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Leia a transcrição da entrevista de Agnelo Queiroz à Folha e ao UOL

Do UOL Notícias

Em Brasília

17/11/2011 07h00

O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), participou do programa "Poder e Política - Entrevista", conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 16.nov.2011 no estúdio do Grupo Folha em Brasília. O projeto é uma parceria do UOL e da Folha.

Leia a transcrição da entrevista e assista ao vídeo:


>>Fotos da entrevista com Agnelo Queiroz.

Agnelo Queiroz – 16/11/2011

Narração de abertura: Agnelo dos Santos Queiroz Filho, governador do Distrito Federal, tem 53 anos. É médico. Nasceu em Itapetinga, na Bahia.

Agnelo Queiroz foi filiado ao PC do B até 2008, quando entrou para o PT. Antes de ser governador, foi deputado distrital e 3 vezes deputado federal. No governo Lula, foi ministro do Esporte e diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.

Em 2010, Agnelo foi eleito governador do Distrito Federal após escândalos de corrupção derrubarem a administração anterior. Mas em 2011, o próprio Agnelo passou a ser alvo de acusações de irregularidades.

Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo a mais um “Poder e Política Entrevista”.
O programa é uma parceria do jornal Folha de S.Paulo, do portal UOL e da Folha.com. A gravação é sempre aqui no estúdio do Grupo Folha em Brasília. O entrevistado deste programa é o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, do PT.

Folha/UOL: Governador, muito obrigado por sua presença aqui. Gostaria de começar perguntando qual é o orçamento anual do Distrito Federal e quanto do orçamento vem do Fundo Constitucional para Brasília?
Agnelo Queiroz: Primeiro eu quero agradecer essa oportunidade, Fernando. É uma honra muito grande poder participar aqui do seu programa. [Quero] cumprimentar também a todos os internautas.Brasília tem um orçamento em torno de R$ 27 bilhões e R$ 8 bilhões vêm do Fundo Constitucional.

Folha/UOL: Quando que Brasília, no futuro, vai estar capacitada para andar com as próprias pernas talvez e prescindir desse fundo?
Agnelo Queiroz: Esses repasses ocorrem desde a inauguração de Brasília [em 21.abr.1960]. Mas é obrigação do gestor pensar no desenvolvimento econômico que, no futuro, daqui a 20, 30, 40 ou 50 anos [Brasília] tenha autonomia financeira. Porque nós conseguimos autonomia administrativa, política e não tem autonomia financeira porque esse percentual é fundamental para a manutenção da capital do Brasil.

Folha/UOL: Se o sr. tivesse de afirmar qual seria o ano no futuro em que se possa esperar que Brasília seja independente [financeiramente], qual seria esse ano? Estamos em 2011, é 2020, é 2030? Quando o sr. acha que seria isso?
Agnelo Queiroz
: Financeiramente. Nós temos que pensar nossa capital para os próximos 50 anos. Essa é a grande meta. Porque temos 51 anos de idade. O repasse federal é indispensável. A cidade quebraria se houvesse uma alteração desse repasse do Fundo Constitucional. Então o nosso planejamento tem que ser para os próximos 50 anos. E dentro desse planejamento tem que também prever uma autonomia financeira até esse período.

Folha/UOL: Ou seja, no horizonte de 50 anos o sr. acha possível, talvez, dar independência financeira e prescindir do fundo?
Agnelo Queiroz
: Não digo prescindir do fundo. Considero que o fundo seja apenas uma contrapartida pelos serviços que nós oferecemos por ser capital do país. Então você tem que garantir a estabilidade da capital, você tem que prestar a parte da segurança para todas essas autoridades aqui do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, do corpo diplomático. Você tem que ter uma infraestrutura na cidade que dê sustentação à capital de um país, de aeroporto, hotelaria etc. Mas não pode ser, Fernando, uma coisa que, se parar de receber, a cidade fica inviabilizada.

Folha/UOL: O Distrito Federal é uma região rica do Brasil. Tem um orçamento grande para uma área pequena e para uma população que também não é tão grande na comparação com outras áreas urbanas. Não obstante, há uma impressão geral de que certos serviços e infraestrutura não vão bem. Por exemplo: chove em Brasília, capital da República, é comum faltar luz. Há um número grande, relatados pela mídia local, de sequestros relâmpago às vezes até à luz do dia. E há uma impressão o sr. já está há 10 meses, um pouco mais, aí no governo, e há uma impressão de que as coisas andam um pouco lentamente. O que está acontecendo?
Agnelo Queiroz
: Nós pegamos uma situação dramática. Recebi a cidade com mato sem cortar, buracos nas ruas, lixo sem recolher, mais de 90 convênios sem prestação de contas, desorganização administrativa. Destruíram a parte da administração do Distrito Federal. Isso foi uma tragédia. Tivemos quatro governadores em 2010. E quando assumimos, para botar a casa em dia e responder rapidamente, de fato, esse período fica um período curto, apesar do trabalho intenso e já ter muitas respostas.

Peguei a companhia elétrica “pré-falimentar”. Destruição. Investimento na área de geração e não distribuição que é a nossa vocação aqui. E a empresa quebrada. Estou fazendo esforço grande agora, porque tudo o que essa empresa arrecada é para pagar dívida.

