Topo

PF indicia 14 dos 23 vereadores de Florianópolis por corrupção

Agente da PF durante operação contra a corrupção no Legislativo - Guto Kuerten/Agência RBS/Estadão Conteúdo
Agente da PF durante operação contra a corrupção no Legislativo Imagem: Guto Kuerten/Agência RBS/Estadão Conteúdo

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis

05/12/2014 19h48

A PF (Polícia Federal) encaminhou nesta sexta-feira (5) ao MPE-SC (Ministério Público Estadual de Santa Catarina) a conclusão do inquérito da Operação Ave de Rapina, que apurou corrupção e formação de quadrilha na administração pública de Florianópolis, indiciando 14 dos 23 vereadores da Câmara.

Eles foram acusados de receber propina de empresários para alterar projetos de lei que tramitavam no Legislativo, além de fraudar licitações no Instituto de Planejamento Urbano e na Fundação Municipal de Cultura.

A Ave de Rapina iniciou em 12 de novembro, quando foi preso o vereador Badeko (PSD), acusado de liderar o esquema de corrupção.

No primeiro dia foi indiciado o então presidente da Câmara, César Faria (PSD) –já na saída do prédio da PF ele anunciou a renúncia ao cargo, dando início à maior crise do Legislativo da capital, desmontando a base do governo.

Segundo o delegado PF Allan Dias, “há provas robustas nos autos de que Badeko era o líder e que repassava propinas obtidas de empresários aos demais vereadores acusados”.

O delegado disse que o projeto Cidade Limpa (sobre colocação de outdoors nas ruas), proposto no ano passado pelo prefeito César Souza Júnior (PSD), “estava sendo negociado pelos vereadores com vários empresários que se beneficiariam das mexidas na lei”.

Badeko era o relator do projeto no plenário e mexia nele em acordos secretos com os empresários.

Os nomes dos 14 vereadores suspeitos divulgados surgiram em documentos apreendidos no início da operação da PF. Ela indiciou também 35 pessoas, entre empresários e servidores da prefeitura e da Câmara.

Na casa do publicitário Adriano Nunes, preso na primeira leva de novembro, a PF encontrou uma lista com os nomes de vereadores com valores que eles teriam recebido de propina.

Segundo o delegado Dias, a propina variava de R$ 5.000 a R$ 100 mil, dependendo da importância do vereador na Casa. Nunes seria o operador do esquema, em cumplicidade com Badeko.

O delegado Dias disse que a PF apurou que somente para ajustar o projeto Cidade Limpa aos interesses dos empresários de publicidade, Badeko e Nunes teriam arrecadado R$ 895 mil.

Badeko teria ficado com a maior parte e dividido o resto entre os colegas.

O último indiciado, nesta sexta (5), é o vereador Ricardo Camargo (sem partido).

Entre os indiciados três nomes se destacam: Tiago Silva (PDT), mais votado das últimas eleições, Dalmo Meneses (PP), veterano parlamentar que presidia a Comissão de Ética da Câmara, e Erádio Gonçalves (PSD), eleito para presidir a casa na gestão 2015/2016, em substituição ao antes indiciado Cesar Faria (PSD), que renunciou em novembro. 

Tiago ocupou a prefeitura na ausência de César Souza, em novembro. Foram acusados também dois vice-presidentes recém-eleitos, Dinho Rosa (PMDB) e Coronel Paixão (PDT).

Os 14 vereadores indiciados ao final do inquérito são Erádio Gonçalves (PSD), Tiago Silva (PDT), Coronel Paixão (PDT), Marcelo da Intendência (PDT), Deglaber Goulart (PMDB), Celio João (PMDB), Dinho da Rosa (PMDB), Ed Pereira (PSB), Roberto Katumi (PSB), Alderico Furlan (PSC), Dalmo Meneses (PP), César Faria (PSD), Badeko (PSD) e Ricardo Camargo (sem partido) .

Procurados, cinco vereadores responderam às acusações. Deglabert Goulart admitiu ter recebido R$ 10 mil de Nunes, mas que seria doação de campanha, registrada no TRE (Tribunal Regional Eleitoral).

Ed Pereira e Dinho da Rosa afirmaram que seus advogados vão defendê-los das acusações. Cesar Faria afirmou que é inocente, sem elaborar.

Célio João disse que se defenderá através de seu advogado. Lídio Cruz, advogado de Badeko, disse que a denúncia é equivocada.

O vereador Afrânio Boppré (PSOL), que é primo de Tiago Silva (PDT), pediu abertura de sindicância na Comissão de Ética, mas a sessão não pode se realizar porque quatro dos cinco membros estão sob indiciamento: “Eles ficaram sem condições de julgar seus colegas”, afirmou Boppré.

O presidente da Câmara, Pastor Jerônimo (PRB), disse que “a Casa continua funcionando, por enquanto só existe o indiciamento, não há julgamento”. Ele afirmou que pedirá o afastamento "daqueles que forem considerados culpados”.

Os indiciados fazem parte da maioria que controla a casa, na base do prefeito César Souza Júnior (PSD). A prefeitura precisa que a Câmara aprove antes do final do ano o polêmico projeto de aumento do IPTU.

Pela nova proposta, 30 mil famílias até aqui atendidas pelo imposto mais baixo, conhecido como IPTU social perderiam o benefício. Com a crise, não há previsão para a votação.