema direita, como a Itália, a Polônia e a Hungria.

Populista de tendências autoritaristas, Viktor Orbán é primeiro-ministro húngaro desde 2010, quando seu partido, o conservador Fidesz, venceu as eleições com maioria esmagadora dos votos. Desde então, seu governo tem sido acusado de violações de valores democráticos em temas como imigração, corrupção, liberdades civis e direitos das minorias.

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Entre as medidas polêmicas está uma reforma do Judiciário que aumentou o número de cadeiras da Suprema Corte húngara de 8 para 15 e deu ao partido de Orbán o poder para nomear juízes, o que críticos acusam de minar a independência judicial.

Também foram alvo de críticas a reforma eleitoral, a limitação dos poderes da corte constitucional, a redução da pluralidade midiática e as duras políticas anti-imigração. A União Europeia estuda aplicar sanções contra o país por desrespeito à democracia.

Ideologicamente, o Fidesz, que surgiu em 1988 como um partido liberal, democrático e anticomunista, transformou-se numa agremiação conservadora, de cunho autoritarista e eurocético.

Polônia

O partido conservador de direita Lei e Justiça (PiS), do primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, governa o país do Leste Europeu com maioria absoluta no Parlamento. Embora não se apresente como extremista de direita, a legenda é abertamente anti-imigração e já foi descrita por especialistas como uma aliança entre o nacionalismo e o neofascismo.

Uma das figuras mais emblemáticas do PiS é seu presidente, Jaroslaw Kaczynski, um ex-primeiro-ministro e ex-presidente polonês que é o verdadeiro homem forte do governo. Com um discurso muitas vezes descrito como antidemocrático, Kaczynski se diz contrário à União Europeia e à acolhida de refugiados e já expressou desejo de construir uma "Budapeste em Varsóvia".

Elementos centrais do discurso do PiS são criminalidade e segurança interna e, ligados a eles, o "reestabelecimento da lei e da ordem".

Seguindo os passos da Hungria, o PiS também aprovou uma reforma do sistema judicial polonês com o objetivo, segundo críticos, de preencher assentos da Suprema Corte com juízes aliados ao governo. A medida levou a Comissão Europeia a abrir um processo legal contra a Polônia. O partido também tenta controlar a imprensa pública. Assim como o Fidesz, o PiS tem uma clara tendência eurocética.

Áustria

A Áustria é governada desde dezembro de 2017 pelo chanceler federal Sebastian Kurz, da legenda conservadora ÖVP, aliada ao populista de direita FPÖ (Partido da Liberdade da Áustria), do vice-chanceler Heinz-Christian Strache.

As duas siglas já haviam formado uma coalizão em 1999, quando o FPÖ se tornou o segundo maior partido na eleição do Conselho Nacional (uma das câmaras do Parlamento austríaco) e uma espécie de precursor da atual onda de partidos de extrema direita. Na época, o FPÖ era liderado por Jörg Haider, que morreria num acidente de carro em 2008.

No poder – sobretudo devido a um posicionamento rígido anti-imigração –, Kurz e sua coalizão deram uma guinada à direita na Áustria, implementando políticas duras contra refugiados. O ministro do Interior, Herbert Kickl (FPÖ), chegou a sugerir manter os requerentes de refúgio "concentrados" num único lugar – o que lhe rendeu acusações de utilizar linguajar nazista.

Partes do FPÖ são racistas e de orientação antissemita, mesmo que nem sempre de maneira ostensiva. O partido integra também, desde sua fundação, grupos de orientação nazista e uma forte corrente teuto-nacionalista, que defende a inclusão da Áustria "na comunidade linguística, cultural e étnica alemã".

Itália

A Liga, partido italiano de extrema direita, foi apenas a terceira agremiação mais votada na eleição de março deste ano, mas em junho conseguiu formar uma coalizão de governo com o partido antissistema Movimento Cinco Estrelas (M5S) para governar a Itália.

O primeiro-ministro, Giuseppe Conte, não tem partido e foi a solução encontrada pelos dois partidos para que nenhum deles assumisse o cargo. Contudo, um dos dois vices, o líder da Liga, Matteo Salvini, ocupa tanto espaço no noticiário político, com seus sucessivos ataques à União Europeia e aos imigrantes, que às vezes parece ser o chefe de governo.

Salvini se referiu aos refugiados como "carne humana", proibiu navios de resgate de atracar em portos italianos e pressionou a União Europeia na questão migratória. O discurso inflamado e a política xenófoba encontraram eco entre os eleitores: cem dias após a posse do novo governo, a Liga chegou ao topo das pesquisas, com 30% de apoio, ante os 17% conquistados na eleição.

Suíça

O populista de direita Partido Popular Suíço (SVP) é a legenda com maior número de assentos nas duas câmaras do Parlamento do país desde as eleições de 2015. Com isso, garantiu duas vagas no chamado Conselho Federal – o grupo de sete políticos apontados pelo Parlamento que exerce a chefia de governo e de Estado na Suíça por consenso.