Folha/UOL: O sr. acha que no ano que vem, 2012, já pode estar solucionado ou não?
Agnelo Queiroz
: Solucionado não. Mas já estará melhorado. Eu estou fazendo agora uma proposta, um entendimento com o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Social]. A CEB [Companhia Energética de Brasília] tem uma dívida de R$ 800 milhões. Com esse empréstimo nós estamos neste momento tentando resolver, eu pago todas as dívidas da CEB, vou reescalonar essa dívida a um juro mais baixo e em um prazo mais longo. E hoje ela recupera imediatamente sua capacidade de investimento na parte de distribuição. E passa a investir nas áreas fundamentais que são as responsáveis por esses apagões, porque tem muitos anos sem investimento na área de distribuição.

Folha/UOL: Para aquela pessoa interessada, de Brasília, ou mesmo brasileiros que visitam aqui a capital federal: o sr. acha 2011, 2012, 2013...
Agnelo Queiroz
: 2013. 2013 é uma meta importante para nós porque nós vamos aqui fazer a abertura da Copa das Confederações de 2013. Em 2014 é a Copa do Mundo. Em 2015 vamos fazer a Copa América aqui. Em 2016 vamos fazer os jogos masculinos e femininos das Olimpíadas. Em 2017, agora no dia 29 [de novembro de 2011] terá a definição e, se Deus quiser, vamos ganhar essa batalha para Brasília sediar a Universiades, que é o terceiro maior evento esportivo do mundo.

Folha/UOL: A meta é, em 2013, acabar com esses apagões?
Agnelo Queiroz
: É acabar com esses apagões porque aí eu estou dando um prazo... Se eu resolvo a questão do empréstimo até o começo do ano [2012] eu terei um ano para fazer investimentos em distribuição.

Folha/UOL: E segurança pública? Esses sequestros relâmpago que acontecem em Brasília. Os policiais aqui são dos mais bem remunerados do Brasil. Como é que o sr. explica que esse problema de segurança persista também no seu mandato?
Agnelo Queiroz
: Os serviços públicos em geral, não só a questão da segurança, mas também da saúde e da educação, pelo volume de recursos que nós temos na capital do Brasil, com esse orçamento não justifica a qualidade do serviço que nós prestamos. Isso será melhorado.

Folha/UOL: E quando será?
Agnelo Queiroz
: Quando será? Estamos tomando essa providência desde o começo do meu mandato. Por exemplo, na segurança, que você citou. Eu estou fazendo investimento grande nessa área. São R$ 40 milhões em equipamentos, em estrutura para as três áreas da segurança, tanto a Polícia Militar, a Polícia Civil e Corpo de Bombeiros. Treinei e já botamos na rua aproximadamente 800 policiais já treinados e estão em treinamento 750 atualmente para colocar mais policiais na rua de forma ostensiva. Mudamos a política que era uma política em que os policiais estavam presos em um posto imobilizados para um policiamento inteligente com equipamentos, estrutura. Se deslocam de acordo com as informações, mobilizar o material humano. Então já há uma mudança na segurança pública, estamos atacando as áreas centrais o problema da droga, que é um problema gravíssimos nas três grandes áreas do Distrito Federal. Aqui no Plano Piloto, no centro da cidade, por incrível que pareça a 800 metros do Palácio do Planalto, no centro de Taguatinga e no centro de Ceilândia. Então essa ação há está em curso. Se você passar no Setor Comercial Sul, se perguntar a uma pessoa que trabalha lá, está no cotidiano, ela vai te relatar a situação já diferente de todos os tempos para trás, que é uma Polícia mais ostensiva.

Folha/UOL: O sr. acha que as estatísticas já vão melhorar a partir do ano que vem [2012]?
Agnelo Queiroz
: Vão. E já estão melhorando. O número de homicídios, roubos e uso de drogas nas áreas centrais onde as estatísticas indicavam o maior número de incidência já caíram nesse período agora.

Folha/UOL: Brasília tem uma fama péssima perante os brasileiros por diversas razões. Pela sucessão de escândalos que ocorreram aqui nas últimas décadas. O sr. acha que a configuração do Distrito Federal é a mais correta? Ou seria talvez melhor criar um Estado com as regiões do entrono, maior. Ou até mudar essa forma de constituir o Distrito Federal, transformar tudo em cidades administradas por prefeitos e vereadores eleitos pertencendo a Goiás. O sr. acha que tem que fazer alguma alteração?
Agnelo Queiroz
: Essa configuração atual ela tem um objetivo que está na Constituição que é não transformar em município essas cidades.

Folha/UOL: Mas é uma boa decisão essa?
Agnelo Queiroz
: As cidades cresceram muito. E hoje você tem um...

Folha/UOL: O sr. tem cidades no Distrito Federal de mais de meio milhão de habitantes, mais de uma, que são administradas por pessoas indicadas indiretamente, que não têm vereadores eleitos diretamente, que são administradas pelo governador do Distrito Federal. Não é uma situação anômala e pouco democrática?
Agnelo Queiroz
: Aí depende da forma de encarar. Porque o grande objetivo da Constituição é justamente não transformar cada área dessa em um município independente com as suas disputas naturais que existem em cada município, o que é normal, e ter uma área que teria uma área que teria um governo do Distrito Federal que é responsável por todo o Distrito Federal, por todas essas áreas. Mas é evidente que tem de ter administradores lá na ponta, próximos das pessoas...

Folha/UOL: O sr. acha bom esse formato de governo para todas essas localidades do Distrito Federal?
Agnelo Queiroz
: Eu acho bom. Eu acho bom.

Folha/UOL: O sr. não mudaria nada?
Agnelo Queiroz
: Eu acho que é uma situação peculiar, essa diferença. E talvez a aplicação  rigorosa do modelo tradicional não ajudaria a nossa capital. Nós temos a capital do Brasil que foi uma grande conquista do povo brasileiro, localizada no interior do Brasil, está ajudando o Brasil a se desenvolver, a região Centro-Oeste hoje é a região que mais cresceu no consumo no Brasil nos últimos anos, é a próxima região de grande crescimento do país.

