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Gravação mostra Delcídio em conversa sobre anular delações da Lava Jato

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

25/11/2015 14h38Atualizada em 25/11/2015 20h49

Investigação da Procuradoria-Geral da República aponta que o senador Delcídio Amaral (PT-MS), preso nesta quarta-feira (25), participou de encontro com o advogado do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró no qual foi discutida a intenção de anular delações premiadas centrais para a Operação Lava Jato.

Participaram do encontro com Delcídio o advogado Edson Ribeiro, que representa Cerveró, o chefe de gabinete do senador, Diogo Ferreira, e o filho de Cerveró, Bernardo, que gravou o diálogo. A transcrição da conversa consta do pedido de prisão de Delcídio feito pela Procuradoria-Geral da República ao STF (Supremo Tribunal Federal).

No diálogo, Ribeiro afirma que apresentou pedido de habeas corpus ao STF com o objetivo de conseguir a anulação da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Segundo o advogado, a anulação da colaboração de Costa levaria à nulidade de outras delações, o que poderia inviabilizar a condenação de envolvidos no esquema de corrupção.

O advogado informa, na reunião, que o habeas corpus seria julgado pelo ministro Edson Fachin. Em seguida, Delcídio pede a seu chefe de gabinete que marque um encontro com ministro do Supremo.

Veja abaixo a transcrição do diálogo feita pela Procuradoria:

Edson Ribeiro: “Se a gente anula aquilo, a situação de todos tá resolvida por que aí eu vou anular em cadeia, eu anulo a dele, Paulo Roberto [Costa], anulo a do Fernando Baiano”

Diogo Ferreira (chefe de gabinete): “É pra anular a delação premiada”

Edson Ribeiro: “Eu peço aí, aí, oh só. [vozes sobrepostas] Paulo Roberto, por que, por que foi homologada pelo Supremo, aí eu consigo anular a do Ricardo Pessoa, enquanto Supremo também eu peço suspensão e anulo aquela porcaria também em situação idêntica. Consigo anular a do Fernando Baiano, a do Barusco e a do Júlio Camargo. Pô, cara!”

Delcídio Amaral: “E tá com o [ministro Edson] Fachin? Eu tô precisando fazer uma visita pra ele lá hein!”

Edson Ribeiro: “Essa é a melhor por que acaba a operação. Por que se na decisão disser que não anula apenas [vozes sobrepostas]”

Em outro trecho da conversa, Delcídio elogia a estratégia sugerida pelo advogado. “E eu vou, essa ideia do Edson é boa, e eu vou falar com Renan também”, diz o senador, segundo as transcrições da Procuradoria.

O advogado do senador ainda não se pronunciou sobre a prisão ou as acusações contra Delcídio.

O pedido de habeas corpus citado por Ribeiro foi negado por Fachin no dia 5 de novembro.

Delcídio foi preso nesta quarta-feira, acusado de tentar interferir nas investigações da Lava Jato. O STF também determinou a prisão de Edson Ribeiro, Diogo Ferreira e do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual.

Segundo a PGR, eles agiram para impedir que Cerveró firmasse acordo de colaboração premiada ou, se o acordo fosse fechado, que ele não citasse fatos envolvendo Delcídio e Esteves.

Cerveró terminou por fechar acordo de delação com a Procuradoria-Geral da República. Segundo a Procuradoria, Cerveró cita em seu acordo de colaboração o envolvimento de Delcídio em práticas de corrupção na aquisição de sondas pela Petrobras e na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

Cerveró citaria ainda, segundo a Procuradoria, que André Esteves, por meio do banco BTG Pactual, pagou propina ao senador Fernando Collor (PTB-AL) relacionada a um contrato de embandeiramento de 120 postos de combustíveis em São Paulo, que pertenciam conjuntamente ao banco e a um outro grupo empresarial.

Em nota enviada por sua assessoria, Collor afirmou que não teve participação ou conhecimento das tratativas do BTG relacionadas ao contrato dos postos de combustíveis e “muito menos” teria recebido vantagem pelo negócio.

O senador também criticou a atuação da Procuradoria-Geral da República nos acordos de delação premiada.

“O concerto de versões entre delatores para a garantia de benefícios mútuos lamentavelmente tem se mostrado prática comum na chamada Operação Lava Jato, no mais das vezes gestada no cárcere comum compartilhado pelos investigados, com o beneplácito do órgão da acusação. Assim, embora lastimável, não chega a ser novidade que o mais novo delator siga a cantilena soprada pelos seus antecessores, sob a batuta da Procuradoria-Geral da República”, diz a nota enviada por Collor.

O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que representa o banqueiro André Esteves, afirmou que seu cliente não estava presente nas reuniões gravadas em que foi discutida a suposta interferência nas investigações e que ele agora busca saber em que circunstâncias Esteves foi citado.

“André está tranquilo. Ele não participou, absolutamente, muito menos da [proposta] de fuga [de Cerveró]”, afirmou Kakay.