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Novo ministro do Esporte defende fim dos convênios e diz que é a favor da meia-entrada

Camila Campanerut<br>Do UOL Notícias

Em Brasília

27/10/2011 16h31Atualizada em 27/10/2011 18h32

Após ser anunciado como o novo ministro do Esporte, o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) afirmou na tarde desta quinta-feira (27) na Câmara dos Deputados que irá defender maior rigor nas parcerias com ONGs e que, se depender dele, não haverá novos convênios. "O ministro e o ministério não pretendem fazer mais convênios com ONGs", afirmou. A intenção seria firmar parcerias apenas com órgãos públicos, como prefeituras.

Rebelo foi indicado pelo partido para ocupar a vaga de Orlando Silva, que deixou o cargo na quarta-feira (26) após acusações de desvio de dinheiro público justamente na parceria com ONGs. Com a escolha, a pasta continua sob domínio da legenda, que comanda o ministério desde o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Sobre a Copa do Mundo de 2014, Rebelo disse que historicamente é a favor da meia-entrada para estudantes, mas que, como ministro, irá acatar aquilo que o governo defender. Seguindo o texto da Lei Geral da Copa, que tramita no Congresso Nacional, a meia-entrada valeria apenas para idosos. O tema é polêmico e a Fifa já se manifestou contrariamente ao assunto, o que geraria o conflito entre os interesses nacionais e os acordos selados com a organizadora do evento esportivo.

“Fui presidente da UNE e líder estudantil e uma das bandeiras sempre foi a meia-entrada e este é um direito que consta da Constituição brasileira. Eu não tenho a atribuição de rever a Lei da Copa porque esta é atribuição da Câmara dos Deputados. Eu vou defender a posição do governo. A posição que consta do projeto enviado pelo projeto do Executivo”, afirmou.

Enquanto isso, no Congresso, o deputado Vicente Cândido (PT-SP), que será o relator da Lei Geral da Copa, disse que vai solicitar à Fifa que aceite a meia-entrada --de acordo com a lei, caberá à entidade estabelecer os valores dos ingressos para os jogos. Ao mesmo tempo, o parlamentar defende que a cobrança da meia-entrada continue a ser estipulada pelos Estados.

Sobre a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), presidida por Ricardo Teixeira, Rebelo negou que haja mal estar com a entidade mesmo depois de ter sido o relator da CPI da CBF/Nike, que investigou irregularidades na confederação.

Questionado se as doações de patrocinadores da CBF à sua campanha à Câmara lhe trazem algum constrangimento, Rebelo fez questão de dizer que elas têm respaldo legal e foram registradas no Tribunal Superior Eleitoral. "[Isso] não atingirá e não atingiu a minha independência.”

O novo ministro anunciou ainda que haverá mudanças nos quadros do ministérios, mas se recusou a chamá-las de "faxina". "Mudança não significa a condenação de ninguém", afirmou. Segundo Rebelo, a presidente Dilma Rousseff não fez nenhuma recomendação para a formação da equipe que auxiliará o ministro nos próximos três anos. "Eu recebi a demonstração de confiança e a responsabilidade de montar a minha equipe", resumiu.

Antes da entrevista coletiva concedida na Câmara, Rebelo almoçou com o ex-ministro Orlando Silva no intuito de saber mais detalhes sobre a estrutura e o funcionamento do ministério que irá assumir.

Rebelo está no sexto mandato na Câmara dos Deputados, sempre pelo PCdoB –já foi presidente da Casa e líder do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Rebelo também foi ministro da Coordenação Política durante a gestão de Lula. Na adolescência, atuou no movimento estudantil e foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes).

Rebelo foi o relator da polêmica reestruturação do Código Florestal brasileiro, que ainda está em tramitação no Congresso. Neste ano, disputou uma vaga no TCU (Tribunal de Contas da União), mas perdeu para a deputada Ana Arraes (PSB-PE), mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Saída de Orlando Silva

Silva é o sexto ministro a cair em dez meses do governo Dilma, depois de Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Nelson Jobim (Defesa), Wagner Rossi (Agricultura) e Pedro Novais (Turismo). Com exceção de Jobim, que criticou publicamente o governo diversas vezes, todos os titulares deixam o cargo após acusações de corrupção.

Sob o domínio do PCdoB desde a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, o Ministério do Esporte permitiu a ascensão política de Orlando Silva –ocupante de diversas secretarias até assumir o cargo de titular da pasta, em 2006. Com o governo Dilma Rousseff, no entanto, o comunista e ex-líder estudantil só perdeu espaço até ser substituído em meio a acusações de desvio de recursos públicos para caixa dois eleitoral.

A situação do então ministro piorou depois que, na terça-feira (25), a ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) Cármen Lúcia aceitou pedido do Ministério Público para a abertura de inquérito para investigar as supostas irregularidades.

"Me sinto vivendo um linchamento público sem provas. Há 12 dias sofro um ataque baixo, de agressão vil, baseado em mentiras. Nenhuma prova surgiu, nem surgirá", afirmou Silva ao anunciar sua saída ontem. "Tenho compromisso com a presidenta Dilma. Nosso partido não pode ser base de instrumento de nenhum tipo de ataque ao governo. Por isso, conversamos e o resultado da conversa é que a melhor solução seria eu me afastar do governo. Eu decidi sair do governo para que possa defender minha honra", completou.