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Na CPI, Costa reafirma pedido para campanha de Dilma; Youssef nega

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

25/08/2015 15h38Atualizada em 25/08/2015 21h41

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa voltou a afirmar nesta terça-feira (25) que autorizou o repasse de R$ 2 milhões para a campanha da então candidata à Presidência da República Dilma Rousseff (PT) em 2010. Segundo Costa, o dinheiro foi pedido pelo ex-ministro chefe da Casa Civil Antonio Palocci. A afirmação foi feita durante a acareação entre Costa e o doleiro Alberto Youssef realizada pela CPI da Petrobras na Câmara dos Deputados. Questionado sobre o repasse à campanha de Dilma, Youssef, um dos principais operadores do esquema da Lava Jato, negou que tenha recebido qualquer pedido de Palocci.

“Com respeito ao Palocci, confirmo minhas declarações todas feitas anteriormente. Não conheço o Palocci, não conheço o assessor do Palocci, e ninguém fez nenhum pedido a mim para que eu pudesse arrebanhar recursos à campanha da Dilma no ano de 2010. É que eu posso dizer”, disse Youssef, que havia ficado em silêncio durante as perguntas anteriores. Ele disse ainda que "em breve" haverá novas revelações sobre o ex-ministro. "Vou me reservar o silêncio porque existe uma investigação nesse assunto do Palocci e logo vai ser revelado", declarou, sem dar mais detalhes.

Após a resposta do doleiro, foi a vez de Paulo Roberto Costa falar e contrariar a versão do outro delator. “Eu autorizei repassar os R$ 2 milhões da cota do PT para a campanha de Dilma em 2010. Ratifico os depoimentos, todos eles. Integralmente”, afirmou Costa.

Youssef e Costa são os dois principais delatores do esquema da Lava Jato. Eles firmaram acordo de delação premiada com a Justiça e já foram condenados em algumas ações. Youssef obteve um habeas corpus concedido do STF (Supremo Tribunal Federal) em que tem direito ao silêncio e autoriza seu advogado de intervir pessoalmente na acareação. Ele também foi liberado de assinar o termo de compromisso de dizer a verdade aos parlamentares. Assim, só Costa assinou o termo se comprometendo a falar aos deputados.

Paulo Roberto Costa começou a responder as perguntas feitas pela CPI dizendo que passava por problemas de saúde e já tinha prestado 126 depoimentos desde o início da operação Lava Jato. “Esta é a quinta vez que estou aqui respondendo perguntas. Já prestei para o MPF, PF e para o juiz federal Sérgio Moro, 126 depoimentos. E esses depoimentos são de domínio público. Estou passando por uma dificuldade de saúde”, afirmou Paulo Roberto.

Após dizer que já prestou 126 depoimentos, Costa disse que não teria “novidades” para trazer à CPI. “Estou aqui no dia de hoje para esclarecer algumas dúvidas, mas já tenho 126 depoimentos [prestados]. Não vou ter novidade. Vossas excelências conhecem todos os meus depoimentos. Estou aqui para colaborar, mas repito, mas não tenho novidade para colocar”, afirmou.

Em nota divulgada nesta tarde, a assessoria de imprensa do ex-ministro Antonio Palocci negou que tenha feito pedido para a campanha presidencial de 2010 ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa. "Antonio Palocci reafirma que jamais fez qualquer pedido para a campanha de 2010 a Paulo Roberto Costa, seja diretamente, seja por meio de Alberto Youssef ou por qualquer outro intermediário", diz o texto.

Campanhas de Dilma

Os questionamentos em torno da destinação de recursos ilegais nas campanhas da presidente Dilma eram um dos momentos mais esperados da acareação desta terça-feira.

Segundo o ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Gilmar Mendes, “há indicativos” de que o PT tenha se beneficiado de recursos originados em desvios de recursos da Petrobras. No TSE, tramitam quatro ações questionando as contas eleitorais da campanha de Dilma em 2014.

A operação Lava Jato foi deflagrada em março de 2014 e investiga um esquema de desvio de recursos públicos em empresas estatais como a Petrobras e a Eletronuclear. As investigações indicam que um conjunto de empreiteiras, entre elas a Odebrecht, Camargo Corrêa e UTC superfaturavam os valores de contratos mantidos com a Petrobras. Parte dos recursos desviados era repassada a partidos a políticos.

Em março de 2015, a PGR (Procuradoria Geral da República) pediu a abertura de inquérito contra 54 pessoas, entre elas 37 políticos, junto ao STF (Supremo Tribunal Federal). Na última quinta-feira (20), as primeiras denúncias oriundas dessas investigações foram feitas.

Foram denunciados o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a ex-deputada federal e prefeita de Rio Bonito (RJ) Solange Almeida (PMDB) e o senador e ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL). Mais denúncias são esperadas para as próximas semanas.