Topo

Rixa política supera aceno à reconciliação na ressaca eleitoral

Fim de semana teve atos contra Dilma e Alckmin nas ruas de São Paulo - Vagner Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo
Fim de semana teve atos contra Dilma e Alckmin nas ruas de São Paulo Imagem: Vagner Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

05/11/2014 06h00

Pra quem imaginava que as amizades abaladas pelas eleições deste ano poderiam ser retomadas após o fim da campanha, os primeiros dias da ressaca eleitoral foram marcados por sinais de que os simpatizantes do PT e dos partidos de oposição não pretendem dar uma trégua no embate político.

Ao longo dos últimos dias, o UOL abriu espaço para que as pessoas contassem suas histórias de reconciliação com amigos ou parentes de quem se afastaram por desentendimentos durante a campanha eleitoral. Mas a maior parte dos comentários e mensagens enviadas pelo Whatsapp (11 97500-1925) indica que ainda não há clima no país para a reaproximação dos "ex-amigos".

Comentários sobre rixa política - Reprodução/UOL - Reprodução/UOL
Imagem: Reprodução/UOL

"O problema é que os fanáticos radicais são como camicases e fica impossível a convivência", protestou o produtor musical Robson Sé, de São Paulo.

"O país está ideologicamente rachado em dois blocos irreconciliáveis", comentou o internauta Leovegildo Machado. "Não há conciliação possível."

O estudante J.V.S.D., 16, desabafou sobre um desentendimento que teve com suas vizinhas, em Dourados (MS). O jovem diz que passou a ser vítima de agressões verbais na frente de sua casa após ter feito um comentário banal sobre a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT).

"Mandei uma mensagem para a minha vizinha perguntando se ela estava feliz com a Dilma na Presidência de novo, mas não falei pra ofender", relata o estudante. "Ela levou a sério, pensando que eu estava tirando sarro da cara dela. As três vizinhas se juntaram na frente de casa para me xingar. Fiquei muito ofendido e não vou me reconciliar com elas tão cedo."

Diálogo

Os casos e depoimentos enviados ao UOL ilustram um cenário conturbado na política nacional. Em seus primeiros pronunciamentos após a reeleição, a presidente Dilma citou como uma das prioridades de seu novo governo o diálogo com todos os setores da sociedade, inclusive representantes da oposição.

Mas a primeira semana depois do segundo turno das eleições teve entre os destaques do noticiário uma derrota do governo no Congresso, um pedido da oposição de auditoria no resultado das eleições e declarações que indicam que a presidente não só terá dificuldade para colocar esse diálogo em prática como também para conter sinais de insatisfação dentro de sua própria base aliada.

"A disputa política pode ser dura, mas é preciso diálogo para viabilizar as mudanças que o país precisa", afirma o jornalista, cientista político e blogueiro do UOL Leonardo Sakamoto. "Faltaram mensagens, tanto do governo como da oposição, que deixassem mais claro como vai ser o jogo político daqui pra frente."

Para Sakamoto, o acirramento do debate teve como consequência positiva a manifestação de pessoas que antes não se posicionavam de forma clara em discussões políticas, mas as escolas e a imprensa têm um papel importante para evitar que a agressividade prevaleça.

Reconciliação entre tucanos e petistas? - Arte UOL - Arte UOL
Desavenças eleitorais ainda devem demorar pra desaparecer
Imagem: Arte UOL

"As pessoas precisam aprender que os seus colegas podem pensar diferente sem que deixem de ter caracteristicas humanas", avalia. "Falta cultura política para respeitar as diferenças e ter mais tolerância no debate político."

"A baixaria é desagradável e encobre discussões que podem ser muito mais interessantes", diz o filósofo Luiz Felipe Pondé. "Mas a política, o debate sobre as diferentes visões de mundo, se tornou uma coisa importante no país."

Na opinião de Pondé, o clima de efervescência política pode ter impacto no cotidiano das pessoas, criando problemas em um tradicional almoço de domingo ou na sala dos professores de algumas escolas, mas o mais importante é preservar a liberdade de quem discorda das posições de quem fala mais alto.

"A democracia representa a institucionalização dos conflitos. As instituições precisam se acostumar a ter um debate politico organizado", afirma. "Tanto o PT como o PSDB precisam assumir os seus papéis de governo e oposição tanto no Congresso como no dia a dia das pessoas."

Baixando a guarda

Para relaxar após tantas histórias de amizades desfeitas pelas eleições, uma dupla do Rio de Janeiro apelou ao humor e fez sucesso na internet ao criar a página Coxinha S2 Petralha no Tumblr. O site oferece sugestões de mensagens irônicas e afetuosas para fazer as pazes com um amigo tucano ou petista.

A ideia partiu dos publicitários Luiz Cesar Faria e João Resende, que tiveram a ideia de estimular a brincadeira depois de verem diversos amigos batendo boca por causa da campanha eleitoral.

"Um amigo nosso, que estava com bastante raiva das discussões, achou super divertido e baixou a guarda", conta Luiz Cesar. "De forma despretensiosa, as coisas aconteceram naturalmente, a página começou a viralizar de uma maneira absurda e muita gente começou a mandar as mensagens. Acho que as pessoas entenderam que era uma bobagem brigar."

A página, lançada no dia seguinte ao segundo turno das eleições, já deixou de ser atualizada. Aos poucos, a agressividade da campanha e os reflexos bem-humorados do vale-tudo eleitoral começam a ficar pra trás, mas resta a necessidade de discutir os rumos políticos do país.

Se você tem um depoimento, um vídeo ou uma foto para contar uma história de desentendimento ou reconciliação entre amigos separados pela política, envie para o UOL pelo Whatsapp (11) 97500-1925.