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Relator do Conselho de Ética pede cassação de Leréia por relação com Cachoeira

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

21/08/2013 15h54

Durante a leitura de seu voto no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, o deputado Ronaldo Benedet (PMDB-SC) defendeu a perda de mandato do deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) por quebra de decoro pelo relacionamento que tinha com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

“As conversas telefônicas [obtidas pela Polícia Federal] registradas entre os dois e entre o deputado Léreia e demais membros da quadrilha de Cachoeira são prova inequívoca de que o parlamentar sabia das atividades ilícitas do amigo, beneficiou-se delas e trabalhou para que Cachoeira pudesse alcançar os objetivos voltados à corrupção de agentes públicos e prática de azar”, afirmou Benedet em seu voto. 

Ainda em seu voto, o relator chama a atenção do fato de ser "preocupante saber que um contraventor passou a senha do cartão de crédito a um parlamentar".

Benedet salienta ainda que “há, ademais, gravação telefônica da qual é possível extrair que o parlamentar avisa Carlinhos Cachoeira sobre a iminência de operação policial no Estado de Goiás contra a prática de jogos de azar”.

Os argumentos do relator rebatem a defesa feita por Leréia, que dizia desconhecer as atividades ilegais nas quais “seu amigo de mais de 25 anos” estava envolvido.

Na companhia do advogado Getúlio Humberto Barbosa, Léreia acompanha a apresentação do voto do relator na reunião do Conselho de Ética desta tarde de quarta-feira (21).

Entenda o caso

Leréia é acusado de quebra de decoro por supostamente beneficiar o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em atividades ilegais.

Em sua defesa, Leréia já teve duas oportunidades de falar aos parlamentares em audiências no Congresso, além da apresentação da defesa por escrito.

A primeira vez foi em outubro do ano passado durante a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investigava a relação de Cachoeira com políticos e empresários. A segunda vez ocorreu há duas semanas no próprio Conselho de Ética.

Nas duas ocasiões, o parlamentar confirmou a amizade com Cachoeira, mas negou tenha cometido qualquer irregularidade e que soubesse que o amigo estava envolvido na exploração de jogos de azar em Goiás e no Distrito Federal.

No depoimento mais recente, Leréia afirmou que usou o cartão de crédito de Cachoeira para comprar jogos eletrônicos e que recebeu dele diversos empréstimos para honrar seus “compromissos financeiros”.

“Recorri a um amigo que sabia que tinha dinheiro, e ele emprestou porque sabia que eu tenho palavra e honraria os pagamentos”, disse na ocasião.

A representação contra Leréia foi encaminhada pela Mesa Diretora da Câmara ao Conselho de Ética por apostar no envolvimento dele com Cachoeira.

A reclamação à Mesa Diretora pelo comportamento do deputado foi feita pelos deputados Ivan Valente (PSOL-SP) e Chico Alencar (PSOL-RJ) ainda no ano passado.

Apenas em abril deste ano, foi instaurado um processo no Conselho para tratar do assunto. A indicação do relator do caso foi feita por meio de indicação do presidente do Conselho, o deputado Ricardo Izar Junior (PSD-SP).

Diferentemente de como é feito na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania da Câmara, o voto do relator é mantido em sigilo até que seja feita a leitura oficial durante a reunião do Conselho de Ética.

Segundo a secretaria do Conselho, para que o voto seja lido é necessário a presença mínima na sessão de 11 dos 21 deputados que compõem o conselho. A votação é nominal e por maioria absoluta.  Se voto de Benedet for pela cassação e for aprovado, o caso deverá ser votado novamente em sessão plenária da Câmara pela totalidade dos deputados.