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Audiência que iria ouvir Cachoeira em Brasília é adiada para fim de agosto

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

01/08/2012 14h41Atualizada em 02/08/2012 07h38

A audiência  no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em Brasília, onde o bicheiro Carlinhos Cachoeira iria depor nesta quarta-feira (1º), foi encerrada e adiada para o dia 29 de agosto sem que o contraventor fosse ouvido. A audiência de instrução é relativa ao processo em que ele responde por formação de quadrilha e tráfico de influência no sistema de transporte coletivo do Distrito Federal.

Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, chegou ao local escoltado por agentes da Polícia Federal armados. Vestindo uma camisa azul clara, ele passou rapidamente pela imprensa que o aguardava no hall do elevador. O bicheiro estava com as duas mãos juntas para trás e estava algemado. Segundo a assessoria do tribunal, ele chegou ao prédio por volta de 13h40. A imprensa não teve acesso à área onde ocorreram os depoimentos.

Logo no início da audiência, por determinação da juíza Ana Cláudia Costa Barreto, as algemas foram retiradas. Além da juíza e dos oito réus, estiveram presentes à audiência 12 advogados e dois promotores. Cachoeira é representado pelo advogado Rafael Tucherman, do escritório Cavalcanti & Arruda Botelho, que já estava no caso, atuando com Márcio Thomaz Bastos, que pediu para deixar o cliente nesta semana.

O primeiro a depor foi o secretário dos Transportes do GDF (Governo do Distrito Federal), José Walter, testemunha no processo. Segundo ele, a licitação para contratar a operadora de bilhetagem era de responsabilidade da DFTrans e, à época, custava R$ 60 milhões apenas para a instalação do sistema e não o custeio mensal do serviço. Hoje, diz, a contratação poderia ser feito por um terço deste valor. Ele disse não conhecer Cachoeira e disse nem recebeu nenhuma proposta em relação ao serviço.

A segunda testemunha a depor foi Milton Martins, que era diretor administrativo financeiro do DFTrans. Ele também negou conhecer os réus.

Cachoeira é acusado de tentar articular um esquema para conseguir operar o sistema de bilhetagem eletrônica. Cachoeira está preso há cinco meses no presídio da Papuda, em Brasília, em decorrência da Operação Monte Carlos, que investigou o seu envolvimento com empresários e políticos.

Após o depoimento das duas testemunhas da Promotoria, foram ouvidos José Antônio Ramalho e Ricardo Jardim do Amaral na condição de testemunhas de defesa. Outras quatro testemunhas foram dispensadas.

Cachoeira chegou a deixar a sala onde acontecia a audiência para que pudesse depor o réu Gleyb Ferreira da Cruz, apontado como um dos seus principais auxiliares. Ao final do depoimento de Cruz, o advogado de defesa dele pediu a substituição da sua prisão preventiva.  Diante disso, o Ministério Público pediu um prazo para analisar a questão e uma nova audiência foi remarcada para o dia 29 de agosto, quando os outros réus devem depor.

O motivo da remarcação foi que os outros réus quiseram aguardar os depoimentos de duas testemunhas de defesa, que serão feitos por carta precatória.

Após o fim da audiência desta quarta, apenas o advogado de Cruz falou com a imprensa: “Não houve edital, não houve licitação, não houve crime. O erário público não sofreu nenhum prejuízo.”

Além de Cachoeira, são réus no processo: Claudio Dias de Abreu, ex-diretor da Delta Construções; Heraldo Puccini Neto, representante da Delta no Sudeste; Gleyb Ferreira da Cruz, auxiliar de Cachoeira; Valdir dos Reis, lobista encarregado de azeitar as relações com a secretaria de Transportes; Geovani Pereira da Silva, apontado como contador de Cachoeira (está foragido); Dagmar Alves Duarte, apontado como lobista do esquema de Cachoeira;  e o vereador Wesley Clayton da Silva (PMDB), de Anápolis (GO).

Após o fim da audiência desta quarta, apenas o advogado de Cruz falou com a imprensa: “Não houve edital, não houve licitação, não houve crime. O erário público não sofreu nenhum prejuízo”, afirmou Douglas Dalto Messoura.

Na CPI

No Congresso, há mais de dois meses uma CPI investiga as relações do contraventor com empresários e políticos. Quando foi depor em maio, Cachoeira permaneceu calado.

Na terça-feira (31), o escritório do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos deixou oficialmente a defesa do empresário.  Segundo informações obtidas pela reportagem da Folha de S.Paulo, a detenção de Andressa Mendonça, noiva de Cachoeira, foi o estopim.

Andressa é investigada em um inquérito policial por corrupção ativa. Ela é suspeita de tentar chantagear o juiz Alderico Rocha Santos, responsável pela ação penal contra o grupo de Cachoeira na 11ª Vara da Justiça Federal em Goiânia.

Na segunda-feira, a Polícia Federal fez uma busca e apreensão na casa dela, no condomínio de luxo Alphaville, em Goiânia. Foram apreendidos dois computadores e dois iPads, além de documentos. Em seguida, ela foi conduzida coercitivamente até a PF para prestar depoimento.
Santos assumiu o processo da Monte Carlo depois que o juiz Paulo Moreira Lima foi ameaçado e pediu para deixar o caso.

Depoimento da ex-mulher

Na terça-feira (31), a defesa de Andrea Aprígio de Souza, ex-mulher de Cachoeira, entrou com um habeas corpus no STF (Supremo Tribunal Federal) para garantir que ela possa ficar em silêncio durante o depoimento à CPI do Cachoeira. Andrea deve depor no dia 8 de agosto.