Folha/UOL: Mas muito turbinada pela renda alta de Brasília que, por sua vez é turbinada por dinheiro público.
Agnelo Queiroz
: Sim, a renda alta de Brasília, mas também o desenvolvimento dos Estados como Goiás e Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, que vêm se desenvolvendo, como o Brasil, tem acontecido. A região Nordeste, depois desses últimos oito anos do presidente Lula, o desenvolvimento da renda e o desenvolvimento do interior do país. Isso proteje a nossa capital, é um patrimônio do povo brasileiro, é um patrimônio cultural da humanidade em apenas 50 anos. É importante preservar esse patrimônio, manter essa qualidade de vida, porque você tem que pensar que aqui é a capital do Brasil e vamos receber os brasileiros e as pessoas de fora de uma forma muito correta.

Folha/UOL: O sr. já ocupou vários cargos públicos. O sr. já tomou conhecimento alguma vez, próximo nos cargos onde o sr. tava de corrupção ou propina, pagamento de propina. Teve algum caso próximo que o sr. presenciou e soube?
Agnelo Queiroz
: Eu fui deputado por 16 anos. Fui deputado aqui, distrital, corresponde ao estadual. E fui deputado federal por três mandatos. Fui ministro de Estado por três anos e três meses, no primeiro mandato do presidente Lula. E agora, governador.

Evidentemente que, em todas as vezes em que você está numa função como essa e que detecta qualquer coisa que tenha uma irregularidade, você tem que tomar as medidas como sempre fiz na vida pública, você tem uma história... de absoluta transparência e evidente que isso que dá as condições para fazer esse enfrentamento aqui. Porque aqui eu não enfrentei uma eleição tradicional. Aqui foi uma brutalidade. E nós precisávamos construir uma aliança para romper com aquele passado de anos de uma prática política absolutamente não republicana e que redundou nessa [Operação] Caixa de Pandora, prisão de governador e uma série de outros episódios que nós conhecemos aqui. Então é um rompimento com uma estrutura apodrecida de anos de administração. E é evidente que eu sofra ataques. Porque não pode atacar a minha administração, que é uma administração que não tem um escândalo, não tem uma denúncia de corrupção. Eu instalei aqui, não sei se tem em outro Estado, mas instalei uma Secretaria de Transparência. Estou fazendo uma investigação em todos os casos, todas as secretarias. Já declarei inidôneas uma série de empresas que estavam nessa Caixa de Pandora, como aquelas empresas todas da área de informática. Então é evidente que eu estou enfrentando adversários aqui desse passado que estão contrariados com essa estrutura que eu estou enfrentando. E aí passam para o ataque pessoal, revidando o que aconteceu na campanha propriamente dito, que eram os ataques à minha pessoa...

Folha/UOL: Deixe-me falar de uma das acusações que o sr. está mencionando. Em 25.jan.2008, quando o sr. era diretor da Anvisa, o lobista Daniel Almeida Tavares depositou R$ 5 mil na sua conta bancaria. Ele disse primeiro que era propina, depois voltou a trás. O sr. disse que era pagamento de um empréstimo que o sr. havia feito a ele, Daniel Almeida Tavares. O sr. pode esclarecer o que aconteceu nesse episódio.
Agnelo Queiroz: Claro. O Daniel foi um militante, conheço [Daniel] há uns 20 anos. E foi um militante do PC do B. Naquela época, ainda época ainda de jovem. Trabalhou em várias campanhas. Uma pessoa... uma relação muito próxima do Messias, que é um dos dirigentes aqui do PC do B. Enfim... E depois ele se transformou numa... É... se transformou... era um secretário, espécie de um secretário particular de uma indústria farmacêutica aqui [em Brasília]. Enfim... E ele, eu conhecia a pessoa. Tem essa relação. Me pediu, uma vez, que ia para uma cidade, não sei se era Goiânia, alguma cidade, pediu emprestado. Emprestei a ele um dinheiro, porque ele precisava em dinheiro. E me pagou depois. Não tem nenhuma anormalidade nisso. Não tem nenhum caráter... Já pensou se isso fosse uma... Alguém pode se corromper por R$ 5 mil? Alguém pode é... se corromper mandando depositar na sua própria conta, de conta corrente para conta corrente? Então isso é uma coisa absolutamente, digamos assim...

Folha/UOL: Esse é um caso que é muito fácil de entender. Qualquer brasileiro sabe o que são R$ 5 mil reais.
Agnelo Queiroz: Ahn.

Folha/UOL: R$ 5 mil entraram na sua conta bancária e quem fez o depósito foi o rapaz, Daniel Almeida Tavares, que era um representante, lobista de uma empresa farmacêutica. O sr. disse que fez um empréstimo. Como que o sr. fez esse empréstimo? Teve um contrato? Teve um papel? Teve um cheque? Como é que o sr. deu o dinheiro para essa pessoa?
Agnelo Queiroz: Não. Não teve. Eu dei o dinheiro para essa pessoa.

Folha/UOL: Em dinheiro?
Agnelo Queiroz: Em dinheiro. Ele esteve inclusive na minha casa e pediu emprestado. Eu já conhecia a pessoa. Além de conhecer a pessoa eu sabia onde trabalhava. Trabalhava com uma pessoa que era também um amigo meu de muitos anos. Não vi problema nenhum. Tanto é que a devolução desse recurso foi feita, ela foi feita por via bancaria. De conta corrente para conta corrente. Da conta corrente dele para a minha conta corrente. Não tem registro maior do que esse. Esse é o maior registro.

