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Com aliança, Cesar Maia e Garotinho buscam sobrevivência política no Rio, dizem especialistas

Carlos Ivan/Agência O Globo
Imagem: Carlos Ivan/Agência O Globo

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio de Janeiro

04/03/2012 11h01

Anunciada na última semana, a aliança entre o ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia (DEM) e o ex-governador do Estado Anthony Garotinho (PR) reedita uma iniciativa frustrada protagonizada pela mesma dupla há cinco anos. Também visando o pleito para a prefeitura da capital, Maia, que tentava eleger seu sucessor, e Garotinho, que estava no PMDB, esqueceram o histórico de desavenças e firmaram, em 2007, uma aliança. O pacto fracassou em menos de um mês.

Para as eleições deste ano, Maia e Garotinho tentam emplacar a chapa encabeçada pelo filho do ex-prefeito, o deputado federal Rodrigo Maia (DEM), que terá como vice a filha do ex-governador, Clarissa Garotinho (PR). O objetivo é tentar vencer Eduardo Paes (PMDB), que busca da reeleição.

Em 2007, a aliança terminou após o governador Sergio Cabral (PMDB) convidar Paes para integrar o partido e ser o candidato da sigla à prefeitura. Garotinho foi praticamente obrigado a trocar de legenda. César Maia, por sua vez, fechou seu mandato com baixo índice de aprovação e não conseguiu eleger seu sucessor. Desde então, os ex-rivais entraram em uma fase de declínio e foram forçados a repensar estratégias a fim de reconstruir suas bases políticas.

Para o doutor em ciências políticas e diretor-executivo do Iuperj (Instituto de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro), Geraldo Tadeu Monteiro, o pacto firmado este ano pode ter um desfecho diferente de cinco anos atrás. "É uma aliança com mais estabilidade e que surge como uma forma de ganhar musculatura para enfrentar a coalizão do atual prefeito", completou.

"Nas condições atuais, essa é uma aliança de perdedores. Na última eleição, o César Maia, que concorria a uma vaga no Senado, tomou uma surra muito grande. Já o Garotinho, que nunca foi forte na capital, perdeu o pouco eleitorado que tinha. São dois perdedores unindo forças para enfrentar o Eduardo Paes", opinou o professor e cientista político Marcus Figueiredo.

"César e Garotinho sabem que suas biografias não suportariam mais uma derrota como essa. Por isso, é mais conveniente para ambos articular a candidatura dos filhos e, assim, iniciar um processo gradual de reconstrução de suas bases políticas. Os filhos, eventualmente, ainda podem se dar ao luxo de perder uma eleição. Os pais, não", avalia o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro. "Trata-se de uma tática de sobrevivência política", afirmou.

A aliança entre os dois partidos, DEM e PR, se estende a 67 municípios fluminenses. Em apenas quatro deles - Rio, Maricá, Nova Iguaçu e Varre-Sai - o DEM sairá como cabeça de chapa.

Duelo verbal

Os hoje aliados César Maia e Anthony Garotinho protagonizaram desde as eleições estaduais de 1998, primeira vez em que se enfrentaram nas urnas, um intenso duelo verbal através dos meios de comunicação. O primeiro, por exemplo, já chegou a sugerir a prisão do ex-governador em função de "uma dívida impossível de ser coberta".

BOMBOU NAS REDES SOCIAIS

  • Anúncio da aliança virou piada no Twitter


Garotinho respondeu que, se o rival pedisse a sua prisão, ele automaticamente solicitaria a internação do então inimigo político. Além disso, em diversas oportunidades, o líder do PR afirmou que Maia se acostumou a "criar factoides", e que este seria um político "de direita" e "oportunista".

Passados 14 anos desde que se enfrentaram nas urnas, os experientes políticos fazem questão de frisar que a aliança entre PR e DEM prescinde de consenso ideológico. "Não há nenhuma dificuldade de superar visões que não são exatamente iguais", argumentou César Maia na última segunda-feira. "A eleição municipal é muito maior do que as divergências que ocorreram no passado", completou Garotinho.

Liberalismo x Trabalhismo

Além dos inimigos políticos que estão no poder, César Maia e Anthony Garotinho possuem outro elemento em comum: ambos foram formados na escola do PDT (Partido Democrático Trabalhista) sob a batuta de Leonel Brizola. O primeiro conseguiu uma guinada na carreira política quando migrou para o extinto PFL (hoje Democratas) e se tornou um importante personagem político de centro-direita.

Garotinho, por sua vez, prosseguiu no PDT até desafiar o comando de Brizola, com quem protagonizou duelos de declarações que marcaram a história recente da política do Rio. Em uma entrevista, Brizola chegou a afirmar que Garotinho nada mais era do que "um animador de palco". E completou: "É ou não é? Ééééé", disse, em tom jocoso, numa alusão a um dos bordões do apresentador Sílvio Santos.