PT vê caminho para Haddad liderar oposição a Bolsonaro

Lisandra Paraguassu

  • Ricardo Matsukawa/UOL

    Haddad (PT) em seu primeiro discurso após a eleição de Jair Bolsonaro (PSL)

    Haddad (PT) em seu primeiro discurso após a eleição de Jair Bolsonaro (PSL)

BRASÍLIA (Reuters) - Os 47 milhões de votos obtidos por Fernando Haddad no segundo turno dessa eleição presidencial não podem ser desperdiçados, e o PT precisa agir para colocá-lo para ocupar o posto de principal liderança da oposição, disseram à agência de notícias Reuters líderes petistas alinhados com o ex-candidato, mas o partido terá que se reorganizar internamente.

Ainda que derrotado no segundo turno da eleição, Haddad, 55 anos, ex-prefeito de São Paulo, conseguiu levar o PT a um patamar de votos que, depois do desastre enfrentado pelo partido nos últimos anos, pouca gente acreditava que aconteceria.

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"Foi muito a personalidade dele, a capacidade dele de conversar com todo mundo, de romper barreiras", disse uma das fontes.

"Eu acho que é isso que o país espera dele, o que eu espero dele. O mundo está de olho no Brasil, é preciso ter uma referência. A oposição é um movimento, mas quando ela é personificada, ela tem uma referência, essa pessoa pode falar sobre o que acontece no país", defendeu Emídio de Souza, um dos coordenadores da campanha de Haddad e um dos petistas hoje mais próximos do candidato.

Em seu discurso ao final da apuração, Haddad deu a entender que aceitava o papel. Disse que um "professor não foge à luta", disse que colocava sua vida à disposição do país e que as pessoas não deveriam ter medo "porque estaremos aqui".

Fontes próximas ao ex-candidato, no entanto, apresentam algum ceticismo em relação a esse entusiasmo.

"Tem que combinar com o resto do partido", disse um deles. "Para ser um porta-voz ele precisa da bancada, precisa dos governadores. Isso não é fácil. O PT é complicado."

Haddad, de 55 anos, começou a campanha como candidato à vice na chapa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar de ter se tornado um dos petistas mais próximos do ex-presidente nos últimos anos, a quem Lula confiou o desenho de seu plano de governo, o ex-prefeito era contestado dentro do PT.

Apesar do próprio Lula o ter apontado algumas vezes como plano B no caso de sua candidatura ser impugnada, o PT queria ver o senador eleito Jaques Wagner no cargo --que sempre negou ser uma alternativa.

Parte dos petistas reclamava que Haddad não tinha jogo de cintura e seria pior do que a ex-presidente Dilma Rousseff na lide político. Outro grupo o acusava de não ser "orgânico" do PT, apesar de ser filiado desde a juventude, por nunca ter se envolvido na organização partidária. Um terceiro ainda se ressentia da proximidade com Lula e o espaço que havia ganho por conta dessa amizade.

Seu posto como vice, anunciado nos últimos minutos autorizados pela legislação, só foi pacificado por uma carta enviada por Lula em que o ex-presidente dizia que Haddad seria o melhor nome para o posto.

Ao levar o partido a uma derrota honrosa, seus hoje defensores no partido acreditam que hoje essa resistência não pode existir mais.

"Dissipou né. Essa campanha jogou por terra qualquer resistência a ele dentro do PT. Ele fez uma grande campanha. As condições não eram boas, mas ele fez uma grande campanha. Ele sai credenciado para liderar essa oposição", defende Emídio.

O deputado Paulo Teixeira, um dos mais antigos defensores de Haddad no partido, também acredita que o ex-prefeito desmontou as resistências contra ele. "Ele foi conquistando um espaço que hoje é dele, tem uma liderança", disse à Reuters.

Uma das maiores resistências dentro do PT à Haddad vem justamente da presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann, que após a prisão de Lula passou a ocupar o posto de porta-voz do PT e do ex-presidente.

Por algum tempo, Gleisi teria alimentado a ideia de ser ela mesma o plano B do presidente, contaram à Reuters fontes petistas, o que não foi adiante. Enquadrada por Lula, Gleisi passou a defender com afinco a candidatura de Haddad, mas dificilmente abriria mão de uma liderança para o ex-prefeito.

O partido, no entanto, terá uma nova eleição em meados de 2019. Alguns petistas já defendem uma mudança na direção. A maioria não acredita que Haddad precise de um cargo na organização partidária, mas acreditam que é preciso oxigenar a direção e dar ao PT um presidente que circule melhor entre todos os grupos.

Um nome que surge nas conversas é o do senador pernambucano Humberto Costa, recém-reeleito. Costa tem trânsito partidário e responde a uma reivindicação dos petistas do Nordeste. Única região em que o partido manteve a hegemonia nesta eleição, os representantes da região defendem que está na hora de um nordestino dirigir o PT.

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