Folha/UOL: O sr. tinha R$ 5 mil em casa para dar para ele?
Agnelo Queiroz: Tinha.

Folha/UOL: Mas o sr. costuma guardar quantias desse tipo de montante em espécie em casa?
Agnelo Queiroz:
É, desse porte, desse porte sim. Porque não é uma grande quantidade de recursos. E quem mora em casa aqui [em Brasília] não é novidade que se guarde...

Folha/UOL: R$ 5 mil governador, não é uma quantia grande para ter em espécie em casa?
Agnelo Queiroz: Não. Não. Em absoluto. Não é uma quantia grande. Entendeu? Eu tinha isso em casa, emprestei a ele. Não vi nenhuma anormalidade nisso, em absoluto. Ele próprio confirma isso.

Folha/UOL: E esse dinheiro saiu da sua conta bancária?
Agnelo Queiroz: [Pausa] Claro, tem que sair da conta bancária...

Folha/UOL: O sr. fez um saque?
Agenlo Queiroz: Sim, de muito tempo. Eu tinha recurso em dinheiro. Sempre tenho um pouco de recurso em casa. Eu moro em casa, no Lago Sul [bairro nobre de Brasília] e é importante a gente sempre ter um pouco de dinheiro em casa.

Folha/UOL: O sr. não acha que ajudaria, nesse episódio específico, a esclarecer, se o sr. demonstrasse quando o sr. fez essa retirada de dinheiro em espécie para guardar em casa?
Agnelo Queiroz: Isso há muito tempo, né, que eu tinha feito. Tinha esse dinheiro há muito tempo.

Folha/UOL: Mas, assim, muito tempo seria quanto?
Agnelo Queiroz: Há muito tempo. Sempre tenho um pouco de dinheiro em espécie em casa. Aí é uma questão de segurança. Isso é uma coisa absolutamente normal.

Folha/UOL: Mas não seria bom para o sr... O dinheiro era seu, estava em casa, é perfeitamente legal. Todo mundo pode ter dinheiro em casa...
Agnelo Queiroz: Claro, claro...

Folha/UOL: Mas o dinheiro, o sr. está dizendo, o sr. sacou, da sua conta, e guardou em casa. Deve aparecer no seu extrato bancário, hoje em dia é tudo informatizado, o dia em que o sr. fez algum saque grande para guardar o dinheiro em casa. Não era bom mostrar talvez?
Agnelo Queiroz: Isso eu posso mostrar, isso não tem problema. Porque isso há muito tempo eu... Há muito tempo eu tinha o dinheiro em casa.

Folha/UOL: Porque, mesmo que tenha sido há 10 anos, 5 anos, é possível saber, identificar no extrato um saque grande em espécie. Aparece descrito. O sr. teria esse extrato?
Agnelo Queiroz: Eu tenho o dinheiro em casa. E evidentemente que esse dinheiro foi de alguma fonte que eu tive esse dinheiro em casa. Então eu não tenho problema nenhum em ter esse recurso em casa. Não tem problema nenhum.

Folha/UOL: Não, mas eu... O sr. falou: “Em algum dia que eu retirei da minha conta”. É isso mesmo, da sua conta bancária?
Agnelo Queiroz: Sim, da minha conta, ou da minha esposa.

Folha/UOL: O sr. acha possível com o extrato bancário da sua mulher, do sr. ou de quem quer que seja, de onde saiu o dinheiro... [mostrar]: “Olha aqui foi um saque, tal data. Esse dinheiro ficou em casa muito tempo e aí eu fiz esse empréstimo”. O sr. acha isso possível?
Agnelo Queiroz: Eu nunca fiz essa pesquisa, eu não tinha feito essa pesquisa antes porque esse é um recurso que eu tinha em dinheiro, em casa, já há algum tempo, né. Então eu não tinha feito isso. Eu tinha o recurso em dinheiro e eu moro em casa, no Lago Sul, é importante você ter por questão de segurança...

Folha/UOL: Sim, mas sobre o extrato. O sr. o sr. chegou a verificar se o sr. tem cópia desse extrato com esse saque na conta da sua mulher ou do sr.?
Agnelo Queiroz: Não, não cheguei a verificar porque esse é um recurso que eu estava, um fim de semana, ele [Daniel Almeida Tavares] chegou, me pediu o recurso, era em dinheiro porque ele  precisava desse dinheiro porque ia viajar, e eu emprestei. É uma relação absolutamente normal.

Folha/UOL: E o sr. acha que não teria, enfim, a partir de agora, porque virou uma pequena celeuma, não teria como verificar se é possível apresentar esse extrato desse saque?
Agnelo Queiroz: É. Claro que é.

Folha/UOL: Os jornais têm noticiado, o sr. deu uma entrevista para uma revista, falou algo parecido. Há uma nota do sr. falando que a sua palavra, dentro de um contexto ali, valeria, como governador de Estado, mais, talvez, como prova do que a palavra de outras pessoas. O sr. acha que é esse o contexto mesmo? O sr. como governador eleito, dando uma declaração, em contrapartida outras pessoas dando outras declarações. Aí o sr. acha que tem que ter dois pesos nesse caso? Como o sr. contextualizaria sua declaração?
Agnelo Queiroz
: Minha assessoria de imprensa que encaminhou [carta com a declaração] e foi pinçado só essa frase. A minha palavra ou o resto do contexto da frase não foi editado.

