Via WhatsApp: As propostas e os obstáculos para melhorar o governo
A insatisfação dos brasileiros com os problemas que o país enfrenta cresceu nos últimos meses e serviu de combustível para as recentes manifestações, que reuniram milhares de pessoas nas ruas de cidades espalhadas por todo o Brasil. De dezembro a abril, a avaliação negativa do governo da presidente Dilma Rousseff (PT) subiu de 24% para 60%, segundo dados do Datafolha.
Ao longo do último fim de semana, o UOL pediu que os internautas, tanto os que foram aos protestos como os que não participaram das manifestações do último domingo (12), enviassem mensagens com um recado sobre como melhorar o país.
Em pouco mais de 24 horas, foram cerca de 11 mil mensagens enviadas para o WhatsApp do UOL Notícias (11) 97500-1925. A grande maioria se concentrava em ataques ao governo Dilma e ao PT, semelhantes aos observados nos cartazes dos protestos de domingo, ou em manifestações de defesa da presidente e de seu partido, reproduzindo memes e comentários que circularam nas redes sociais com a hashtag #AceitaDilmaVez.
Em meio ao tiroteio partidário, alguns internautas apontaram que um dos problemas é falta da definição de prioridades, tanto da parte de quem saiu às ruas para protestar sem uma demanda específica como da parte do próprio governo. "Para um Brasil melhor, a gente tem que saber quais são os problemas, e este governo não declara quais, então a gente tem que ficar adivinhando ou elocubrando até descobrir", reclamou o engenheiro químico Fabiano Ribeiro de Melo, 35.
Veja abaixo uma lista com uma seleção das mensagens que os internautas enviaram via WhatsApp e os fatos e argumentos que envolvem cada um dos temas.
Reforma política
O que mais me incomoda hoje e causa insatisfação é a forma como estamos nas mãos dos políticos. Precisamos de reforma política com a participação do povo
Os políticos têm que se preocupar com o povo, não com seus interesses particulares. Voto facultativo já!
Parlamentarismo já, voto distrital já... Força, Brasil! Nós somos maiores!
Apesar de a necessidade de uma reforma política ser quase um consenso no país, o assunto é complexo e há uma série de divergências sobre o que incluir no projeto. O debate passa por uma definição sobre se deve ou não ser feito algum tipo de consulta popular e pela discussão de temas como as regras para o financiamento de campanhas, o voto distrital, o fim da reeleição, o sistema partidário e a obrigatoriedade do voto.
O que diz o governo - Em resposta aos protestos de junho de 2013, a presidente Dilma passou a defender um plebiscito sobre mudanças no sistema político brasileiro. Os eleitores votariam sobre o sistema eleitoral (o PT defende o voto em lista fechada, em que o eleitor vota apenas em um partido), o financiamento das campanhas (os petistas defendem o financiamento público), coligações partidárias (o partido da presidente quer que o eleitor decida se as alianças devem ou não ser permitidas), suplentes de senador (o eleitor decide se a suplência deve ou não acabar) e sobre o voto secreto no Congresso (que ainda é praticado, apesar de exceções em casos específicos). O PMDB, principal aliado do PT no governo, diverge em alguns pontos e recentemente apresentou sua própria proposta de reforma política.
O que diz a oposição - Durante a campanha presidencial do ano passado, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) defendeu o fim da reeleição para presidente, governadores e prefeitos, com mandato de cinco anos para todos os cargos do Executivo e Legislativo. O tucano também pregou a adoção do voto distrital misto, com parte dos candidatos para o Legislativo escolhida pelos eleitores de distritos a serem criados e outra parte a partir de listas elaboradas pelos partidos. Aécio propõe ainda a unificação do período das eleições (gerais e municipais) e dos mandatos. As mudanças, no entanto, só teriam efeito a partir de 2022.
Combate à corrupção
Se eu fosse presidente, mandaria para o Congresso projeto endurecendo as leis em geral. Daria mais recursos e instrumentos legais para fazer uma verdadeira limpeza nos governos de todo país em todos os seus órgãos e poderes
A solução para o país, entre outras medidas, é usar a internet como ferramenta de transparência. Tudo o que os governos forem fazer/gastar/investir (deve ser) publicado na internet, associado a medidas de fiscalização pública (comissões populares, Ministério Público etc.)
