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Na CPI, ex-gerente da Petrobras nega que tenha recebido propina

O ex-gerente da Petrobras Glauco Legatti presta depoimento na CPI da Câmara - Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados
O ex-gerente da Petrobras Glauco Legatti presta depoimento na CPI da Câmara Imagem: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

Bruna Borges

Do UOL, em Brasília

31/03/2015 10h33Atualizada em 31/03/2015 18h16

O ex-gerente da Petrobras Glauco Colepicolo Legatti negou nesta terça-feira (31) que tenha recebido propina por projetos da refinaria Abreu e Lima. As declarações foram dadas na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que apura um esquema de corrupção na estatal. Ele também negou que tenha ocorrido superfaturamento nas obras.

Legatti foi gerente de Implementação de Empreendimentos para a refinaria Abreu Lima entre 2008 e 2014. O empresário Shinko Nakandakari, um dos delatores da operação Lava Jato, afirmou que ele recebeu R$ 400 mil de propina entre junho de 2013 e junho de 2014.

Segundo o delator, o ex-gerente obteve a propina porque comandava a equipe técnica. Ele foi afastado do cargo em novembro.

“Não é verdade que o senhor Shinko pagou para mim, eu não recebi um centavo do senhor Shinko”, declarou ex-gerente.

Legatti reconheceu que tem uma relação pessoal com o delator da Lava Jato, mas se disse surpreso ao saber pela imprensa de que ele seria um dos operadores do esquema de pagamento de propina à estatal. "Eu não o tratei como empreiteiro ou como representante formal de uma empresa", disse o ex-gerente. Ele ainda se disse "indignado" pelo depoimento de Shinko.

O engenheiro disse ainda que seu advogado apresentou um pedido ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância, para que seja esclarecida a informação sobre o suposto pagamento de propina.

"Não houve superfaturamento na obra, não tem um centavo pago sem ter contrapartida", disse Legatti. "Não houve porque todos os projetos foram contratados dentro da margem que a empresa estabeleceu."

Em ralação ao aumento nos preços da refinaria Abreu e Limadurante sua implantação, Legatti afirmou que o valor inicial de US$ 2,4 bilhões era uma estimativa quando ainda era uma fase de projetos básicos e não pode ser considerada como custo inicial da refinaria.

Segundo o ex-gerente, o custo real seria de US$ 13,3 bilhões. Para Legatti, essa diferença ocorre por variação da cotação do dólar. Ele disse que 90% das obras foram pagas em reais e que a divulgação de valores em dólar é um padrão da estatal. Como o dólar ficou mais caro, os valores atuais estão "compatíveis", de acordo com o engenheiro.

O ex-gerente afirmou que possuía uma relação profissional com o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, que admitiu, em delação premiada, que recebeu propina de empreiteras e cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro. Ele negou que conheça o doleiro Alberto Youssef, considerado pelo Ministério Público um dos principais operadores do esquema de corrupção.

O TCU (Tribunal de Contas da União) apontou suspeita de sobrepreço na implantação de Abreu e Lima. Legatti negou qualquer irregularidade na definição dos preços das obras da refinaria. "O processo de contratação [de fornecedores] é extremamente rígido e detelhado passo a passo", defendeu Legatti. "No dia do recebimento das propostas, a comissão de licitação abre as propostas e  as classifica e recebe um envelope lacrado de um grupo independente de estimativa de custo. Esses valores são os balizadores dos preços. É nesse momento que são estabelecidos os valores. A comissão de licitação não sabe os preços antes disso." 

"Nós jamais suspeitamos de cartelização[das empreiteiras]. Os custos da refinaria estão compatíveis com os valores dos serviços ali", disse Legatti. 

Em depoimento à CPI do Senado no ano passado, o ex-gerente negou que tenha ocorrido sobrepreço na obra da refinaria e disse que a Petrobras seguiu os tramites regulares para a escolha do consórcio de empreiteiras responsável pela construção.

Ele afirmou ainda no ano passado que a estatal tem se esforçado para adequar a obra às recomendações do TCU e que suspendeu o pagamento de R$ 16 milhões para empreiteiras que estavam reservados de dezembro de 2008 até abril de 2009.