Folha/UOL: Qual seria o contexto?
Agnelo Queiroz
: É evidente que eu tenho a minha palavra e ela não vale mais que a de ninguém, em absoluto. A pessoa para quem eu emprestei [dinheiro, Daniel Almeida Tavares], ela confirmou que foi um empréstimo. Disse as circunstâncias do empréstimo, disse como pagou o empréstimo e, portanto, essa é a... Qual é a acusação que tem? É que uma pessoa de oposição queria comprar uma testemunha para me atacar, que vale isso? É uma tentativa de compra de uma testemunha como foi no passado, aqui no Distrito Federal, o tempo inteiro? Em absoluto. Então eu coloquei isso de uma forma muito clara. Como foi o empréstimo. Essa é a minha opinião. Evidentemente que eu tenho que respeitar a dos outros. Jamais falaria que minha opinião é a mais importante de todas. Em absoluto...

Folha/UOL: Teve um fato também correlato a esse episódio, para a gente passar para outro, que é a União Química, fabricante de medicamentos onde o rapaz, Daniel, trabalhava, ela foi beneficiada com uma decisão da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] que a permitiu entrar em licitações, registrar novos medicamentos. Isso ocorreu no momento em que foi feita essa operação aí do depósito. E mais: adiante a União Química fez uma doação de R$ 200 mil para sua campanha, no ano passado [2010] para governador. Esse fato, por si só, não é um pouco constrangedor e precisava ser mais bem explicado?
Agnelo Queiroz
: Não é constrangedor. Em absoluto. A tentativa de relacionar a questão da devolução do empréstimo com a decisão da Anvisa só ocorre... não é nem por má fé, é porque as pessoas não conhecem como é uma decisão da Anvisa. Se refere a um certificado de boas práticas de fabricação. Para ter esse certificado de boas práticas de fabricação tem que haver uma inspeção. Não é uma atitude autocrática de um diretor. Mesmo que o diretor, um diretor da Anvisa, o presidente da Anvisa quisesse conceder um certificado a uma empresa, ele não poderia fazer isso. Isso é um processo que passa por uma inspeção rigorosíssima. Essa inspeção é acompanhada pela Anvisa do município ou do Estado em que está localizado a devida fábrica, que está pedindo um atestado de boas práticas. Isso é um processo longo que vai, marca, faz inspeção. Às vezes a Anvisa não concede um atestado de boas práticas se tiver por exemplo a altura de uma pia que não está no padrão das resoluções da Anvisa. Então, é de um rigor absoluto. Tem que ver a parte da ventilação. Tem que ver toda a parte de estruturação de uma fábrica. Ninguém poderia conceder de forma autocrática um certificado de boas práticas. Como saiu, foi uma coincidência justamente no dia em que essa pessoa me devolveu isso, esse empréstimo, tentaram fazer uma relação. Tudo é publico né, pegaram as publicações, viu a publicação nesse dia e tentou fazer uma ilação. Mas não é por má fé quem fez isso. É porque não sabe como é um procedimento da Anvisa e que não depende exclusivamente do diretor. Porque quem faz na verdade todo o processo anterior são as Anvisas locais, municipais e Estaduais e você não pode dar um atestado de boas práticas se não cumpriu todas as exigências. E tem dependência entre a Anvisa municipal, estadual e a Anvisa. São entidades completamente autônomas porque uma está vinculada ao governo estadual, outra ao municipal e outra ao governo federal.

Folha/UOL: O sr. era ministro do Esporte no governo Lula, era filiado ao PC do B. Foi sucedido por seu companheiro de PC do B, Orlando Silva, que continuou vários dos programas que estavam lá na pasta. Orlando Silva deixou o cargo sob uma saraivada de acusações de irregularidades. Muitos programas começaram na sua gestão. Convênios também com ONGs. Orlando Silva continuou fazendo o que o sr. fazia ou cometeu erros para perder o cargo agora?
Agnelo Queiroz
: Eu posso responder pela minha gestão. Eu fui ministro por três anos e três meses. Minhas contas todas estão aprovadas. As contas estão todas aprovadas, não tenho uma pendência no Tribunal de Contas da União, que é o órgão fiscalizador. Tenho auditoria dos meus programas na CGU [Controladoria-Geral da União], super rigorosa. Então não tenho nenhuma pendência na Controladoria-Geral da União. Essa é a minha parte, que eu fui ministro e não tem nenhum problema na minha gestão.

Folha/UOL: O ex-ministro Orlando Silva disse que, ao comentar as acusações que recebeu daquele policial, João Dias, que teria acertado uma reunião entre ele, para conhecer João Dias, quando o sr. era ministro, com o seu conhecimento. Isso procede?
Agnelo Queiroz
: Se ele lembra disso, deve proceder. Eu como ministro acionei os meus auxiliares para receber muita gente, centenas e centenas de pessoas, a depender do tema. Se o tema era esporte educacional, era com o secretário de esporte educacional, se era esporte e lazer era com outra área, se era esporte de rendimento era com outra área. E isso é comum com todas as demandas do país para que o ministro atenda. Seria impossível atender todo mundo. Mas não tem nenhum demérito em pedir para atender uma pessoa. Você não está mandando fazer absolutamente nada que seja ilegal ou que seja errado.

Folha/UOL: Esse policial João Dias, o sr. desconfiava dele quando era ministro? Porque eu pergunto: porque tem um áudio que foi gravado e foi vazado da Operação Shaolin da Polícia Federal no qual o sr. trata ele com cordialidade. Na época desse diálogo, o sr. já desconfiava dele? E se desconfiava, não deveria ter outro tipo de relação ao receber um telefonema daqueles?
Agnelo Queiroz
: Eu não desconfiava. O João Dias foi candidato a deputado no meu partido, na minha aliança. E tinha um contato, né, uma relação boa. E como sempre trato um político, um candidato. E não seria, não teria motivo nenhum de ter qualquer atitude assim que pudesse desmerecer uma pessoa. Se no futuro ele vai prestar conta de um convênio e no convênio tem algum problema lá na prestação de contas. Seria absolutamente impossível...

