Dez anos após assassinato, família de Toninho do PT vai à OEA denunciar omissão do Estado
Dez anos após o assassinato do ex-prefeito de Campinas (93 km de São Paulo) Antonio da Costa Santos, o “Toninho do PT”, a família dele prepara uma denúncia à OEA (Organização dos Estados Americanos) por “omissão do Estado brasileiro” na apuração do crime, ocorrido em 10 de setembro de 2001.
A viúva de Toninho, Roseana Moraes Garcia, afirma que a forma como o crime vem sendo investigado representa “grave violação aos direitos humanos e fere tratados internacionais”. Toninho foi morto quando dirigia seu veículo logo após sair de um shopping da cidade. Uma das três balas disparadas atingiu o prefeito, que morreu na hora. Até hoje, o caso não foi esclarecido.
A denúncia à OEA deve ser encaminhada até o fim deste ano por meio do CIDH (Comissão Interamericano de Direitos Humanos). Caso aceite o pedido da família como legítimo, a OEA poderá impor sanções ao governo brasileiro e publicar uma nota com recomendações como forma de pressão externa.
Memória
O crime ocorreu por volta das 22h de 10 de setembro de 2001. Toninho estava sozinho em seu carro. A arma do crime - uma pistola 9 mm - jamais foi localizada. Ele estava havia apenas oito meses na Prefeitura de Campinas e vinha fazendo mudanças em contratos públicos, como o da administração do lixo e dos transportes, entre outros.
Meses antes de ser assassinado, Toninho tinha acabado de receber um documento com uma auditoria completa sobre as dívidas da prefeitura e havia sido testemunha da CPI do Narcotráfico - que na época chegou a classificar Campinas como um dos centros nacionais do roubo de cargas, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas.
“O Antonio atrapalhou muitas negociatas. Até hoje o caso não foi esclarecido, e o crime de mando nunca foi investigado”, disse a viúva. “Foi um crime político. Ele morreu porque não se vendeu e contrariou muitos interesses”, afirmou Roseana.
Além de defender a tese de que o assassinato teve motivação política, ela diz que pode haver ligação entre os assassinatos de Toninho do PT e Celso Daniel, prefeito de Santo André (Grande São Paulo), morto em janeiro de 2002, quatro meses depois do crime de Campinas.
VEJA OUTROS CASOS DE PREFEITOS ASSASSINADOS NA ÚLTIMA DÉCADA
PREFEITO | CIDADE | MORTE | O CRIME |
Antonio Luiz César de Castro (DEM) | Nova Canaã do Norte (MT) | 5.ago.2011 | Luizão, como era conhecido, foi morto com cinco tiros durante uma festa na cidade. A investigação corre em segredo de Justiça, e o prazo para a conclusão do inquérito foi prorrogado até 5 de outubro |
Valdemir Antonio da Silva (PMDB) | Novo Santo Antônio (MT) | 23.jul.2011 | O prefeito, conhecido como Quatro Olho, foi morto com três tiros em sua casa. O inquérito policial ainda não foi concluído, mas cinco suspeitos já foram indiciados. Desses, dois estão presos temporariamente |
Walderi Braz Paschoalin (PSDB) | Jandira (SP) | 10.dez.2010 | Paschoalin foi morto a tiros quando chegava a uma rádio. Entre outros denunciados o Ministério Público apontou como mentores do crime dois ex-secretários municipais, Sérgio Paraizo e Wanderley Lemes de Aquino, e Anderson Luiz Elias Muniz, o “Ganso”, ex-candidato a vereador, que foram presos. Os três conseguiram alvará de soltura, mas, segundo o delegado responsável, Aquino continua preso por outros processos |
Divaldo Wiliam Rinco (PSDB) | Alto Paraíso de Goiás (GO) | 2.set.2010 | O prefeito foi morto a tiros. Ary da Abadia Garcez, pai de Ueberton Garcez, vereador de Alto Paraíso, foi denunciado pelo Ministério Público como assassino do prefeito e preso no dia 21 de janeiro de 2011, mas acabou solto em 17 de agosto |
Gilberto Souza e Silva (DEM) | São Francisco do Glória (MG) | 13.jan.2008 | Silva foi morto a tiros em Piúma, cidade no litoral do Espírito Santo. O prefeito estava na cidade com a família, a passeio |
Hilter Alves Costa (DEM) | Ribamar Fiquene (MA) | 16.jul.2007 | O prefeito foi morto a tiros após ser abordado por dois homens que estavam em uma moto |
Gilberto Ramos de Andrade (PR) | Aurelino Leal (BA) | 5.mai.2007 | Andrade foi morto a tiros por dois homens em uma estrada. Ferido, o prefeito tentou fugir, mas foi seguido e espancado. Ele estava com o sogro, que saiu ileso. Em fevereiro de 2011, o ex-prefeito de Aurelino Leal, José Augusto Neto, foi condenado a 19 anos de prisão pelo assassinato |
Inácio Carlos Moura (PP) | Coronel Murta (MG) | 28.mar.2007 | O prefeito foi assassinado com um tiro, em sua casa. O Ministério Público denunciou José Lucas Martins Lopes pelo crime de latrocínio (roubo seguido de morte), e uma audiência está marcada para o próximo dia 20 de setembro |
Raimundo Bartolomeu Santos (PSC) | Presidente Vargas (MA) | 7.mar.2007 | Santos foi morto com três tiros em uma estrada. Ele viajava em companhia do secretário de Esportes de Presidente Vargas, Pedro Albuquerque, que também foi baleado, mas não morreu |
Edvaldo dos Santos Ribeiro (PMDB) | Roteiro (AL) | 11.set.2006 | Em uma chacina, foram mortos a tiros o prefeito, o secretário de Turismo do município, José Cláudio Benedito, e um funcionário da prefeitura. O vereador Genival Barbosa da Silva, suspeito que chegou a ser preso e foi solto por falta de provas, foi assassinado a tiros em 20 de agosto de 2010 |
Manuel Custódio Ramos (PMDB) | Fênix (PR) | 4.fev.2006 | O prefeito foi morto com quatro tiros. O então vice-prefeito Aristóteles Dias dos Santos Filho (PMDB) foi preso após denúncia do Ministério Público Federal, mas, em 2009, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) revogou o pedido de prisão preventiva |
Flávio Farias (antigo PFL) | Porto Estrela (MT) | 10.out.2005 | O prefeito foi morto a tiros na zona rural de Porto Estrela. Os quatro denunciados pelo Ministério Público foram absolvidos pela Justiça por falta de provas |
João Henrique Leocádio Borges (PDT) | Buriti Bravo (MA) | 10.mar.2005 | Borges foi morto a tiros. Conforme foi noticiado na época, um mês antes da morte ele havia dito, em entrevista, que estava sofrendo perseguição política |
Valdenor Cordeiro da Silva (PSDB) | Jussari (BA) | 2.jan.2005 | O prefeito foi encontrado morto em sua casa um dia após tomar posse no cargo pela terceira vez. As causas da morte não foram esclarecidas, mas há suspeitas de infarto e envenenamento |
Celso Daniel (PT) | Santo André (SP) | 18.jan.2002 | Celso Daniel foi morto com sete tiros dois dias após ser sequestrado. Marcos Roberto Bispo dos Santos, o Marquinhos, o primeiro condenado do caso, foi preso em dezembro de 2010. Outros seis acusados de envolvimento deverão ser julgados a partir de 2012 |
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