Os maiores problemas do Brasil são a corrupção nos três Poderes e a altíssima carga tributária aplicada aos honestos trabalhadores
A corrupção foi uma das principais causas que levaram manifestantes de todo o país às ruas no último domingo (12). Segundo pesquisa do Datafolha divulgada na segunda-feira (13), o motivo mais citado espontaneamente pelas pessoas que foram à avenida Paulista no dia anterior foi o protesto contra a corrupção: 33% dos entrevistados saíram de casa por conta de casos como o do chamado "Petrolão", escândalo de desvios de verbas na Petrobras investigado pela Polícia Federal na Operação Lava Jato.
O que diz o governo: três dias após os protestos do dia 15 de março, a presidente Dilma Rousseff anunciou um pacote de medidas anticorrupção que, entre outros itens, criminaliza o caixa 2, amplia a Lei da Ficha Limpa e prevê o confisco de bens de servidores públicos que enriqueceram ilicitamente. O Palácio do Planalto também ressalta, como medidas de cerceamento à atuação de corruptos e corruptores, as operações especiais da Polícia Federal, que aumentaram significativamente desde 2003, ano em que o PT chegou ao poder.
O que diz a oposição: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao comentar a declaração da presidente Dilma de que a "corrupção é uma senhora idosa no país", afirmou que o escândalo do "Petrolão" é, na verdade, um "fato novo" em termos de corrupção praticada no Brasil, "uma mocinha, um bebê quase", já que trata-se, na opinião dele, de uma organização que sustenta um partido por meio de propinas recebidas a partir de empresas estatais. O PSDB, por conta da Operação Lava Jato, chegou a pedir, em dezembro, a cassação de Dilma e a diplomação de Aécio Neves, derrotado nas eleições presidenciais, e solicitou ao STF, em março, que a presidente fosse investigada pela Polícia Federal: ambos os pedidos foram negados. Quanto a um possível impeachment de Dilma, não há consenso entre os tucanos.
Economia
Jamais tivemos na história do Brasil carga tributária igual a essa. Isso é muito grave!
O povo brasileiro está perdendo seus empregos. Acabando ou diminuindo as receitas, o brasileiro não tem alternativa, senão rever suas despesas. Portanto, o governo Dilma tem que fazer a mesma coisa: cortar os ministérios. O brasileiro não tem alternativa de aumentar receitas através de impostos. Tem que cortar as despesas
A alta carga tributária a que os brasileiros são submetidos, aliada ao fraco desempenho econômico do país e à alta da inflação, também é motivo de insatisfação para muitos brasileiros que foram às ruas no último domingo (12). Além destes fatores, o aumento da tarifa da eletricidade, da gasolina, do dólar e o recente pacote de ajuste fiscal do governo federal, que visa diminuir os gastos públicos com impacto em direitos trabalhistas, contribuíram para acirrar os ânimo no país nos últimos meses.
O que diz o governo: A equipe econômica de Dilma Rousseff, comandada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e pelo ministro do Desenvolvimento, Nelson Barbosa, adotou como uma de suas primeiras medidas o anúncio do pacote de ajuste fiscal, que deverá ser votado na Câmara no início de maio, cujo intuito é equilibrar as contas do país. Segundo a presidente, as medidas - impopulares, já que incluem o aumento de impostos e a revisão de benefícios trabalhistas - são necessárias para que o país supere "a mais grave crise internacional desde a Grande Depressão de 1929" e retome o crescimento da economia.
O que diz a oposição: O fraco desempenho econômico brasileiro, cujo PIB em 2014 registrou uma expansão de apenas 0,1%, não pode ser atribuído à crise internacional, segundo líderes da oposição. Para o senador tucano Aécio Neves, o primeiro mandato de Dilma representou "quatro anos praticamente perdidos em termos de crescimento econômico". Já o líder do DEM, o senador Ronaldo Caiado, chegou a dizer que "o Brasil puxa o PIB do mundo para baixo". A alta do dólar e da inflação também é explorada por opositores do governo como mais um ingrediente para convocar os brasileiros a ir às ruas protestar contra a presidente Dilma Rousseff.
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