Folha/UOL: No caso  dessa gravação que apareceu com esse policial João Dias, o sr. tinha conhecimento desse tipo de gravação e o contexto em que ela foi feita e o teor exato dela? Porque há sugestão de que, na conversa, ele pede ao sr. alguma ajuda para tentar montar fichas de um programa, Segundo Tempo, Ministério do Esporte, alguma coisa dessa ordem. Houve isso, houve essa sugestão na conversa?
Agnelo Queiroz
: Na conversa não houve nada disso. O próprio diálogo é esclarecedor por si só. Não houve nada que desabone ou nada, nenhum pedido, nem ilegalidade, nem nada que desabone ou desautorize. Portanto aí já são ilações das pessoas que tentam fazer uma vinculação que implicasse em algum comprometimento meu.

Folha/UOL: Essa operação toda que começou com a Polícia Civil do Distrito Federal, daí a Polícia Federal também começou a investigar, chama-se Operação Shaolin, o sr. algumas vezes já disse em entrevistas que os indícios são inconsistentes, que as declarações são inconsistentes para provar algo contra o sr. Não obstante, chegou ao STJ um pedido de abertura de inquérito. Se chegou um pedido de abertura de inquérito, como pode ser inconsistente?
Agnelo Queiroz
: Chegou um pedido de inquérito porque começou-se a faze rum inquérito aqui na Polícia Civil. A Polícia Civil colheu um depoimento de um indivíduo, que se dirigiu espontaneamente à Polícia Civil, no sábado, por coincidência o delegado de setor estava lá no sábado. E fez uma denúncia de que tinha me dado dinheiro. Muito semelhante com todas as outras, e que aconteceu na campanha aqui e que o pessoal de Brasília conhece muito bem. Bem, isso gera então um procedimento. Mas eu não fui sequer citado, ter alguma defesa, investigação.

Folha/UOL: O sr. é citado.
Agnelo Queiroz
: Foi citado pelo depoimento. Eu não fui comunicado pela Polícia. O depoimento vazou para a imprensa, cumpriu seu papel, porque isso foi antes da eleição de 2010, tinham como objetivo me tirar da campanha de candidato [a governador] de 2010. Só que a Polícia Civil aqui não tem competência de tratar de um assunto de verbas federais. Então seria uma competência da área federal. E foi encaminhado então para o Ministério Público Federal, que fez o procedimento, fez a investigação. Não tem citação nenhuma do meu nome. Mas tem que ir para o STJ porque tem esse depoimento desse cidadão que me acusa. Como eu sou governador, o fóro adequado é o STJ. Portanto, quero deixar claro para você Fernando que esse inquérito na Polícia, no STJ, é uma oportunidade que eu tenho de me defender que era impossível num ambiente daquele que tinha uma situação  gravíssima de crise aqui com o governador preso, com a Polícia que estava acéfala naquele momento e que eu fazia uma disputa com esses grupos que estavam no poder em Brasília há mais de 20 anos. Então, no STJ, eu vou ter a oportunidade, eu não considero uma investigação contra mim, mas tenho uma oportunidade de mostrar as circunstâncias em que aconteceram esses depoimentos e de provar que não são depoimentos verdadeiros.

Folha/UOL: Havia uma banda podre na Polícia Civil aqui? Foi por isso que o sr. demitiu toda essa cúpula recentemente aqui da Polícia Civil?
Agnelo Queiroz
: O que aconteceu aqui na Polícia Civil aqui é a retomada da hierarquia, da profissionalização. Eu troquei toda... troquei o diretor geral da Polícia Civil, que é um delegado experiente, tem 34 anos de carreira, é o delegado mais antigo do Distrito Federal, e por sugestão dele, nós deveríamos trocar todos os delegados para que ele pudesse então nomear todos os delegados. E muitos voltaram para a mesma posição inclusive. Não significa tirar... restabelecimento de uma hierarquia e o fortalecimento de uma linha que eu tenho feito desde o começo do mandato: a profissionalização da Polícia Civil do Distrito Federal. Porque infelizmente alguns grupos da Polícia Civil do Distrito Federal estavam sendo utilizados de forma clara para perseguir adversários. Inclusive a mim.

Folha/UOL: A sua Polícia o perseguia, no caso?
Agnelo Queiroz
: Não, eu posso dizer o que aconteceu na campanha.

Folha/UOL: Mas não durante o seu governo?
Agnelo Queiroz
: Não. Não. Aqui eu não tenho nenhum relato disso. Eu estou falando disso na campanha. E eu venho desde janeiro num esforço grande de profissionalização da Polícia Civil. Eu não poderia replicar o que fizeram no passado. Porque tem Polícia de A, de B, de C. Eu não poderia fazer uma Polícia minha então estou procurando desde o início o fortalecimento dessa Polícia Civil.

Folha/UOL: Foi coincidência ou represália como acharam alguns que essa troca no comando da Polícia do Distrito Federal ocorreu justamente na semana em que se tornaram públicos alguns áudios ou conteúdo dessa Operação Shaolin, que cita o sr.?
Agnelo Queiroz
: O áudio... Isso, o que ocorreu isso do passado. O que já é do conhecimento público.