Assim como outros partidos europeus, também o SVP adota um discurso anti-imigração. O partido esteve por trás do projeto de lei, lançado em 2013, que visa banir o uso do véu islâmico na Suíça e foi o principal promotor da legislação de 2009 que proibiu a construção de minaretes em mesquitas – uma medida condenada internacionalmente.

Dinamarca

Os sentimentos de extrema direita costumam ser considerados parte de uma subcultura na Dinamarca, em vez de um discurso de longa data. Contudo, a retórica direitista se tornou cada vez mais aceitável na política do país nos últimos anos, principalmente com a ascensão do populista de direita Partido Popular Dinamarquês (DF).

A legenda se alçou à segunda maior força do Parlamento dinamarquês nas eleições de 2015 e passou a fazer parte do governo, em aliança com os liberal-conservadores, que ficaram em minoria. Seguindo a tendência anti-imigração de outros países da Europa, a coalizão de centro-direita tem endurecido as regras para migração e refugiados.

Em 2016, a Dinamarca adotou uma lei que exige de requerentes de refúgio recém-chegados que entreguem objetos de valor para ajudar a pagar por sua estada no país. Neste ano, com impulso do DF, o país proibiu o uso em lugares públicos de peças de roupa que cobrem o rosto integralmente, entre elas as vestimentas islâmicas burca e niqab – medida tachada de discriminatória.

Filipinas

Rodrigo Duterte foi eleito presidente das Filipinas com a promessa de acabar com o tráfico de drogas no país – e tem se esforçado para cumpri-la, mesmo que por meio de execuções extrajudiciais. Desde que assumiu o poder, em junho de 2016, ele tem travado uma sangrenta batalha que já deixou milhares de mortos em operações antidrogas em todo o país.

Grupos de direitos humanos, por sua vez, acusam os policiais de executarem tanto traficantes como usuários de drogas, e o Tribunal Penal Internacional (TPI) abriu investigações para apurar se foram cometidos crimes contra a humanidade no país. A popularidade de Duterte segue em alta.

O político é um conhecido de longa data dos filipinos. Ele foi prefeito da cidade de Davao por mais de duas décadas e, embora tenha deixado uma imagem de gestor eficiente no município, teve um governo marcado pelo populismo e por execuções extrajudiciais. Ali, foi acusado de liderar "esquadrões da morte" responsável por cerca de mil assassinatos.

Turquia

O presidente Recep Tayyip Erdogan adota cada vez uma linha populista de direita, principalmente depois que conseguiu trocar o sistema de governo da Turquia de parlamentarista para presidencialista e elevar os poderes presidenciais.

Em seu discurso público, Erdogan promete o retorno a um suposto passado glorioso, dá ênfase a sentimentos nacionalistas e marginaliza minorias étnicas, como os curdos, e aposta na polarização social e no confronto.

Ele também persegue a imprensa e a oposição, com detenções de oposicionistas e jornalistas e demissões de funcionários públicos. Essas práticas ganharam força depois do golpe de Estado fracassado de 2016.

A Justiça turca não é considerada independente por analistas estrangeiros, que também veem ameaçadas a democracia e o Estado de Direito no país. As denúncias de desrespeito aos direitos humanos cresceram depois que o presidente acumulou poderes.

Noruega

O Partido do Progresso (FrP), anti-imigração e populista de direita, integra o governo minoritário ao lado dos conservadores e liberais. Assim como outros partidos populistas da Escandinávia, o FrP aposta numa política fortemente anti-migratória, que torna mais difícil para os refugiados trazerem seus familiares para o país, por exemplo. O principal alvo das críticas do partido são imigrantes muçulmanos.

Inicialmente isolado pelos outros partidos, o FrP entrou no governo pela primeira vez em 2013, também numa coalizão com os conservadores, e se manteve na coalizão de governo de 2017.

O responsável pelo massacre de Oslo em 2011, o extremista de direita Anders Behrens Breivik, chegou a ser membro do partido, de 1999 a 2006.

Estados Unidos

Mesmo tendo sido eleito pelo Partido Republicano, o presidente Donald Trump segue uma linha de claro viés populista e se alinha ao setor mais conservador e nacionalista do partido, encontrando adversários na ala liberal e progressista, representada pelos ex-presidentes Bush e pelo recém-falecido senador John McCain.

Trump ataca impiedosamente a imprensa, principalmente o jornal The New York Times e a emissora CNN, a quem acusa de divulgar fake news; adota um discurso nacionalista, sintetizado no slogan de campanha America first; e reforça a polarização da sociedade com fortes ataques a seus oponentes, por exemplo pedindo a prisão da concorrente Hillary Clinton durante a campanha eleitoral.

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