Topo

Livro trata política e feminismo como assunto de criança

Ilustrações do livro "Quem Manda Aqui?", que trata de política para crianças - Divulgação
Ilustrações do livro "Quem Manda Aqui?", que trata de política para crianças Imagem: Divulgação

Lúcia Valentim Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

21/12/2015 06h00

Com o acirramento das posições partidárias dentro e fora de casa, crianças pequenas tomam contato com a política cada vez mais cedo.

Então melhor começar esse diálogo explicando os conceitos mais básicos a partir do olhar deles.

O hacker Pedro Markun usou de sua experiência com suas filhas de 1 e 4 anos para fazer o livro “Quem Manda Aqui?”, que tem lançamento oficial em dezembro.

A editora é a Companhia das Letrinhas, mas a iniciativa surgiu de um projeto financiado pelo Catarse.

“Só sei fazer as coisas envolvendo muita gente e queríamos independência, por isso fomos para o financiamento coletivo”, conta.

Eles conseguiram captar R$ 13.817, em 40 dias. “A partir daí, o livro tinha a obrigação de sair, para agradecer aos 256 apoiadores.” Até ser publicado, levou mais de um ano.

Paula Desgualdo montou seis oficinas de contação de histórias no início de 2014, em São Paulo e em Ouro Preto (MG). As crianças eram instigadas a explicar como funcionavam os cargos de poder.

André Rodrigues e Larissa Ribeiro, do estúdio Desemboca, entraram em seguida para fazer as ilustrações e assinam como coautores do projeto.

 “Era um processo de escuta, de descarrego gráfico mesmo, sempre a partir da mesma pergunta: ‘Quem manda aqui?’. Nossa ideia era povoar o imaginário infantil com locais de poder, como o castelo, a cidade, a tribo, o navio, a escola, a casa”, diz Markun.

Ele conta que as crianças iam respondendo por que o rei mandava e os autores iam provocando. “Vinha que o ‘tatatataratarataravô’ era rei, que Deus quis. Aí, pronto, afinal conseguiram chegar ao que era realmente a desculpa real.”

As oficinas tentavam entender como as crianças viam o rei, a princesa, o prefeito, a professora, o pai e a mãe. Depois elas desenhavam quem detinha o poder. Cada oficina gerou um livrinho em papel-cartão e lombada costurada. 

Markun diz que eles escolhiam a criança mais arteira para decidir quais seriam os desenhos a entrar nos livros. “A ideia era estimular o conceito de eleição. O que a gente acha engraçado, icônico ou desgraçado das eleições reais muitas vezes também acontecia naquele microcosmo.”

Como quando viram as crianças “formarem um partido” para torcer por um dos símbolos geométricos que serviam como número do candidato. Uma criança escolheu por uni-duni-tê. E tudo isso foi entrando na obra.

Outras fizeram com que fosse explicado o conceito de anarquia ao quererem levar o seu desenho para casa. “Pegaram inclusive desenhos dos amigos para levar embora. Sem que o amigo autorizasse. Mas isso era o que queríamos: criar um espaço para dialogar com as crianças, sem pretensão, para descobrir qual era o imaginário político delas.”

“Quem Manda Aqui?” tem outra discussão importante, que só se descobre com atenção durante a leitura ou ao chegar ao final das 48 páginas. É a defesa do feminismo, ou como explicam ao final: “Infelizmente, ser menino ou menina ainda diz muito sobre quanto poder a gente tem. Então decidimos pedir uma licença ao português: aqui o coletivo é usado no feminismo. Entenda como uma escolha, não um erro”.

As autoras -- como assinam no projeto -- também equilibraram o número de personagens masculinos e femininos.

É uma obra com mais perguntas do que respostas, para fazer pensar.

Para quem se interessar, o livro também tem uma versão gratuita para download em www.quemmandaaqui.com.br.

Próximo projeto

Markun tomou gosto pelo projeto e já planeja um segundo volume. “Queremos aproveitar as eleições municipais para fazer no ano que vem a eleições dos bichos.”

O mote é que os bichos se revoltam e pedem o fim da monarquia do rei leão. “Vai rolar a democratização da selva, com vários bichos concorrendo, como a coruja, a onça-pintada e até o leão. Ele vai com o slogan de que em time que está ganhando não se mexe. Já a onça vai dizer que é brasileira”, adianta.

Já dá vontade de saber o resultado.