Folha/UOL: Mas foi vazado agora.
Agnelo Queiroz
: Sim, mas não é uma novidade. Porque essa prática já vinha acontecendo aqui, de utilizar a Polícia. Em vez de fazer a sua obrigação constitucional etc desviar de função para esse tipo de coisa. Mas não por isso especificamente. Porque o áudio não diz nada. Não tem nada que possa me atingir, não tem nenhuma ilegalidade no áudio. Ele aparece agora por fruto obviamente dessa quantidade, dessa... tentar atingir minha pessoa etc, mas não há nada que desabone no áudio.

Folha/UOL: O sr. foi do PC do B. Hoje é do PT. Quando era ministro era do PC do B. Pipocaram várias acusações de pessoas, ONGs, adversários ou não do PC do B ou do governo, dizendo que era cobrado dessas ONGs um pedágio, uma propina para ter determinados convênios. Os jornais noticiaram. Vou citar só um [caso noticiado] aqui. O caso de um pastor, David Castro, filiado ao PP, que diz que em 2006 foi cobrado dele 10% para fazer um convênio no programa Segundo Tempo. O que acontece? O PC do B aparelhou esse ministério mesmo? O sr. foi do PC do B, deve saber se aconteceu mesmo isso. Cobrava dinheiro ali?
Agnelo Queiroz
: É, eu fui do Pc do B. Fui ministro. Isso nunca aconteceu. Posso dizer e responder pela minha gestão. Isso nunca aconteceu, né. E todas as... qualquer indício de qualquer irregularidade, eu tomava com muito rigor todas as providências. Inclusive com entidades ligadas ao PC do B. Então eu posso dizer, posso te dizer que esse programa [Segundo Tempo], eu deixei esse programa com um milhão de crianças. É o maior programa sócioesportivo do mundo. É o programa, eu implantei ele em Moçambique, eu apresentei ele nas Nações Unidas. É um programa que recebemos representante das Nações Unidas, representante do Kofi Annan, que esteve com o presidente Lula especificamente para tratar desse programa aqui. E que milhares e milhares de crianças nesse país que deixaram de ir para outras coisas porque estavam ocupadas no contra turno da escola fazendo esporte, reforço escolar e alimentação. Esse programa. E vários convênios desse programa que estavam errados ou que não prestaram contas foram 67 convênios. Inclusive estou contanto prazo depois que eu saí. Porque esse dado foi colocado pelo ministro Orlando Silva. 67 convênios estavam com prestação, tomada de contas especiais, e foram tomadas todas as medidas. É isso que eu sei desse programa.

Folha/UOL: O sr. era do PC do B. Foi para o PT. Por quê?
Agnelo Queiroz
: Fui para o PT porque eu fui. Obviamente ue tomei um outro rumo na minha vida.

Folha/UOL: O sr. não teria sido governador se ficasse no PC do B?
Agnelo Queiroz
: Não sei [risos]. Aí só... Não tem como adivinhar a realidade. Eu fui muito antes de campanha, não saí para ser candidato a governador, saí ainda em 2008, só fui candidato em 2010, e portanto foi uma opção minha individual. Tenho referencia importante no PC do B pela história do PC do B e pela sua ideologia, eu militei durante muitos anos e achei que tinha que partir para outros horizontes e tomar um outro rumo na minha vida e fiz isso como uma ação democrática individual.

Folha/UOL: O sr. mencionou o PC do B. Saiu em 2008 [do Pc do B]. Em 2010, foi eleito governador do Distrito Federal pelo PT. Estou olhando aqui os dados que são públicos hoje felizmente dos bens que o sr. declara quando é candidato. Em 2006 o sr. foi candidato e declarou bens pessoais ao TRE do Distrito Federal de R$ 224 mil. Em 2010, quatro anos depois, o seu patrimônio pessoal declarado foi de R$ 1.150.000. Um aumento nominal de R$ 926 mil em quatro anos. Nesse período a sua renda foi compatível para esse aumento de patrimônio.
Agnelo Queiroz
: Absolutamente compatível. A Receita Federal, que é muito rigorosa e que é o órgão adequado e que examina essa questão patrimonial de todas as pessoas do país... Eu não tenho uma pendência na Receita. O meu rendimento é compatível com o meu patrimônio, tentaram explorar isso na campanha. Uma matéria absolutamente maldosa. Eu demonstrei isso. Não satisfeito eu contratei uma auditoria independente na época porque isso foi antes da prévia do PT, então tinha um objetivo muito claro de me tirar da eleição. Então eu não contente com isso contratei uma auditoria independente, essa auditoria independente comprovou isso que eu estou falando, renda...

Folha/UOL: Só para entender: nesses quatro anos como diretor da Anvisa, a grosso modo, não foram quatro anos, o sr. teve na Anvisa, que foi a sua principal fonte de renda, me corrija se eu estiver errado, R$ 926 mil que foram agregados ao patrimônio e mais uma parte que o sr. usou para viver. É isso?
Agnelo Queiroz
: É. Essa renda é a renda minha e da minha esposa. Essa é a renda da minha família. Entendeu? E isso foi comprovado, a Receita não tem uma negativa com relação a isso. Isso foi uma ação extremamente maldosa, que se transformou inclusive numa ação pessoal, um jornalista que vem me perseguindo violentamente, já fez várias matérias sobre isso em um determinado veículo de comunicação, que é uma coisa bárbara, brutal, porque fez uma matéria e foi desmontado porque se recusava a fazer uma soma do meu rendimento com o da minha mulher, coisa mais simples do mundo. E tentou de todas as formas sustentar, e ainda tenta de todas as formas sustentar um absurdo desse. Tem uma Receita Federal que comprova meu rendimento, que aprova que não tenho uma pendência no meu rendimento. Então isso, eu não posso, obviamente, concordar com isso.

