Para Dallari, silêncio do Congresso reforça falta de diálogo com militares
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, pediu nesta quinta-feira (11) à Câmara e ao Senado que dialoguem com as Forças Armadas a fim de que elas assumam sua responsabilidade pelas violações dos direitos humanos durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Dallari foi ao Congresso um dia após a divulgação do relatório final da comissão.
De acordo com Dallari, deputados e senadores têm essa oportunidade na medida em que representantes dos militares vêm constantemente ao Congresso negociar apoio a projetos das Forças Armadas. "É importante colocar na pauta do Congresso esse diálogo. O silêncio do Senado, o silêncio da Câmara acabará reforçando essa ideia de que esse assunto se esgota no relatório da comissão."
"O Parlamento vota o orçamento deste país, e as Forças Armadas têm recebido um enorme apoio da sociedade a seus projetos. Mas não há reciprocidade, não há contribuição no sentido da reconciliação nacional", afirmou o coordenador em audiência pública no Senado, com a participação de comissões da Câmara dos Deputados. "É importante colocar na pauta do Congresso esse diálogo."
Segundo Dallari, o silêncio das Forças Armadas acerca do assunto "vai significar que não há por parte delas a convicção de que não tenha sido correto o que fizeram". Já o reconhecimento representaria "a superação desse período da história".
O presidente da Subcomissão Permanente da Memória, Verdade e Justiça do Senado, senador João Capiberibe (PSB-AP), respondeu que a expectativa dos parlamentares agora é retomar o debate com as Forças Armadas. Segundo ele, o Ministério da Defesa e os comandos das três Forças já haviam sido procurados pela subcomissão, mas decidiram esperar pela divulgação do relatório da Comissão da Verdade, o que ocorreu ontem. "Vamos insistir nesse tema com nossos comandantes, mostrando que eles não têm nenhuma responsabilidade pessoal, mas institucional", afirmou Capiberibe.
Ontem a Comissão da Verdade entregou, à presidente Dilma Rousseff e aos presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, um relatório com o resultado dos trabalhos do grupo.
O documento aponta os nomes de 377 agentes públicos responsáveis pela repressão política e de 434 vítimas, além dos locais onde ocorriam as sessões de interrogatórios forçados, prisões ilegais e desaparecimentos. A comissão também pede que os culpados sejam processados e lista 29 recomendações, incluindo o fim da Polícia Militar. (Com informações da Agência Câmara)
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