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Com média de 4,7 anos por partido, Ciro coleciona farpas com ex-colegas

Ciro Gomes (centro) cumprimenta Carlos Lupi (dir.) ao se filiar ao PDT, em setembro do ano passado - Alan Marques/Folhapress
Ciro Gomes (centro) cumprimenta Carlos Lupi (dir.) ao se filiar ao PDT, em setembro do ano passado Imagem: Alan Marques/Folhapress

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

22/01/2016 06h00

A reunião do diretório nacional do PDT desta sexta-feira (22) será a primeira ocasião em que praticamente todos os principais líderes do partido irão se encontrar após a chegada da mais nova estrela da legenda: o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes. Conhecido pelo que ele mesmo chama de “inconstância partidária”, Gomes chega à sua sétima legenda alçado à condição de pré-candidato à Presidência da República em 2018, mas com uma curiosa média de 4,7 anos de permanência em cada partido e um rastro de farpas pontiagudas trocadas entre ele e seus antigos correligionários.

Ciro Gomes começou sua vida partidária em 1982 no antigo PDS, partido que sucedeu a Arena (Aliança Renovadora Nacional), legenda que sustentava politicamente a ditadura militar. Naquele ano, Ciro é eleito deputado estadual pelo Ceará. Em 1983, troca o PDS pelo PMDB, partido pelo qual ele foi eleito prefeito de Fortaleza em 1988.

Em 1990, Ciro troca o PMDB pelo PSDB e é eleito governador do Ceará. Em 1996, Ciro sai do PSDB e se filia ao PPS, partido no qual ele disputa (e perde) duas eleições presidenciais. Em 2005, Ciro muda novamente de partido, desta vez para o PSB. Em 2013, porém, Ciro Gomes deixa o PSB e vai para o Pros, partido no qual ele fica até setembro de 2015, quando Gomes migra para o PDT.

A “inconstância partidária” de Gomes é criticada por um de seus ex-colegas do PPS, o deputado federal Roberto Freire (SP). “Ele foi candidato à Presidência pelo nosso partido por duas vezes. Isso não é pouca coisa, mas não fomos tratados com o devido respeito. Quando rompemos com o Lula, ele preferiu ficar no governo e não respeitou a decisão do partido”, critica Freire, presidente nacional do PPS. 

O parlamentar é duro ao falar sobre a saída de Ciro Gomes do seu partido. “Ele não tem compromisso com nada que não seja o próprio interesse”, disse Freire. Em 2005, quando Gomes deixou o PPS, ele criticou a condução do partido feita por Freire alegando que o parlamentar dirigia o partido sem consultar as bases

Ciro Gomes e Roberto Freire em 2002 - Alan Marques/Folhapress - Alan Marques/Folhapress
Ciro Gomes e Roberto Freire em 2002 ao anunciarem apoio no segundo turno das eleições de 2002 para Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Imagem: Alan Marques/Folhapress

Outro que também critica a passagem de Ciro por seu partido é o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira. Por esta legenda, Ciro foi eleito deputado federal em 2010 e decidiu sair em 2013, quando a sigla optou pela candidatura à Presidência da República do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em agosto de 2014 em um acidente aéreo durante a campanha.

Siqueira critica a postura de Gomes ao deixar o partido sobretudo porque, segundo ele, o comando da legenda não pediu os mandatos dos parlamentares do grupo político de Gomes de volta. “Depois de acertarmos tudo, depois que a gente não pediu os mandatos, ele deu declarações bastante grosseiras sobre o Eduardo e sobre o partido”, disse Siqueira. À época, Gomes disse que Eduardo Campos era “oportunista” e um “zero completo”

Siqueira diz que a atitude de Gomes e outros integrantes de seu grupo político, que inclui seu irmão e ex-governador do Ceará, Cid Gomes, não corresponde a uma vida partidária. “Em certa medida, é um grupo que age como uma família. Tem suas lideranças e age de acordo com os seus interesses. Não são interesses de partido e a história deles mostra isso pelas sucessivas trocas de partido”, afirmou Siqueira.

Ciro Gomes e Eduardo Campos juntos em 2009 - Alan Marques/Folhapress - Alan Marques/Folhapress
Em 2009, o então deputado federal Ciro Gomes, à época filiado ao PSB, participou de almoço do partido com o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB)
Imagem: Alan Marques/Folhapress

A extensa ficha corrida de desentendimentos de Ciro com seus antigos correligionários não assusta o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, que o abriga agora. “Isso não me assusta nem um pouco. A vinda dele para o nosso partido é como o encontro do rio com o mar. Ele sempre teve uma afinidade ideológica com as bandeiras do PDT. Não acho que vamos ter problemas”, disse Lupi.

Apesar das declarações do presidente do partido, a chegada de Gomes já causou reações dentro do próprio PDT. O senador Cristovam Buarque (DF), criticou o status de “pré-candidato” à Presidência da República dado informalmente a Ciro Gomes. “O Lupi me rifou completamente. Ele resolveu que o candidato do partido será Ciro Gomes”, disse Cristovam, que cogitava lançar sua própria candidatura à Presidência.

A reportagem do UOL entrou em contato por telefone celular com a assessoria de imprensa de Ciro Gomes, mas foi informada de que, até a realização da reunião do diretório nacional do PDT, nesta sexta-feira (22), ele não dará entrevistas.