Folha/UOL: Governador Agnelo, o sr. ganhou a eleição e seu vice é Tadeu Filippelli do PMDB, uma pessoa que no passado foi ligada a adversários do sr., a Joaquim Roriz. Como é que é sua relação com Tadeu Filippelli nesse caso?
Agnelo Queiroz
: É uma relação boa. Nós fizemos um esforço grande da nossa cidade, fazer uma união que não era uma união assim tradicional. O PMDB não era um aliado tradicional do PT. O Tadeu Filippelli rompeu com o ex-governador Joaquim Roriz, e como ele é o presidente do PMDB [do Distrito Federal] fizemos essa aliança, que é uma aliança bem sucedida, que tem trabalhado junto em defesa da cidade, do resgate da nossa cidade. É só examinar esse período da nossa convivência aí desses dez meses de governo que comprovam isso. É um trabalho que nós temos feito assim com muita tranquilidade. Ele tem ajudado bastante, tem se esforçado junto conosco na recuperação da nossa cidade. É uma aliança a favor de Brasília. Eu fiz uma aliança com 11 partidos políticos e é uma união em defesa da cidade e que se comprovou correta.

Agora, você imagina, Fernando, eu faço uma aliança dessa. Pego um Estado, um governo numa situação de extrema dificuldade, como encontramos aqui. Estamos recuperando a cidade. Não tem um escândalo de corrupção nesse governo. O governo está indo bem. Pelo contrário. Estou investigando todas essas secretarias, todos os processos anteriores na secretaria da Transparência, que é dirigida pelo Higino, que é um auditor de renome, de grande credibilidade, estatura, que passou pela Controladoria-Geral da União etc. Ao fazer isso vem uma saraivada de ataques referentes a campanha. Todos os temas que você cita, todos são da campanha eleitoral. Querem fazer um terceiro turno aqui no Distrito Federal para tentar inviabilizar e sabotar nossa administração. Aí a pergunta final, vou fazer o contrário aqui. Interessa a quem a cidade voltara essa lama? Interessa a quem a desmoralização do Distrito Federal e da capital do Brasil? É isso que está em jogo. É isso que eu peco ao povo do Distrito Federal, que nós estamos enfrentando, estamos trabalhando mais tempo, com mais determinação, mais vontade. O que eu enfrentei aqui não foi uma eleição convencional. Nas palavras do procurador-geral da República, eu enfrentei uma organização criminosa. Quantos estão presos dessa organização criminosa que eu derrotei na eleição? Ninguém. Ninguém está preso. Todos estão atuando. Fazendo o mesmo processo...

Folha/UOL: Quem são os cabeças?
Agnelo Queiroz
: Não sei. Aí é difícil...

Folha/UOL: Seriam os ex-governadores Joaquim Roriz e José Roberto Arruda?
Agnelo Queiroz
: É difícil porque esse é um submundo. É o submundo da política, ela não aparece. Não tem visibilidade.

Folha/UOL: Mas o sr. acha que eles poderiam estar por trás dessas acusações?
Agnelo Queiroz
: Não sei. Seria uma acusação irresponsável da minha parte que eu jamais vou fazer sem ter um elemento concreto. Mas eu já vi expresso na boca de deputadas, por exemplo, aqui, que era dessa estrutura passada...

Folha/UOL: De quem?
Agnelo Queiroz
: Da deputada Celina Leão [do PSD] e a Eliana Pedrosa [do PSD]. Que eram dessa estrutura passada, que tentaram comprar uma testemunha com R$ 400 mil para dar um depoimento contra minha pessoa. Do mesmo jeito que foi feito no caso do Geraldo Nascimento, do jeito que foi feito no caso do Michael, agora desse Daniel. Do jeito que foi feito em um outro caso que eu detectei na campanha e botei na televisão, que era o caso do Michel. Michel não. Miguel. Eu botei na televisão ele sendo abordado para dar um depoimento contra minha pessoa na campanha. Do jeito que foi feito um dossiê no interior de Goiás falso para fazer uma acusação brutal contra minha pessoa. Isso quem mora aqui, quem sabe, quem assistiu viu tudo isso no Distrito Federal. São as mesmas pessoas, fazendo a mesma prática, comprando depoimento, agora depoimento comprado vale mais que a opinião da própria pessoa e vale mais que a minha opinião, foi nesse contexto que foi colocado. Porque era um depoimento que estava sendo comprado por R$ 400 mil , R$ 10 mil por mês e pagamento de aluguel por quatro anos. É essa vergonha que virou o submundo da política no Distrito Federal. É essa vergonha que eu estou enfrentando aqui. E tem que acabar com esse submundo. Porque isso virou uma coisa absolutamente criminosa. E na época deles ainda envolvia instituições do Estado para dar proteção a esse tipo de prática. Hoje não, estamos profissionalizando as nossas instituições para não entrar nisso. E deixa esse submundo que está aí, que é expresso num bocado de blogs, que é expresso pela boca dessas deputadas... Entendeu, essa é a única coisa que a gente consegue detectar até agora. Mas não posso responsabilizar A ou B. Mas com certeza os interesses contrariados do que nós rompemos com a estrutura sistêmica de corrupção em todas as secretarias, sem exceção, todas as secretarias. E isso está aí fartamente documentado no STJ que é naquele... da Caixa de Pandora, que está investigando isso e seguramente vão sair esses resultados e vai ficar claro para toda a população.

Folha/UOL: Governador Agnelo Queiroz, muito obrigado por sua entrevista.
Agnelo Queiroz
: Eu que te agradeço.