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"Josés" do esporte e do teatro enfrentaram censuras diferentes

Noelle Marques

Do UOL, em São Paulo

29/03/2014 06h00

O ator, diretor e dramaturgo José Celso Martinez e o locutor esportivo José Silvério têm algo em comum além do primeiro nome de batismo. Ambos vivenciaram o golpe militar de 1964 e tiveram as carreiras marcadas pela ditadura. Em entrevista ao UOL, eles relembraram o período do regime militar.

No dia 31 de março, Zé Silvério estava em casa, em Lavras (MG), ouvindo rádio, quando ficou sabendo do golpe e foi até um bar próximo, onde havia um telefone, para dar a notícia em primeira mão na rádio em que trabalhava.

Já Zé Celso estava ensaiando com um grupo de atores no teatro Oficina (localizado no bairro do Bixiga, em São Paulo) quando recebeu a notícia através da atriz Lílian Lemmertz. O grupo deixou o local na direção da rua Consolação e se deparou com um congestionamento diferente na cidade: o de tanques de guerra.

Silvério e o Zé Celso também vivenciaram de perto a censura. O primeiro encontrou dificuldades nas redações por qual passou, onde teve que tomar cuidado com o que falava durante as transmissões de futebol. Mas, pela profissão envolver a paixão nacional -- inclusive do presidente --, foi mais poupado pelos militares.

“O presidente Médici estava muito empenhado na Copa do Mundo de 1974 e ele participava, ele ia aos jogos, assistia aos jogos, ouvia transmissões. Tem inclusive foto dele com um radinho [sic] no ouvido. Então, houve até uma crítica no meio nosso, contra nós, locutores esportivos, contra nós, jornalistas esportivos. Porque nós tínhamos uma liberdade acima do que os outros jornalistas tinham”, conta Silvério.

A classe artística, por sua vez, viveu episódios de extrema violência. Zé Celso foi preso, torturado e exilado. Um dos casos mais emblemáticos foi o ataque promovido por paramilitares a peça “Roda Viva”, escrita por Chico Buarque e dirigida por ele. “Esse grupo [paramilitares] foi assistir ‘Roda Viva’ 70 vezes e realizou uma operação chamada ‘Quadrado Morto’(...) Eles esperaram e quando o público saiu, eles fizeram um ataque no teatro [Galpão] e quebraram todos os equipamentos, bateram nos atores, nas atrizes, na Marília Pera, por exemplo”, relembra Celso.

Em 2014, aos 50 anos da data do golpe, ambos ainda têm planos para as carreiras. José Silvério narrará sua 10ª Copa do Mundo seguida e diz sonhar com um gol do Neymar na final no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.

Já o de Zé Celso é relembrar o momento histórico, no próprio dia 31 de março, às 21h, em uma leitura encenada, com a participação da plateia, no teatro Oficina, cujo nome é: “64: O Robogolpe”.